Ficar em casa
O acrónimo pelo qual vai ser conhecido, PCHI, tem aquele mau gosto costumeiro que os funcionários dão aos projectos, mesmo aos que são bons. E este é, sem dúvida, bom. A ideia, quando se lhe lê o nome por extenso - Programa Conforto Habitacional para Pessoas Idosas -, adivinha-se qual é. Como o DN explica, trata-se de guardar os velhos na sua própria casa. A que conheceram toda a vida, e, por vezes, a única.
O PCHI, decidido no mês passado pela Secretaria de Estado da Segurança Social, dá os primeiros passos no interior rural e quase vazio, em Bragança. Até ao fim do ano, a experiência vai ser alargada à Guarda e a Beja, antes de ser estendida ao País.
Quando se diz que a província se desertifica, esquecemo-nos de que nem todos partem. Os mais velhos, pela ordem natural das coisas, são menos dados a ouvir o apelo da emigração ou das cidades. Mas deixando-se ficar para trás, sozinhos e longe da família, por quererem guardar os hábitos antigos, como que se condenam a perder a ligação com o seu hábito mais antigo, aquele que os prende à habitação.
As casas, sem gente jovem, não se regeneram. O que resta aos idosos, quando a sua fragilidade se torna maior e não conseguem aguentar a sordidez dos seus domicílios, é recolherem aos lares colectivos. Fazem-no certamente com dor, não é preciso grande imaginação para o saber, basta um pouco de compaixão. O PCHI encontrou a solução que não leva a essa ruptura.
Em trabalho conjunto da Segurança Social, que dá os recursos materiais, e as autarquias, que coordenam o apoio, as casas dos idosos são melhoradas e adequadas para servirem pessoas que vão ficando com menores condições de mobilidade.
É o tipo de solução solidária de que todos percebem as vantagens. O simples facto de haver quem fique nas vilas e aldeias, condenadas se assim não for ao abandono, serve o país. Que este gaste algum do seu dinheiro com esses velhos, não é só generosidade pois é investimento com retorno.
Nos doze concelhos transmontanos, 137 casas (correspondendo a pelo menos esse número de idosos) serão melhoradas por um valor médio de 3500 euros, cada uma. Para um país que já distribuiu tanto subsídio a jipes agrícolas que nunca pisaram outro asfalto que não fosse o urbano, é, por uma vez, dinheiro bem gasto.
E, se quisermos ser cínicos, é dinheiro que respeita os interesses de quem vota. Como todos os países europeus, Portugal torna-se cada vez mais velho. É prudente que quem manda sirva aqueles que o elegem.