Excelente qualidade/preço
Por vezes, nós os críticos metemo-nos em discursos masturbatórios que parecem exclusivamente dirigidos a nós próprios, falando de vinhos impossíveis de arranjar, com preços proibitivos ou com produções virtuais. Há que reconhecer que se trata de uma tentação, pois habitualmente é nesses nichos que se encontram os vinhos mais interessantes. Mas não podemos esquecer que nos dirigimos a consumidores de to-do o tipo, em que um dos elementos mais relevantes a considerar é a relação qualidade/preço.
Nesse sentido, a Revista de Vinhos, onde escrevo há dez anos, faz regularmente provas de vinhos por diferentes faixas de preço. É frequente encontrar nos primeiros lugares um vinho do Ribatejo, de uma das casas mais emblemáticas da região, o Quinta de Lagoalva Castelão & Touriga. Esta é uma proposta difícil de melhorar, pois tem tudo na conta certa, até o preço.
Localizada a cerca de dois quilómetros de Alpiarça, a Quinta da Lagoalva de Cima estende-se ao longo da margem sul do rio Tejo, por aproximadamente 5500 hectares, dos quais só 60 são de vinha plantada em solos arenosos, típicos da charneca, com castas tradicionais nacionais, juntamente com outras internacionais como Cabernet Sauvignon, Tannat, Syrah e Chardonnay. Nalguns casos foram mesmo pioneiros, como no caso da Syrah, que dá origem ao que , para mim, é o melhor vinho feito no Ribatejo, o Lagoalva de Cima Syrah.
A empresa tem duas marcas de referência, que correspondem a patamares diferentes Quinta de Lagoalva, onde há este Castelão Touriga, um Reserva Tinto e um Branco de original apresentação. E Lagoalva de Cima numa gama superior, onde tem tintos (Syrah, Alfrocheiro Preto e um Tinta Roriz & Touriga Nacional); ebrancos(Alvarinho & Chardonnay e Arinto & Chardonnay).
Do seu portfólio de produtos, optei sem hesitar por este Castelão Touriga 2002, que é uma alternativa excelente para o dia-a-dia, com bastante quantidade no mercado e tendo a seu favor o tal preço atractivo. Convém salientar que a minha classificação sobre 20 é em termos absolutos, porque se fosse numa escala proporcional ao preço, seria consideravelmente mais alta.
Nota de prova Boa cor, com aromas atractivos de boa fruta, mas igualmente com alguma complexidade, dada pela parcial utilização de madeira usada em parte do lote. Na boca, tem grande equilíbrio (acontece com frequência neste perfil de vinhos serem excessivamente doces, o que não é o caso). Acidez correcta e um final que persiste de forma agradável. Um tinto versátil, a não perder. (15/20)