Sentença

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Líbia, Afeganistão, Moçambique, Sudão, São Tomé e Príncipe. O que têm em comum? São países com companhias aéreas proibidas de operar no espaço europeu. E também são companhias detidas pelo Estado. Apesar de muito mais longa, a lista de companhias aéreas que ainda são propriedade exclusiva de Estados não inclui linhas aéreas europeias - com exceção para a TAP. A nossa companhia pode ser extraordinária - em capacidade de adaptação à crescente procura, em preocupação com o cumprimento da segurança - mas quanto tempo mais conseguirá sê-lo sem poder ir buscar um cêntimo ao seu acionista? Quando as regras europeias ditam que nenhum Estado pode subsidiar uma companhia aérea, quanto tempo de sobrevivência terá a TAP se se mantiver nas mãos do governo português, com uma frota envelhecida e insuficiente para acompanhar as crescentes rotas e número de passageiros? Os mais de dez mil trabalhadores da TAP sabem que o prazo é apertado. Mesmo os pilotos grevistas o sabem - o protesto que hoje termina nunca foi contra a venda, mas pela vontade de mandar um bocadinho numa empresa que sairá da privatização necessariamente muito mais forte e mais valorizada. Mesmo o líder do principal partido da oposição não contesta a alienação, mas a percentagem a dispensar da companhia. "Espero que ninguém pense comprar mais de 49%", disse ontem António Costa. Estará o governo errado ao querer vender a maioria do capital? É uma questão de perspetiva. A pergunta devia ser feita ao contrário: estará alguém disposto a comprar uma companhia aérea sabendo que estará a assumir uma empresa com uma dívida de 1060 milhões de euros, com uma necessidade urgente de recapitalização, e sem deter uma percentagem que lhe garanta que mandará nos destinos da empresa? Uma coisa é certa: manter a TAP como companhia exclusivamente de capitais públicos é sentenciá-la a um destino negro: definhar e morrer.

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