João Rendeiro

Um banqueiro que respira arte contemporânea.
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João Rendeiro é um dos maiores coleccionadores de arte contemporânea em Por tugal. Criou a Fundação Ellipse, que tem já um papel de relevo internacional. Compra arte, mas não a faz. O seu lado artístico vê-se nos números.

A beleza da paisagem da ria de Aveiro levou João Rendeiro a comprar há anos o seu primeiro quadro. De um autor desconhecido. Uma pintura figurativa. Comprou-o com a única função de decorar uma parede. E não é assim que começam a maior parte das colecções? O banqueiro, fundador e presidente do Banco Privado Português, não estabelece um marco que indicie o arranque da sua faceta de coleccionador de arte.

O dinheiro, claro, ajuda nesta ar te, porque também é arte, de coleccionar. Mas garante que tem, muito, a ver com gosto. "Uma pessoa com dinheiro pode fazer muitas coisas, comprar outras coisas, como barcos, aviões." João Rendeiro optou por comprar arte. Ele, a título pessoal, o banco que fundou e a fundação (Ellipse Foundation) que criou.

Quantas obras ao todo? Não consegue quantificar. Vai desfiando: o banco tem cerca de 200 obras de arte (pinturas, desenhos, mobiliários), o espólio da fundação integra 600 peças de 160 artistas e a sua colecção privada "várias centenas, não as conto", em que se incluem esculturas, fotografias, pinturas. Valores atribuídos às colecções não revela. Diz apenas que as 600 obras da fundação têm um valor de aquisição de 30 milhões de euros, montante já valorizado pelo mercado.

Garante, no entanto, que não compra arte por uma questão de investimento, nem está a pensar se vai valorizar. Embora assuma que, para a colecção privada, opta pelos grandes artistas internacionais. "As obras portuguesas têm a posição normal dentro de uma colecção internacional." Em casa, pode-se ver muitos internacionais, mas no banco consegue-se perceber a opção pelos portugueses, isto na pintura.

No desenho são mais estrangeiros, que, segundo Rendeiro, compõem uma colecção "muito valiosa e de grande qualidade", estando, mesmo, a ser prepa rada uma exposição, para breve, num museu internacional, mas não adianta mais sobre o assunto. Também em relação ao banco garante que não compra arte para investimento. "Se quisermos investir vamos aos mercados financeiros, que é a nossa arte. Tudo o que seja fora desses circuitos tem uma função patrimonial."

Garante, contudo, também que no total dos activos do banco a arte tem um peso reduzido, mas importante. Basta olhar à volta. João Rendeiro recebe o DN numa sala de visitas contígua ao seu gabinete no banco. Os móveis são antigos, os quadros contemporâneos, mas tudo com requinte e de colecção. Destoa um telefone muito actual. Esta é a sala dos momentos importantes e dos clientes mais relevantes. "É frequente que as reuniões mais reservadas sejam aqui", sob o olhar de dois pintores - Pires Vieira e Pedro Calapez. No gabinete, a atenção vai para o "improvável" de Pedro Cabrita Reis, para o "avisado" de Julião Sarmento ou para o "nostálgico" de António Sena.

O banco respira arte. "São colecções que marcam o estilo da instituição, o culto do bom gosto e do bem feito. São para nós uma inspiração e um exemplo." Elitista? "Certamente que é, mas não tenho nada contra as elites, queria é que fossem cada vez melhores e empurrassem para cima." Cita Kennedy para explicar que se a maré subir, todos os barcos sobem.

João Rendeiro não sabe, nem quer, teorizar sobre a história de arte, escolhe os quadros pelos artistas e pelo gosto. É o banqueiro que os escolhe e, para a sua colecção privada, opta essencialmente pelos leilões internacionais. Nunca assistiu a nenhum. Selecciona as obras antecipadamente, fixando um intervalo de preços. Já a colecção do banco é composta por quadros adquiridos, na maioria, em galerias de arte. Aproveita para nomear a galeria de Cristina Guerra, "uma mulher de grande mérito e coragem", que deu um grande empurrão no início da colecção. Agora, já trabalham com várias galerias. E "há uma avalanche de propostas que nos chegam".

Mantém um relacionamento pessoal com parte dos artistas coleccionados. Mas torna-se difícil, por vezes, não se comprar aquele quadro daquele amigo. "Mas respeita-se mais um amigo, por vezes, não comprando, do que comprando por caridade." Nesta relação com a arte, foge à nomeação dos seus artistas preferidos. O período que colecciona é que não deixa dúvidas. Arte contemporânea. "É a dos nossos dias, a que vivemos. Os artistas relatam o mundo de hoje."

No fundo, o mesmo que o levou a comprar como primeiro quadro o retrato da ria de Aveiro, onde tinha ligações familiares. A pintura, essa, está noutras mãos. "Já não o tenho."


- Presidente do Banco Privado Português e da Fundação Ellypse

- Tem 55 anos

- Licenciado em Economia, pelo ISEG. Doutorou-se em Business Economics na Universidade de Sussex, em Inglaterra

- Presidente da Fundação Luso-Brasileira e da Associação Empresários pela Inclusão Social

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