Katy Perry

Katy Perry inicia em Lisboa a digressão onde apresenta o seu Teenage Dream. Esta noite, no Campo Pequeno, vai provar o que vale e mostrar porque é um dos grandes fenómenos da música pop actual.
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Poucos serão aqueles que ainda não se cruzaram com uma das várias canções de sucesso da norte-americana Katy Perry. E ainda menos poderiam imaginar que a cantora que se revelou ao mundo com um single intitulado I Kissed A Girl (em português «Beijei Uma Rapariga») e que até chegou a ser censurada num episódio do programa infantil Rua Sésamo, foi descoberta enquanto cantava no coro da igreja, tendo mesmo gravado um álbum de música gospel aos 17 anos (assinando Katy Hudson), quando ainda ninguém imaginava que viria tornar-se uma verdadeira sex symbol da música pop actual.

A verdade é que, apesar de actualmente se encontrar casada com um humorista britânico ex-toxicodependente, Russell Brand, e de aparecer seminua na capa do seu último álbum, Teenage Dream (2010), Katy Perry é filha de dois pastores evangélicos e cresceu em Santa Barbara, no estado da Califórnia, EUA, no seio de uma família cristã. Aliás, foi na igreja que a cantora descobriu que era na música que queria singrar. E batalhou para atingir o estatuto a que chegou. Além de ter saído da casa dos pais aos 17 anos, assinou contratos com duas grandes editoras e aos 20 anos a revista Blender já a anunciava como «a grande promessa» da música pop. No entanto, acaba por ser dispensada pela editora de então, Columbia Records. Pouco depois consegue emprego numa pequena editora em Los Angeles: «Foi o momento mais deprimente da minha vida, enfiada num cubículo a ouvir a pior música de sempre, sem dinheiro, a passar cheques sem cobertura, ter de andar com um carro alugado e, no meio disto tudo, tinha de tentar dar uma crítica construtiva a cantores a quem só me apetecia gritar», contou ao The Guardian.

No entanto, acaba por conseguir editar pela Capitol Music um EP no final de 2007, com o curioso título Ur So Gay. Como muitos outros fenómenos da última década, foi a internet que possibilitou a Katy Perry dar o salto para o mercado mainstream que tanto ambicionava. Basta lembrar nomes que hoje esgotam salas de espectáculos um pouco por todo o mundo, como por exemplo Arcade Fire (que este Verão serão um dos cabeças de cartaz do festival Super Bock Super Rock), Lily Allen ou Arctic Monkeys. Foi precisamente através da Internet que a canção Ur So Gay começou a criar um burburinho à volta de Katy Perry. Se uns elogiavam a cantora pela sua postura irreverente e provocatória, outros acusavam-na de transmitir uma mensagem homofóbica com a referida canção. A missão estava cumprida, o nome de Katy Perry estava nas bocas do mundo e a própria Madonna elogiou o tema durante uma entrevista à estação de rádio KRQ 93.7. Todavia, isto não impediu que mais tarde Katy Perry viesse a criticar a tão aclamada rainha da pop pela forma como esta aborda a espiritualidade nos seus espectáculos: «Para mim, a espiritualidade é qualquer coisa de muito importante e não gosto quando as pessoas a encaram com ligeireza. Por vezes não compreendo por que razão alguns artistas jogam esse trunfo, como quando Madonna se põe numa cruz para cantar», terá declarado Perry ao tablóide The Sun, segundo a MTV.

Provocadora e cartoonesca

Certamente não foi a pensar na espiritualidade que a cantora lançou um segundo trunfo, depois de Ur So Gay. A canção I Kissed A Girl voltava a jogar com as políticas de género. Os mais conservadores criticavam-na por «promover» a homossexualidade. Já as associações a favor dos direitos LGBT (lésbica, gay, bissexual e transgénero) referiram que a canção propagava os estereótipos das fantasias masculinas e contribuía para a objectivação da mulher. Toda a controvérsia à volta do tema permitiu que se tornasse um sucesso instantâneo, liderando os tops de vendas em mais de trinta países e vendendo, só nos EUA, mais de três milhões de downloads.

Como qualquer grande estrela pop do momento, em público Katy Perry encarna uma persona não só provocadora, mas algo cartoonesca, como se pode comprovar num dos seus mais recentes telediscos, para o tema California Gurls, utilizando um imaginário reminiscente do clássico Alice no País das Maravilhas, mas onde acaba com um soutien feito de latas de chantilly utilizado como arma de arremesso contra o rapper Snoop Dogg. Aliás, apesar das controvérsias que gerou, ao contrário de outro fenómeno de grandes dimensões como Lady Gaga, a imagem de Katy Perry nunca se tornou ameaçadora, vestindo sempre papéis tipicamente femininos que, ocasionalmente, comportam uma dose de subversão. À Harper"s Bazaar definiu o seu look: «Quando falamos das minhas escolhas de moda acho que sofro de múltipla personalidade, no bom sentido.»

Foi assim desde que editou o primeiro álbum, One of the Boys (2008) até ao mais recente, Teenage Dream (2010), que vai apresentar esta noite no Campo Pequeno, em Lisboa. Foi enquanto gravava este último trabalho que Katy Perry acabou por se relacionar com o actor britânico Russell Brand, casal que faz as maravilhas dos tablóides. Não é caso para menos. Ela é uma das mais bem sucedidas cantoras pop da actualidade que, apesar da educação religiosa, hoje posa com muito pouca roupa para publicações como a Esquire ou a Rolling Stone. Ele, além da carreira como comediante, acabou por dar que falar pelo vício em heroína e de ter-se convertido ao hinduísmo.

«É muito Rock, Meu!»

