Festivais de Verão

Como sobreviver à angústia de ver os filhos «desaparecer» nas férias para tantos concertos. Dicas para viver os festivais sem correr riscos.<br /><br />
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Porque é que há tantos festivais musicais de Verão no nosso país? Se analisarmos os dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2008, só em espectáculos de entretenimento houve 11,1 milhões de espectadores. Em 2000, o número rondava os três milhões. Houve um claro crescimento no mercado dos espectáculos de entretenimento em Portugal e, com ele, também cresceram os festivais de Verão, que hoje se multiplicam pelos vários cantos do país. E todos os anos vão surgindo novos eventos. Neste Verão de 2010, terão as suas primeiras edições o Festival Alentejo (em Évora, com Peter Murphy como cabeça-de-cartaz) ou o Milhões de Festa (em Barcelos, estando já confirmada a actuação dos The Fall).
As marcas apoiam entusiasticamente os festivais. Este crescente apoio não surge por mero acaso. Jwana Godinho, da promotora Música no Coração, aponta uma hipótese: «Nos últimos anos houve uma quebra muito grande na venda de discos e no mercado discográfico, mesmo que agora não seja a um ritmo galopante como já foi.
E talvez por isto as marcas que dantes investiam em discos viraram-se para os espectáculos e festivais.»
A linha de pensamento de Álvaro Ramos, da Ritmo & Blues, segue o mesmo raciocínio: «Com a queda da  indústria discográfica os artistas foram obrigados a compensar nos espectáculos, têm de se vender mais e melhor ao vivo porque agora grande parte das suas receitas vem dos concertos.» Esta melhoria de oferta tem contribuído para que o mercado dos festivais de Verão continue a crescer, daí a ideia de que Portugal tem muitos festivais. Associado a este aumento está o preço praticado, bastante inferior comparado com Espanha: «Mais uma vez os patrocinadores foram essenciais para uma diferenciação do custo dos bilhetes, porque só cá é que se praticam estes preços», referiu Álvaro Covões, da Everything Is New. Estes valores permitem assim «umas férias para os jovens a um preço mais acessível», diz Jwana Godinho.

Liberdade e confiança q.b.
O grosso do público são os jovens e adolescentes que sonham com os sudoestes da vida em cada Inverno chuvoso. O Verão chegou e os pais só têm de autorizar. Se já recebeu o seu pedido de autorização, continue a ler: a nm falou com quatro mães, umas mais seguras e confiantes do que outras, embora todas sintam que não adianta proibir festivais e concertos. O mais importante é a confiança, construída no dia-a-dia, que depois vai atribuir as valências necessárias para os adolescentes terem autorização para pegarem na tenda, no fogareiro, em meia dúzia de roupas e partirem para uma experiência que supostamente os deve marcar para sempre pelas melhores razões, mas sobretudo porque é natural serem vividas na juventude e adolescência. Mariana Marques Vidal considera-se uma mãe bastante permissiva, até porque Filipa, 17 anos, nunca lhe deu razões para não o ser. Durante a semana, por regra, não há saídas, mas pode ir a concertos e festivais nà noite, sempre que quiser. A filha tem horas para chegar a casa e envia mensagem a dizer que chegou bem. «Se não o fizer, vou ligar até ela atender», diz Mariana. «Acampar fora, para já nem pensar, porque acho que a minha filha não é melhor do que as outras. Os excessos podem ser cometidos em qualquer altura, em qualquer sítio, mas não acho que ela tenha de viver isso para já, tem muito tempo pela frente, e nos festivais existem as tentações normais para uma adolescente, entre as quais droga, sexo casual, álcool. Não me parece que haja condições para ela dormir fora nos concertos e festivais», afirma. Mariana diz ter uma relação aberta com a filha: «Ela sabe que pode contar comigo. De qualquer forma, se puder, minimizo os riscos. É tanta coisa, mas essencialmente muita hormona descontrolada e, naturalmente, falta de experiência de vida. Prefiro que ela faça as coisas a seu tempo, que vá digerindo, devagarinho, quero dar liberdade e confiança aos poucos.» Mariana não autoriza boleias nocturnas dos amigos: «Não volta para casa de carro com os amigos. Ou vou eu buscá-la ou trazem-na os pais das amigas. Vou deitar-me inquieta, mas tenho de pensar que vai correr tudo bem!», conta.
Lu Teixeira Dias é mãe divorciada e, para ela, a tarefa de supervisionar os seus «meninos», Pedro, 18 anos, e Bernardo, 16, torna-se por vezes complicada, principalmente no que toca às saídas à noite. Confessa que fica sempre assustada e preocupada, principalmente em relação ao álcool: «Os jovens, hoje, bebem muito». A sua estratégia prende-se com o diálogo aberto com os filhos, em idades delicadas. Mas não é fácil: «Conversamos muito, dou liberdade e confiança q. b! Em relação aos festivais, o último foi o Rock in Rio, mas vieram para casa de transportes públicos. Quanto à ideia de acampar fora, já me pediram, mas não sei se vou autorizar». Os telemóveis são uma arma preciosa e Lu já não se imagina sem eles: «Se chegarem mais tarde têm de avisar.  E até agora têm-no feito, mas os cuidados têm de ser sempre redobrados».
Rita Costa, 48 anos, confia plenamente em Teresa, 17, e a sua principal preocupação prende-se com a ideia de que cada experiência tem de servir para enriquecer a filha. «Se ela passar um mês inteiro a percorrer festivais, não acho muito útil, porque é sempre a mesma coisa. Acho, sim, saudável, que faça vários programas nas férias e penso ter-lhe transmitido essa ideia, pois é uma jovem muito ecléctica, gosta muito de música, e vai a concertos assim como a uma conferência sobre biologia, ou a uma exposição sobre algo que lhe interessa. É verdade que adora música, e escolhe os concertos onde quer ir.» Este ano já lhe foi pedido para acampar no festival do Meco e Rita vai autorizar, até porque Teresa é boa aluna e isso é a base para poder sair. Mas há regras. Os bilhetes para os festivais e concertos são comprados com a sua própria mesada. Outra regra essencial, Teresa não anda em carros de amigos: «Nem pensar. Vivemos em Torres Vedras, e muitas vezes eu ou outros pais revezamo-nos para os ir buscar».
Maria João Serrão, mãe de três filhos, confessa que já deixou Paulo, 18 anos, andar à boleia, mas prefere os transportes públicos para festivais como o Rock in Rio e Optimus Alive, já que são em Lisboa, onde vivem. «Este ano é a primeira vez que estão a organizar-se para ir ao Sudoeste e vão de autocarro. À partida, não vejo problema em autorizar.» Quanto aos riscos associados, Maria João admite que, por mais que os jovens estejam elucidados, nunca estão completamente protegidos. «Falo sobre tudo com eles, sexo, protecção, questões de saúde, drogas, álcool, portanto nunca poderão dizer que não estavam bem informados. Mas nunca estamos completamente seguros.» Maria João pede a Paulo para enviar mensagem a dizer que chegou bem. Exige saber as mu-danças de plano nocturnas, mas não impõe horas para o filho chegar a casa.
Com horas ou sem horas, o mais importante é realmente assegurar-se de que os festivais de Verão sejam, acima de tudo, experiências enriquecedoras, sem nunca esquecer que o perigo não precisa mesmo de pó para espreitar em cada esquina.

