Contratos públicos
As crianças precisam de bancos nas escolas, mesas, quadros e esses pequenos confortos essenciais. Tudo isso passa de ano letivo para ano letivo - está tratado, salvo pequenos problemas corrigidos depressa. A isto junta-se a alimentação, os milhares de refeições que são servidas todos os dias pelo País fora e que implicam cuidado e algum planeamento porque a logística e as regras são complexas. O que fez Nuno Crato, ministro da Educação? A urgência financeira dos últimos anos levou-o a tomar medidas imediatas, uma das quais foi centralizar o processo de compra das refeições - antes era gerido por cinco direções regionais, que foram extintas -, o que talvez permitisse poupar algum dinheiro e até melhorasse a qualidade da comida (o que seria ótimo). Mas o que aconteceu não foi bem isto. Nos últimos dois anos, setembro começou sempre sem que os concurso públicos estivessem finalizados a horas (este ano, pelo menos) e, portanto, foi preciso improvisar, atribuindo por ajuste direto o serviço em causa: só este ano, foram 22 milhões de euros. Governar, na sua função mais básica, é isto, nada mais: ter a máquina pronta a tempo e horas para servir as pessoas. Não se trata de lançar uma grande reforma educativa - um apetite de todos os governos -, mas de assegurar o básico e fazê-lo dentro das melhores práticas administrativas. Não é fácil, é verdade, a malha burocrática emperra; mas dar o passo maior do que a perna em áreas de tanto impacte público é um risco desnecessário. Crato não violou a lei, as empresas da área não se queixam, mas a verdade é que a maldição das adjudicações diretas em empreitadas desta magnitude (não são 200 mil euros) é um sinal de má gestão. Há anos que isto vem escrito nos relatórios do Tribunal de Contas. E, no entanto, batatas.
Acordo de cavalheiros
D epois de se saber os resultados, e se o "sim" à independência ganhar, até se pode falar de divórcio amigável, como se a Escócia fosse uma senhora e o resto do Reino Unido o seu marido. Mas a metáfora certa para o referendo de hoje, ou como se chegou a ele, é um acordo de cavalheiros, um pacto entre british gentlemen, título que tanto assenta a um escocês como a um inglês ou a um galês. É isso que é admirável, a forma civilizada como um dos projetos políticos mais bem-sucedidos da história aceitou ser posto em causa, e como um setor nacionalista fortíssimo já fez saber que se o "não" triunfar não haverá novo referendo numa geração. Não admira que a campanha tenha sido entusiasmada de um lado e do outro, mas sempre digna. O Reino Unido, desde a integração da Escócia no século XVIII, deve muito aos escoceses. Os inventores ajudaram ao sucesso da Revolução Industrial, os militares à construção do império. Também não se pode dizer que a Escócia não tenha sido bem tratada. O nível de vida dos seus habitantes é invejável, os dois primeiros-ministros britânicos anteriores a David Cameron eram escoceses. Veremos, na hora do voto, o que pesará mais. Percebe-se que tudo foi discutido, da libra à União Europeia, e que o voto será informado, mesmo que emotivo. Quem assiste deve tirar lições. A Escócia, se conquistar a independência, será olhada como um modelo por outros nacionalismos, a começar pelo catalão. Mas as diferenças são óbvias, e não falamos de história, mas sim da atualidade: nem os governantes espanhóis, seja Rajoy seja Zapatero, souberam lidar com as aspirações da Catalunha, como os políticos catalães, a começar por Artur Mas, nunca deram provas de bom senso na condução do projeto nacional. Deviam aprender com Cameron e Alex Salmond, o homem que quer a Escócia independente.