Indemnizações
Os valores anunciados na primeira página desta edição e em notícia de- senvolvida no caderno de Economia (pág. 8) deveriam deixar contentes as pessoas que gostam da felicidade dos outros. Há em Portugal quem, ao deixar de trabalhar numa empresa, receba indemnizações de milhões. E milhões não da velha moeda mas de euros! Cinco administradores da Por- tugal Telecom (PT) - empresa privada, mas em que o Estado português, por causa da sua pequena mas dourada participação, tem influência na escolha das administrações -, cinco portugueses, pois receberam por junto à volta de 10 milhões de euros, em 2006, quando deixaram de ser administradores.
O DN conheceu esses números através de relatórios da própria PT. Uma fonte desta adiantou que a em- presa não era obrigada por lei a divulgar aqueles valores, mas que o fazia por uma questão de transparência. Estranha-se que se saliente o facto, porque geralmente a generosidade costuma ser propagandeada, não justificada.
A verdade é que tanta sorte de tão poucos causa inevitavelmente a inveja do País inteiro, onde não é comum a distribuição de tamanho bodo a quem deixa de trabalhar numa empresa. A PT no seu relatório classifica de "in- demnizações" a razão daquelas verbas. Foi um pouco imprudente a palavra, porque está conotada com um hábito através do qual há suspeitas de que uns quantos felizes - os administradores - se organizam para manter e expandir a sua felicidade. Já alguém chamou a isso a mania nacional da indemnização.
Defina-se essa tal indemnização. Nas empresas públicas portuguesas é comum que um quadro superior que queira ir embora porque arranjou emprego noutra empresa (e por vezes noutra empresa pública) receba a tal indemnização. A lógica levaria à pergunta: mas se é ele que quer ir embora, porque se tem de lhe pagar para ir embora? A resposta é fácil: o administrador que fica não paga ao que parte com o seu dinheiro. Ele não é patrão, o dinheiro é de todos nós. O administrador que fica paga com cobiça a prazo. Amanhã será ele o beneficiado, também terá a sua indemnização.
O caso da PT é diferente, não é uma empresa pública. E a indemnização foi paga aos cinco administradores, não porque eles pediram para sair (foram substituídos), mas para que eles não fossem trabalhar para a concorrência. O caso é diferente, mas, provavelmente, os accionistas da PT gostariam que aquelas verbas acima referidas não fossem tão extraordinárias e tão parecidas com despesismo público.