Para os filhos
A nm deixa aqui algumas dicas sobre como tirar o máximo partido de um festival de Verão sem chatices e para mais tarde recordar.
 
Viagem de comboio
A rede de comboios da CP e a promotora Música no Coração desenvolveram um passe especial: o MUSICard CP que, por 104 euros, permite a entrada nos festivais da promotora, viagens de ida e volta nos comboios da CP, e ainda o acesso a áreas reservadas do parque de campismo do Sudoeste e do Super Bock Super Rock.
 
Chegar cedo
Falar de festivais de Verão é, logo a seguir aos concertos, falar de parques de campismo. Tenda, saco-cama, champô, toalhas, lanternas e comida (e muita bebida) são alguns dos apetrechos que milhares de pessoas têm de preparar quando se aventuram por um dos festivais de Verão que invadem Portugal de norte a sul entre Junho e Agosto. Uma das dicas mais úteis é chegar cedo ao recinto. Por muito que custe passar um dia em que o parque já abriu mas ainda não há concertos. Um lugar à sombra faz toda a diferença para quem não quer acordar de manhã numa tenda que mais se assemelha a uma sauna.
 
Cuidado com a higiene
É necessária uma certa preparação mental para se ter consciência de que as casas de banho dos parques de campismo não têm o mesmo conforto das de casa. São utilizadas por muitas pessoas, o que requer cuidados higiénicos redobrados – chinelos para tomar banho, lavar bem as mãos depois de usar os recintos, muito cuidado com as sanitas. Usem e abusem do gel desinfectante, toalhitas e afins. As condições gerais oferecidas neste aspecto foram muito melhoradas.
O que não impede que levem no kit alguns rolos de papel higiénico. Além, claro, dos produtos de higiene habituais em qualquer viagem em que não se conte com o conforto de um hotel: como champô, gel de duche, escova e pasta de dentes.
 
Kit de sobrevivência
Repelente e pomada. Os mosquitos são os maiores inimigos de um festivaleiro. Já se tornou uma imagem dos festivais ver centenas de pessoas «ferozmente» picadas por seres voadores minúsculos depois de várias noites numa tenda. O ambiente é propício às picadas, num espaço florestal com o calor a apertar. Levem várias caixas de um bom repelente para insectos. E besuntem-se de dia e de noite. Levem também um anti-histamínico e uma pomada calmante para o caso de o mosquito picar e causar inchaço
– se for nos olhos, pode arruinar-vos a festa.  
Protector solar. Falamos de muitas horas ao sol debaixo de temperaturas elevadas na praia (há sempre uma praia por perto num festival de Verão), no recinto ou no parque de campismo. Tendo em conta o tempo que tem estado, arriscam-se a apanhar escaldões.
Lanterna. À noite, a maior parte dos parques de campismo dos festivais de Verão não estão totalmente iluminados, daí que a ajuda da lanterna seja primordial para encontrar a tenda onde se vai dormir depois dos concertos. Ou até mesmo o caminho para as casas de banho...
 
