Ex-surfista profissional, Jack Johnson não é o mais famoso dos músicos e as suas canções não serão as mais ouvidas nas rádios portuguesas. Mas o facto é que, pouco depois de ser anunciada a sua visita a Portugal e de estarem disponíveis os bilhetes para o seu concerto, os mesmos esgotaram em pouco tempo. Hoje à noite, pelas 21.00, o músico apresenta-se ao vivo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para apresentar o seu mais recente álbum, In Between Dreams.
O apoio de Ben Harper no início da sua carreira foi determinante, mas Jack Johnson iniciou-se nas lides musicais muito antes, deixando-se influenciar pelo seu modo de vida e pelas referências que sempre o acompanharam. "Father and Son, de Cat Stevens, e One, dos Metallica, foram as primeiras canções que aprendi a tocar", revela o músico em entrevista ao DN. "Eu estava muito na onda do punk e do metal. Tinha uma banda no liceu, aos 14 anos, que tocava coisas como os Bad Religion, Fugazi ou os Suicidal Tendencies, mas à noite, no meu quarto, pegava na guitarra acústica e tocava canções do Cat Stevens, do Bob Dylan ou dos Beatles, coisas mais 'calmas'. Eu gostava dos dois estilos mas guardava o segundo só para mim".
Também a partir dos 14 anos, Jack Johnson deixou-se levar pela influência paterna (assegurada por Jeff Johnson, surfista de profissão) e pelo ambiente do Havai (sua terra natal) e embarcou numa carreira profissional "sobre as ondas". O surf passaria a ser parte integrante da sua vida e marcante na composição musical "O oceano pode ser uma grande influência, é uma coisa rítmica, ter que chegar ao topo da onda, depois ao fundo e ficar sempre em cima da prancha. Sinto uma grande relação em estar numa onda e ouvir ou tocar uma música. Ainda hoje, quando estou a surfar, ouço música na cabeça. Acabo letras dentro de água ou tenho ideias enquanto estou nas ondas. Muitas das partes mais interessantes das canções que fiz até hoje surgiram enquanto fazia surf.
Depois do liceu Kahuk, a universidade na Califórnia foi palco de estudo sobre cinema, uma "influência constante", diz-nos Jack Johnson. "O que a música significava para mim, enquanto estava a crescer, tinha muito a ver com filmes de surf, eu costumava vê-los de forma quase religiosa, estava sempre a fazer rewind para ver as partes dos meus surfistas favoritos. E, claro, depois de os ver partes tantas vezes, as músicas que as acompanhavam ficavam-me na cabeça, inevitavelmente". Esta paixão reflectiu-se em Thicker Than Water, documentário realizado pelo músico com o surf como objecto. Mais tarde (2002) seria editado um disco com o mesmo título, a banda-sonora do documentário.
Antes, em 2001, surgiu Brushfire Fairytales, disco de estreia de Jack Johnson. Ben Harper foi o produtor e fez-se acompanhar por Johnson em vários concertos. A proximidade estética entre as composições dos dois músicos foi rampa de lançamento para Johnson, que teve no público de Ben Harper um aliado perfeito. On and On (2003) e o recente In Betwen Dreams (2005) não apresentaram grandes mudanças em relação ao primeiro álbum. Continuamos a ouvir canções formatadas para uma noite na praia à volta da fogueira, uma guitarra acústica e pouco mais, com algumas (subtis) incursões pelo funk ou ritmos latinos. Mas esta parece ser a intenção de Jack Johnson, compor sem grandes ambições, satisfazendo apenas o seu simples desejo pessoal "Há quem diga que a minha música é relaxada. Não sei bem o que querem dizer com isso, mas se corresponder à ideia que tenho dessa mesma palavra é uma descrição justa. É essa a ideia que realmente tento passar, um sentimento de serenidade e despreocupação. Aquilo que faço é música 'feel good', nada mais, tem apenas o objectivo de fazer com que as pessoas se sintam bem".
Aparentemente, muitos correspondem a este sentimento. Sem ser um caso de sucesso massificado ou instantâneo, Jack Johnson conseguiu despertar o interesse de numerosos seguidores, e Portugal parece também fazer parte da lista. O músico diz não ter qualquer explicação para este interesse. Afirma que é " a pessoa mais surpreendida. No início apenas queria que as pessoas ouvissem a minha música, (pelo menos algumas pessoas). Mas quando a coisa começou a correr bem, perguntei-me 'mas quem é que está a comprar o disco sem serem surfistas?'. Acho que a melhor razão será a minha simplicidade. Deve ser algo com que as pessoas facilmente se identificam e conseguem personalizar as minhas canções, como se elas próprias as pudessem ter escrito. E sejamos realistas, até podiam, são coisas muito simples, sem qualquer dificuldade".