Jornalismo
Os jornalistas devem dar notícias, não serem eles próprios tema de notícia. Esta regra saudável não é absoluta. Acontecimentos recentes trouxeram o jornalismo para a ribalta - porventura pelas más razões, mas é um facto. Aliás, na sociedade mediática que é a nossa seria estranho que o jornalismo não fosse discutido. Tal implica, por exemplo, que nós, jornalistas - que criticamos toda a gente -, aceitemos ser criticados.
Alguns correspondentes estrangeiros em Lisboa criticaram o jornalismo português num debate na Universidade Lusófona (em que não participei: apenas li nos jornais). Concordo com muitas dessas críticas, que são úteis para melhorar a nossa informação. Mas, sem qualquer reflexo corporativo, julgo ser justo olhar também o outro lado da moeda.
Se comparamos a informação da RTP com a de outras televisões públicas europeias - como a espanho- la - verificamos que em Portugal há maior independência face ao poder político. Como há no jornalismo em geral, quando confrontado com o que se faz em França. Os nossos jornais sensacionalistas são maus? É verdade, mas os tablóides britânicos são bem piores ainda. E o New York Times e o Washington Post penitenciam-se por terem aceite sem espírito crítico as justificações de Bush para invadir o Iraque. Quase não temos autêntico jornalismo de investigação, decerto, mas por falta de recursos. E se cá, como lá fora, há infelizmente decadência deontológica na informação, tal deve-se menos aos jornalistas do que às exigências comerciais das empresas de media.
P.S. - O Parlamento aprovou uma autorização legislativa sobre arrendamento urbano (embora muito pormenorizada), devendo agora o Governo redigir os respectivos diplomas. O texto final ainda não existe, contra o que poderia dar a entender esta coluna no dia 24.