Muro de Berlim

Publicado a
Atualizado a

O euro e o projeto europeu podem estar a 24 horas de sofrer um abalo sísmico que confirma todas as piores suspeitas - há Alemanha a mais, Europa a menos - e, no entanto, pouco ou nada se fala em Portugal desse acontecimento que tem como ponto de partida o Banco Central Europeu, vergado pela ortodoxia de Berlim. Quando se diz que somos um país periférico, sentimos o enxovalho, a diminuição política que essa qualificação pejorativa representa. Percebemos como Portugal é marginalizado na tomada de decisões e como isso contribui para tornar ainda mais difícil a recuperação económica. O que o BCE se prepara para fazer amanhã é encurralar ainda mais Portugal e demonstrar que não há realmente moeda única, há um câmbio fixo a que chamamos euro por conveniência e convenção, mas que por trás não tem um banco central que assume e partilha os riscos, como devia ser numa genuína união monetária. O que Mario Draghi anunciará amanhã, segundo o Financial Times, é não apenas uma versão aguada do famoso quantitative easing, é muito pior do que isso, é um muro, o novo Muro de Berlim, que criará formalmente europeus de primeira (os ricos) e de segunda (os outros, nós). Segundo as informações mais recentes, o BCE anunciará que comprará dívida pública (o tal quantitative easing) para combater a inflação e estimular a zona euro. Contudo, pressionado pela Alemanha, deixará explícito que a dívida ficará nos balanços de cada banco central. O que significa o seguinte: todas as obrigações compradas a Portugal serão da responsabilidade do Banco de Portugal, isto é, do Estado português. Se um dia alguma coisa correr mal, não há nenhuma partilha de risco entre os 19 parceiros do euro. Cada um pagará a sua conta. O escudo está, portanto, vivinho da silva: vestiu-se de europeu, tornou-se uma moeda cara, é apenas uma ficção monetária ditada pela conveniência made in Germany.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt