Violência
«Para conseguir o bem da paz é necessário afirmar, com consciente lucidez, que a violência é um mal inaceitável e que nunca resolve os problemas», lê-se na mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro.
Aí João Paulo II lamenta, «com amargura», o drama iraquiano que se prolonga. Ora construir a paz não é adoptar o pacifismo a Igreja sempre reconheceu a possibilidade de guerras justas. Só que são apertadas as condições para uma guerra poder considerar-se justa. A do Iraque não o foi.
Quando alguns católicos americanos manifestam uma atracção crescente pela força militar, são oportunas estas palavras de João Paulo II. Nos EUA há quem evoque, com saudade, o «Deus dos exércitos» e a ética guerreira do passado. Deve--lhes custar que o Messias não fosse o político poderoso que os judeus esperavam - nasceu humildemente e mostrou a face de um Deus que só tem a força do amor.
A chamada direita cristã americana, predominantemente protestante e fundamentalista (a mesma que defende a pena de morte, como parte dela defendeu a escravatura e a segregação racial), já seduz sectores católicos. Conviria que estes, sempre tão zelosos pela ortodoxia em matérias de moral sexual, reparassem no que o Papa diz sobre a paz.
Há 80 anos, os católicos conservadores europeus também sentiram a atracção do fascismo, que glorificava a violência e a guerra. Foi o caso da Action Française, de Maurras. Este não era crente, mas considerava a religião indispensável para pôr o povo na ordem. E admirava a instituição Igreja Católica. Tratava-se, no fundo, de uma forma de paganismo, que Pio XI condenou em 1926. Agora, João Paulo II insiste em que a força do direito deve sobrepor-se ao direito da força.
É, de novo, a mensagem evangélica contra o paganismo disfarçado de cristianismo.