Não perder o contacto
Não se esqueçam de que não há tomadas de electricidade nas árvores. O melhor é levar uma bateria extra e mais do que um carregador. Nos vários festivais, encontram-se sempre locais onde se pode carregar o telemóvel gratuitamente.
 
Poupar dinheiro na comida
Comida é coisa que não falta nos festivais de Verão (das pizas aos hambúrgueres, passando pelos cachorros-quentes ou o frango assado). Mas é cara e de plástico. O melhor é levar farnel. É importante não levar nada que, se exposto ao sol ou não estiver devidamente protegido, se estrague. Pensem num kit de sobrevivência alimentar com conservas (atum, feijão, salsichas), bolachas, tostas e batatas fritas de pacote. Se levarem alimentos de casa, a mochila poderá ficar um pouco pesada.
Nas vilas próximas dos festivais

encontram-se regular-mente supermercados habituados a esta azáfama anual. Os parques de campismo estão equipados com espaços próprios para lavar a loiça (mas é necessário levar detergente e esponja). Quem não quer perder tempo pode levar pratos e copos descartáveis. Recomenda--se então os sacos do lixo.

Prevenir o ruído
Nos concertos aconselha-se o uso de tampões para os ouvidos. Ficar nas filas da frente possibilita uma experiência mais próxima, tudo é vivido mais intensamente, e com isso também sofrem os ouvidos, «massacrados» com níveis de ruído bastante elevados.

Almofadas improvisadas
Dentro da tenda, onde se dorme e convive durante os vários dias do festival, é imprescindível o saco-cama, mas também uma almofada de borracha, daquelas que se enchem com ar, para descansar de forma mais cómoda, ainda que pouco.
 
E se chover?
Um guarda-chuva, um corta-vento ou impermeável são essenciais. Em alguns festivais que se realizam no Norte do país, pode chover a sério.

Estabelecer um orçamento
Em média, costuma levar-se 140 euros para um festival de quatro dias, para comprar comida e bebida dentro do recinto, merchandising de artistas, e outras coisas. A este valor soma-se o bilhete (setenta a noventa euros) e as viagens (o que depende da localização do festival e de onde se parte). Nos festivais fora dos grandes centros urbanos, é habitual as organizações disponibilizarem transporte para a vila mais próxima, onde se pode passar um dia na praia e a fazer compras.

NOTAS MUSICAIS


Festival MED
De 23 a 26 de Junho
Loulé
Preços: entre 12,50 e 60 euros
 
Sumol Summer Fest
25 e 26 de Junho
Ericeira
Preços: entre 30 e 40 euros
 
CoolJazzFest
Dias 1, 5, 13, 17, 20, 22, 23, 24, 25, 27, 28, 29 de Julho
Parque Marechal Carmona, Parque Palmela, Hipódromo Manuel Possolo, Jardim do Cerco – Cascais e Mafra
Preços: entre 20 e 60 euros/dia
 
Delta Tejo
De 2 a 4 de Julho
Alto da Ajuda, Lisboa
Preços: entre 25 e 40 euros    
 
Optimus Alive!
De 8 a 10 de Julho
Passeio Marítimo de Algés,
Lisboa
Preços: entre 50 e 90 euros
 
Festival Marés Vivas
De 15 a 17 de Julho
Vila Nova de Gaia
Preços: entre 25 e 40 euros
 
Super Bock Super Rock
De 16 a 18 de Julho
Herdade do Cabeço da Flauta, Meco
Preços: entre 40 e 70 euros
 
Oeiras Sounds
18 e 22 de Julho
Jardins do Palácio Marquês
de Pombal, Oeiras
Preços: entre 25 e 30 euros
 
Milhões de Festa
De 23 a 25 de Julho
Barcelos
Preços: entre 15 e 35 euros
 
Paredes de Coura
De 28 a 31 de Julho
Praia Fluvial do Rio Tabuão, Paredes de Coura
Preços: entre 40 e 70 euros
 
Festival Músicas
do Mundo de Sines
De 28 a 31 de Julho
Sines
Preços: ainda não definidos
 
Festival Alentejo
De 30 de Julho a 1 de Agosto
Évora
Preços: 10 euros/dia
 
Sudoeste TMN
De 4 a 8 de Agosto
Herdade da Casa Branca
Zambujeira do Mar
Preços: entre 40 e 80 euros

Jazz em Agosto
De 6 a 8 de Agosto
e de 13 a 15 do mesmo mês
Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa
Preços: entre 10 e 20 euros
 
Super Bock Surf Fest
12 e 13 de Agosto
Praia do Tonel, Sagres
Preços: entre 25 e 40 euros
 
Ilha do Ermal
13 e 14 de Agosto
Vieira do Minho
Preços: ainda não definidos
 
Noites Ritual
27 e 28 de Agosto
Palácio de Cristal, Porto
Entrada gratuita

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