Serviços públicos
1. Sexta-feira, 23.00, horário nobre. A RTP1, estação de serviço público, emite Amor de dom perlimplim com belisa em seu jardim, uma peça de teatro escrita pelo dramaturgo Frederico Garcia Lorca e levada à cena por Heitor Lourenço e Melânia Gomes, entre outros actores portugueses. Primeiro comentário: saúde-se a decisão de Hugo Andrade, o novo director de programas do canal, que, ao dar visibilidade televisiva ao teatro, está a fazer real serviço público. Segundo comentário: apenas 166 mil espectadores viram o programa, o equivalente a 6% dos portugueses que viam televisão àquela hora. A esmagadora maioria preferiu ver as novelas da SIC e da TVI, remetendo a RTP1 para uma quota de mercado ao nível da RTP2. Será este o cenário que se deve esperar quando a RTP1 foi privatizada e ficar apenas um canal de serviço público? Teremos poesia e teatro em horário nobre? E uma audiência residual, com serviço público mas sem público para o ver?
2. Estado de Graça chegou ao fim. Mas, de acordo com o que o DN revelou sexta-feira, volta em Setembro. Ainda bem. Aqui a decisão é ainda de José Fragoso, que já deixou a RTP e já assumiu funções na TVI. O programa de humor de Ana Bola, Maria Rueff, Joaquim Monchique, Manuel Marques e Eduardo Madeira foi o mais bem sucedido formato do género exibido na televisão pública. O melhor e o que teve melhores resultados, com uma média semanal de quase 700 mil espectadores (mais 300 mil nas repetições) e um share de 20%. Eis a prova como o humor inteligente, captado na realidade dos dias, pode ser popular sem ser popularucho. Serviço público, claro.