Navegar é preciso
A desajeitada proposta de Hollande/Valls, que junta mais lenha na perigosa fogueira europeia, só veio provar que, no horizonte do visível, é nesta "coisa" (para citar uma expressão do Dr. Schäuble) da "Europa alemã" que estamos condenados a viver. O que pode e deve fazer um país como Portugal? Não existe outro caminho a não ser o de mergulharmos dentro de nós próprios em busca do nosso melhor, percebendo que a unidade nacional é hoje uma questão de sobrevivência. Mas uma unidade nacional que terá de ser lúcida e inteligente, fundada em políticas públicas que sejam sábias e realistas, correspondendo ao interesse coletivo num horizonte estratégico, e não a vantagens e ganhos de fação no curto prazo. Amanhã, ao final da tarde, na Fundação Gulbenkian serão apresentados os dois volumes contendo os resultados de uma conferência realizada em outubro de 2014, "Afirmar o Futuro - Políticas Públicas para Portugal". São mais de 700 páginas sobre áreas críticas da nossa vida coletiva, do emprego ao ambiente e desenvolvimento sustentável, da segurança social à saúde e à economia real. Várias dezenas de autores, todos conhecidos pelo seu domínio das matérias versadas, oferecem diferentes, mas sempre fundamentados, diagnósticos e propostas. Os erros no desenho e na execução de políticas públicas podem ser da responsabilidade de poucos, mas as suas consequências são sofridas por quase todos, e são, de facto, todos aqueles que são convocados para pagar o preço desses erros. As más políticas públicas são também sinal da deficiente qualidade de desempenho das instituições democráticas onde essas políticas são geradas. Na véspera de novas eleições, possam estes livros inspirar tanto uma cidadania mais participativa como uma governação mais esclarecida.