Regresso ao futuro

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Afinal, o TGV Lisboa-Madrid avança. Com importantes modificações, é certo, mas é importante constatar que, uma vez mais, quando estamos perante opções políticas, as coisas nunca são a preto ou branco - o que existe são várias gradações de cinzento. O Tribunal de Contas vai ter de pronunciar-se sobre o novo projeto negociado com Bruxelas, que contém duas modificações de monta.

A primeira prende-se com o calendário de realização da obra. A segunda resulta num perfil de cofinanciamento europeu bem mais generoso do que aquele que existia no projeto anteriormente existente. Todos terão presente como o TGV Lisboa-Madrid foi erigido como pomo de disputa política nas eleições legislativas de 2009. A degradação posterior das finanças públicas parou a execução, que começava a dar os primeiros passos, e remete agora a obra para o período posterior à vigência do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF) 2011/2014.

No âmbito de um novo programa no quadro comunitário 2014/2020 é que a comparticipação de vários fundos europeus pode reduzir a parte nacional do custo final da obra a 15%. Mas não se inventou agora a roda ao dar a prioridade ao transporte de mercadorias em linha de bitola europeia do porto de Sines até Madrid. Essa função era elemento constitutivo essencial do projeto inicial. Quanto a ele, o adiamento da obra nuns cinco anos representa fator limitante para uma expansão porventura ainda mais forte do que aquela que tem vindo a ser conseguida pela Administração do Porto de Sines para aquela que é a maior porta de entrada de mercadorias do País.

A linha de passageiros continua a ser considerada deficitária pelos atuais governantes e, por conseguinte, a evitar. Por enquanto. Quando a linha estiver construída é quase certo que os cálculos de rentabilidade voltarão a estar na berlinda. E o País, como sempre, a perder tempo.

Desafio à Primavera Árabe

Uma personalidade da oposição tunisina, Chokri Belaïd, foi ontem assassinada a tiro à saída de sua casa. É o primeiro assassínio político desde a queda do regime de Ben Ali, em janeiro de 2011, mas não foi o primeiro incidente violento em dois anos de democracia. A situação tem sido marcada por profunda tensão entre o campo islâmico e o laico.

Após a morte de Belaïd, numa intervenção no Parlamento Europeu, o Presidente tunisino, Moncef Marzouki, colocou a questão em termos claros: o passo seguinte das Primaveras Árabes tem de ser a vitória da democracia e a derrota do extremismo islamita. O desafio coloca-se à Tunísia e aos restantes países a viverem transições. Processo que está "a ser mais difícil, mais complexo e, sobretudo, mais longo do que o previsto", disse Marzouki.

O dilema centra-se na questão de saber se estas sociedades, após regimes tirânicos e autoritários, vão encontrar o equilíbrio entre as reivindicações do islão político e as do campo laico, liberal ou de esquerda. Da construção desse equilíbrio vai depender o pluralismo e a democracia. Se esse equilíbrio não for encontrado, a alternativa será novo desvio autoritário e a inviabilização de tudo aquilo por que já foi pago um alto preço de sangue. A resposta do poder político em Tunes indica estar consciente deste desafio.

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