Avaliação de professores
O poder político tem revelado uma particular inabilidade ao lidar com a questão da avaliação dos professores que, desde o governo de José Sócrates, ficou transformado no núcleo central da reforma do sistema de ensino público básico e secundário - premissa, desde logo, discutível.
Inicialmente parecia existir um consenso na opinião pública portuguesa e, até, em largos setores da classe docente, sobre a necessidade da existência de uma avaliação séria aos professores, com a respetiva repercussão na evolução das carreiras. Esse consenso inicial parece hoje estar perdido. Como se chegou aqui?
A tentativa de implementação dessa medida por Maria de Lurdes Rodrigues, que nem sugestões, relevantes mas moderadas, de alteração ao seu projeto acolheu, acabou por redundar na sua própria fragilização. Seguindo a terceira lei de Newton, a ação da então ministra da Educação provocou a inevitável reação - expressa numa condenação generalizada por parte dos professores e simbolizada em gigantescas manifestações. A ministra acabou por sair.
Depois de umas relativas tréguas esta guerra no ensino voltou ao palco mediático através do ministro Nuno Crato - anterior líder nas críticas a Maria de Lurdes Rodrigues por ela não ser capaz de diálogos e consensos.
O ministro resolveu este ano avançar com testes a professores contratados que nunca poderiam ser aceites por qualquer sindicato sério pois a sua leitura secundária, num tempo de cortes draconianos nas despesas, é óbvia: os testes poderiam servir de instrumento para legitimar a colocação no desemprego de milhares de associados sindicais, de milhares de professores.
Esta simples leitura política e uma réstia de bom senso obrigariam o Ministério da Educação a planear o seu trabalho de forma a isolar a resistência total a qualquer tipo de avaliação dos professores ao núcleo mais reduzido possível de representantes sindicais, ganhando para uma solução de consenso, negociada, outros representantes da classe. É o que parecia, a dada altura, estar a ser feito.
Nuno Crato perdeu a paciência e foi para a guerra aberta e para o golpe desleal da marcação de testes em prazos que inviabilizassem a marcação de uma greve. Mais uma vez a velha de lei de Newton aplica-se: a cada ação corresponde uma reação e, depois do dia de ontem, o ministro acaba mais fragilizado e sem conseguir que o processo avaliativo que lançou tenha um grau mínimo de credibilidade, dada a confusão generalizada que se espalhou.
A data das eleições
Amarcação de eleições em 2015 tem de ser estudada de forma a garantir que um eventual impasse político provocado pelo seu resultado, que arrisca não originar uma solução governativa, tenha solução constitucional rápida. Antecipá-las de forma a abrir a porta a uma marcação rápida de novas eleições, caso sejam necessárias, parece ser de evidente interesse superior da nação.