Turbulência
Os tripulantes de cabina da TAP cumprem amanhã e no sábado dois dias de greve, que vão desorganizar, ou já desorganizaram, a vida a mais de 50 mil passageiros. A TAP já alterou 25 mil reservas, estando à procura de solução para encaixar mais 30 mil pessoas em voos alternativos. É a segunda greve a afetar a companhia aérea este ano, não havendo ainda prejuízos calculados. A primeira foi a dos pilotos, em agosto, e terá custado cerca de cinco milhões de euros à empresa. O arranque do segundo semestre deste ano foi particularmente turbulento para a companhia aérea portuguesa. O atraso na entrada ao serviço de seis novos aviões, ao mesmo tempo que se estrearam mais 11 rotas para a América do Sul e a Europa, baralharam os voos a tripulações, aviões e passageiros. Tudo isto - trabalhadores mais ou menos satisfeitos, greves, atrasos, imprevistos, balanços entre receitas e despesas - faz parte da vida das empresas. A TAP não é exceção. A exceção, neste caso, é a intenção de privatização desta empresa do Estado que nunca mais se decide. Há 14 anos, leu bem, 14 anos, no tempo em que António Guterres era primeiro-ministro, que a privatização da TAP vagueia como fantasma pela agenda de governos sucessivos. Em 2007 e, de novo, em 2011, já com Pedro Passos Coelho a chefiar o governo, a privatização da TAP voltou a ganhar fôlego. Entre avanços e recuos, mas inscrito no Orçamento do Estado para 2015, o assunto voltou a estar em cima da mesa, ontem mesmo, no México, levado por Paulo Portas e António Pires de Lima a um jantar com empresários mexicanos que valem, dizem as notícias, metade do PIB daquele país. Vale o que vale, porque continua por definir a única coisa que realmente importa aos potenciais investidores, aos trabalhadores e aos portugueses: como é que se vai vender a TAP. O governo continua a prometer relançar o processo de privatização até final do ano. Mas com eleições pelo meio, talvez já em maio, a grande probabilidade é que tudo fique como está. Ou melhor, que a turbulência de uma privatização, ou não, da TAP passe para o governo seguinte.