Diplomatas
Explicar à opinião pública para que serve um diplomata não é fácil. A ideia que o cidadão comum tem dos representantes do Estado no exterior é a de que vivem um quotidiano de fausto abrilhantado pelos lustres das embaixadas e que, para isso, são pagos de forma principesca. Com as recentes revelações do WikiLeaks, em que os telegramas publicados demonstram como é obtida, trabalhada e transmitida a informação, muitos entendem ainda que a verdadeira razão da existência da diplomacia não é mais do que a necessidade de intrigar a favor do país que se representa. Pergunta-se então se há razão de existir uma carreira paga pelo Estado cujo único objectivo é o da intriga. Depende. De uma boa intriga pode nascer uma negociação e de uma negociação pode obter-se uma vantagem. No fundo, um diplomata é alguém que manipula e através da manipulação serve o seu Estado.
Foi sempre assim ao longo de séculos. Os reis mandavam os seus embaixadores às cortes estrangeiras para espiar e negociar o que fosse mais vantajoso para o país. Os diplomatas eram gente preparada com missões definidas. Cumpriam-nas e da sua arte e empenho poderia nascer uma aliança matrimonial, comercial, política ou até cultural. Temos também casos de diplomatas que correram risco de vida para salvar muita gente. Lembro aqui os heróis que durante a II Guerra Mundial evitaram que milhares de judeus fossem parar aos campos de concentração nazis, onde a morte era mais que certa. Homens como Aristides de Sousa Mendes e tantos outros que continuam a ser uma fonte de orgulho para os que dão valor à liberdade e respeitam a memória dos mais corajosos falando deles às gerações que se seguem.
Ao longo desta semana, ficamos a conhecer, através do DN, casos de diplomatas portugueses que têm dificuldades financeiras para representar o Estado no exterior. Terão razão alguns, outros, não. Nesta, como em todas as profissões, paga o justo pelo pecador. É sabido que uma grande maioria destes funcionários faz o seu trabalho como deve ser e que até lhes é pedido mais do que deveria ser a sua função. Mas há também uma grande minoria que usa e abusa do estatuto para proveito próprio. Exige-se, por isso, uma definição de novos objectivos por parte da tutela e também uma autocrítica. Ser um servidor do Estado no exterior é uma missão de enorme responsabilidade, tendo em conta o momento de crise em que vivemos. O nosso país precisa de homens e mulheres brilhantes que saibam "vender" a marca Portugal, que dinamizem, que representem e que saibam negociar. Que tenham ideias e que sejam capazes de cumprir objectivos. Do brilho das gravatas e dos penachos não reza a história, há que ser profissional e dar bom uso ao dinheiro pago pelos contribuintes.