O casal conheceu-se em 2009, durante uma cena do filme É muito Rock, Meu!, de Nicholas Stoller, em que tinham de dar um beijo. A cena acabou por ficar fora do filme, mas mais tarde voltaram a encontrar-se numa cerimónia dos MTV Video Music Awards e pouco depois estavam casados. Apesar do passado conturbado de Russell Brand, a cantora afiança que a relação dele com os seus pais não poderia ser melhor: «A minha mãe adora-o e o meu pai revê-se imenso nele», contou ao The Guardian.

Aliás, a educação religiosa que Katy Perry teve, com um acesso bastante restrito a tudo o que era cultura pop, não a impede de afirmar que os pais são um pouco «excêntricos» e que vivem «no seu próprio mundo». A própria cantora adopta esses paradoxos na sua carreira e na forma como expõe a sua persona publicamente: «Sou uma boa rapariga porque acredito no amor, na integridade e no respeito. Sou uma má rapariga porque gosto de provocar», disse à Harper"s Bazaar. Foi certamente com esse intuito provocatório que ainda no ano passado compareceu num dos episódios do programa infantil Rua Sésamo com um vestido um pouco decotado. Quatro dias antes de ir para o ar, a produtora que realiza o programa anunciou que o segmento em que Katy Perry fazia um dueto com a personagem Elmo tinha sido retirado devido às muitas queixas que receberam de pais que consideravam que a roupa utilizada pela cantora não era apropriada num programa infantil. Este acontecimento só ajudou a que se falasse ainda mais da cantora, numa altura em que tinha acabado de lançar o seu segundo álbum de originais, Teenage Dream. Mais tarde, esta polémica foi recuperada no programa Saturday Night Live através de um sketch humorístico protagonizado pela própria Katy Perry.

Ainda assim, apesar de algumas canções onde expõe a sua sexualidade e das várias produções fotográficas onde aparece em roupas diminutas, há um lado da personalidade de Katy Perry que continua bastante ligado à sua educação religiosa. De recordar que no Verão passado, apenas algumas horas depois de Lady Gaga ter estreado mundialmente o teledisco para a canção Alejandro (onde se vê a cantora a engolir um crucifixo e a simular actos sexuais), Katy Perry declarou na sua página oficial do Twitter (www.twitter.com/katyperry) que considerava esse vídeo uma «blasfémia». Aliás, a própria cantora confessa que várias das suas canções têm uma moral que quer transmitir, inclusivamente o single California Gurls (aquele em que no vídeo aparece com um soutien feito de latas de chantilly utilizadas como armas): «Não podes abusar porque no final vais ter problemas», disse ao New York Times.

Todavia, fala sem pudores da adolescência e dos problemas que enfrentou com a aparência física, tendo mesmo considerado na altura fazer uma operação de redução do peito: «Tinha seios enormes e não sabia o que fazer com eles, por isso usava soutiens redutores para os tornar mais pequenos, que não eram nada giros. Gozavam comigo... Mal eu sabia que estas "coisas" me dariam jeito um dia», contou recentemente à edição norte-americana da revista Elle.

Sucesso em Glee

O fenómeno em torno de Katy Perry e da sua música é tão intenso que várias das suas canções têm sido utilizadas na série musical Glee (exibida em Portugal no canal por cabo FOX Life), uma das produções televisivas mais bem sucedidas dos últimos anos. Ainda no episódio especial na final do Super Bowl um grupo de cheerleaders aparece na série imitando a cantora e dando voz ao tema California Gurls. Num outro episódio um grupo de rapazes de colégio interpretava na série a canção Teenage Dream.

A cantora distingue-se, ainda assim, de outros fenómenos pop de sucesso, uma vez que, apesar de contar com a ajuda de produtores, é a própria Katy Perry que compõe os seus temas. Por detrás do mundo de fantasia criado pela indústria que a sustenta existem canções com uma certa dose de realismo que tentam explorar as emoções adolescentes. É o próprio vice-presidente de marketing da EMI, que agrupa a editora Capitol, que refere ao jornal New York Times o nível de independência da cantora e o controlo que tem da sua carreira: «Se há algo que ela não quer, não acontece. Ela é a presidente da Katy Perry.»

Todavia, ao vivo a cantora não deixa de criar um espectáculo na verdadeira acepção da palavra, onde o imaginário fantasioso é privilegiado para dar uma nova vida às canções dos seus dois álbuns. Lisboa foi a cidade escolhida para dar início à digressão de promoção de Teenage Dream, que se estende até Novembro: «Tenho de trabalhar o máximo que puder. Treze horas por dia, cinco, seis dias por semana, e no final continuar a cantar. Porque a qualquer momento está alguém atrás de mim pronto para me atirar pelas escadas abaixo», afirmou ao Guardian.

DISCOGRAFIA

One of the Boys (2008)

Lançado no Verão de 2008, este foi o primeiro álbum da cantora, se não tivermos em conta o disco de gospel que gravou sete anos antes como Katy Hudson e que foi um verdadeiro flop de vendas. One of the Boys vendeu mais de cinco milhões de cópias em todo o mundo e atingiu a marca de platina em países como os EUA, Reino Unido, Irlanda ou Canadá. Dele foram retirados singles como I Kissed A Girl, Hot N" Cold ou Waking up in Vegas.

Teenage Dream

Só na primeira semana em que foi colocado à venda, o segundo álbum de Katy Perry vendeu 192 mil cópias nos EUA. O disco manteve o sucesso do seu antecessor, tendo já ultrapassado a marca dos cinco milhões de exemplares vendidos mundialmente. Teenage Dream foi nomeado para a categoria de Álbum do Ano e de Álbum Pop do Ano nos Grammys. Contém singles como California Gurls, Firework ou Teenage Dream.

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