Evereste
JOÃO LOPES (1/5)
Sob o efeito da neve do Everest
A história ensina-nos que a "teoria dos autores" não é, nunca foi, uma fórmula mágica para compreender as componentes criativas dos filmes e do cinema. Que dizer, por exemplo, do cineasta islandês Baltasar Kormákur? Que foi uma curiosa revelação através de 101 Reykjavík (2000), crónica amarga e doce de uma solidão assombrada pelas paisagens da neve. Agora, a neve do Evereste revela-se um mero adereço que Kormákur apenas sabe dirigir através de um olhar tecnicamente frio (é o termo...), pouco ou nada inventivo no plano dramático. E não deixa de ser desconcertante que um projecto obviamente sustentado por invulgares recursos de produção não consiga passar de um tom banalmente "descritivo", mais monótono que o mais convencional documentário do National Geographic. E que dizer de um elenco que inclui, entre outros, Jake Gyllenhaal, Emily Watson e Josh Brolin?... Apenas que as suas qualidades nem sequer são devidamente valorizadas, de tal modo as personagens evoluem como "bonecos" formatados, sem dinâmica narrativa nem espessura humana.
INÊS LOURENÇO (2/5)
A tragédia trabalhadasem mistério
Baltasar Kormákur é um realizador islandês que encontramos naturalmente conotado com filmes de ação - Contrabando, Dois Tiros... -, mas já num projeto de 2012, TheDeep - O Sobrevivente, mostravainteresse por histórias reais, de luta pela sobrevivência nas situações mais inóspitas.Evereste é, pois, um filme que envereda por essa ordem de interesses,retratando a mortífera escalada ao topo do mundo, que, em 1996, chamou as atenções mediáticas. Conhecidos os factos - morreram oito dos doze alpinistas dessas expedições -, não existe muita margem para o labor da ficção. Kormákur, consciente disso, procura recriaruma sensação de "morte lenta", ao longo da narrativa, como se todos os pormenores contassem: esclarecimentos médicos sobre as condições físicas perto do topo da montanha, despedidas telefónicas, afetos familiares... Mas nem isso nem o elenco de excelênciasão suficientes como proposta de um cenário de tensão. Era preciso ir além da ameaça majestosa nos planos épicos do topo do Evereste, e do contexto comercial das expedições, integrando melhor a cultura local, relegada à figuração. I.L.**
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