Banco Alimentar contra a Fome

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Realizou-se recentemente mais uma das campanhas de recolha de alimentos promovidas pelo Banco Alimentar contra a Fome, instituição sobejamente conhecida no nosso país pelo mérito do trabalho realizado.

Os resultados continuam a impressionar. Num fim-de-semana, recolheram-se mais 2950 toneladas de bens alimentares, em 1615 superfícies comerciais. O número de voluntários envolvidos, mais de 36 mil pessoas, constituiu um recorde absoluto. Os alimentos serão distribuídos a mais de 2047 instituições de solidariedade, que os farão chegar a cerca de 329 mil pessoas.

Passaram já quase 20 anos desde a abertura do primeiro banco, em Lisboa, em 1992. Actualmente, são 19 os bancos alimentares em funcionamento. Como começou este projecto e como se explica o seu sucesso?

O primeiro banco alimentar do mundo surgiu em Phoenix, nos Estados Unidos da América, corria o ano de 1967. O seu fundador, John van Hengel, ajudava como voluntário no Instituto de S. Vicente de Paulo, recolhendo donativos para o serviço de refeições para os desfavorecidos, quando se deu conta de que os retalhistas destruíam os alimentos mal empacotados ou já perto do final do prazo de validade. Contactou então os estabelecimentos da região, solicitando os alimentos em bom estado de conservação, mas que já não pudessem ser vendidos.

Com o sucesso desta primeira experiência nasceu o conceito de "banco de alimentos". À semelhança dos bancos tradicionais, tratava-se de recolher e ter depósitos de alimentos conseguidos por doação de empresas e pessoas individuais, para que as entidades de carácter social autorizadas pudessem posteriormente fazer os respectivos levantamentos.

Em Portugal, a iniciativa deveu- -se ao comandante José Vaz Pinto, que em 1990 reuniu em Lisboa um grupo de pessoas sensibilizadas pelo problema da fome.

Os bancos alimentares continuam fiéis a estes princípios fundacionais. O grande objectivo é a luta contra o desperdício. Para isso, recebem donativos, fazendo finca-pé na importância de serem em espécie. Quando empresas ou organismos pretendem contribuir com dinheiro, os bancos alimentares convidam as entidades a fazerem directamente a aquisição dos bens necessários e a doarem-nos.

Os bancos alimentares não compram produtos alimentares, apesar de não disporem de toda a variedade de produtos que seria conveniente. Esta tomada de posição facilita e torna transparente a relação com as empresas doadoras, já que os bancos nunca são clientes, mas apenas receptores de doações.

Os bancos alimentares recebem e distribuem milhares de toneladas de bens alimentares. Em 2010, esse valor atingiu as 26 542 toneladas. Só em Lisboa, distribuem-se diariamente 44 toneladas. No conjunto dos bancos, esse valor é de 90 toneladas por dia útil.

Naturalmente, as operações logísticas correspondentes têm um grande peso na actividade dos bancos. E nada é deixado ao acaso. Todo o processo está apoiado num sistema informático de gestão de stocks concebido por uma empresa consultora de referência, e é sujeito a actualizações regulares.

Os destinatários imediatos dos bancos alimentares são mais de 1900 instituições de solidariedade social que têm uma acção directa junto de pessoas carenciadas, cuja situação conhecem em pormenor. Em 2010, o apoio chegou a 297 946 pessoas.

Tais instituições candidatam-se à recepção de alimentos e são objecto de uma reunião de avaliação seguida de uma visita. Caso estejam reunidas as condições necessárias, celebra-se um acordo de fornecimento de produtos.

Os bancos alimentares têm um conhecimento profundo do trabalho social das entidades de solidariedade que apoiam. Estas não são apenas distribuidoras de ajuda alimentar, mas devem ter um papel mais abrangente, promovendo activamente a dignidade e autonomia das pessoas carenciadas.

A maior parte do trabalho dos bancos alimentares é assegurado por voluntários. São o alicerce de toda a estrutura, só se recorrendo ao trabalho remunerado para a realização de tarefas que pela sua natureza assim o exijam. Cada voluntário fixa um horário de trabalho, adquirindo o compromisso de o cumprir.

A campanha de Novembro foi uma das duas campanhas anuais de recolha de alimentos, com grande notoriedade pública. Estas têm como objectivo recolher bens alimentares para os quais não existem donativos suficientes, e servem também para reforçar a divulgação do trabalho realizado pelos bancos alimentares.

Qual a receita do sucesso desta meritória e exemplar iniciativa? Uma missão claramente definida e prosseguir esse caminho com rigor e profissionalismo. Porque o terceiro sector não é sinónimo de amadorismo bem intencionado.

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