Artes
Se OCódigo Da Vinci proporcionava ao leitor um passeio aventuroso pela sempre romântica Paris, em Anjos e Demónios os locais de acção são Roma e o Vaticano - além da Suíça onde se situa o CERN (Conselho Europeu para Investigação Nuclear). No caso da capital italiana, as descrições são bem mais sucintas do que as relatadas na francesa pois o autor preocupa-se em apontar o foco para as igrejas e monumentos. Não quer dizer que não existam momentos de suspense como os que eram passados na igreja de Saint-Sulpice, caso da investigação frustrada no Panteão ou do final no Castelo de Sant'Angelo. Mas são as deambulações no interior do Vaticano que mais impressionam o leitor, dado serem em grande parte desconhecidas e descritas com uma grande riqueza de pormenores. É o caso da visita aos arquivos da Santa Sé, onde se encontra o manuscrito de Galileu que irá servir de "guia de bolso" para o roteiro romano, cuja descrição parece decalcada da realidade. O mesmo se passa com as passagens que tratam da eleição do novo Papa e dos bastidores do conclave onde onde estão reunidos os cardeais - situação que, ironicamente, coincide com a crise vivida actualmente devido à doença de João Paulo II.
PARceria. Outro dos paralelismos entre os dois livros é a existência de uma parceira de aventuras para o professor Langdon, também intimamente ligada ao protagonista que morre logo na primeira página. Uma jovem que surge menos vestida de preconceitos que a do Código e que consegue atravessar todo o volume envergando apenas uns calções de caqui e uma camisola branca sem mangas, que muitos problemas irá causar à sua entrada no Vaticano - a cena em que um guarda a pretende revistar é de antologia! Diga-se, aliás, que Dan Brown ainda não era neste livro tão anjo nas suas descrições femininas, mais parecendo um demónio, tal é a indiscrição verbal a que sujeita a física Vittoria Vetra em meia dúzia de capítulos, bem como nos pensamentos e atitudes pecaminosas que coloca no personagem Hashashin. Vetra faz parte do cenário e, principalmente, é a "peça" que pode sustentar a tese da antimatéria que está na base de toda a ameaça. Mais uma vez, os factos da vida real confundem-se com a ficção ao colocar o terrorrismo - mesmo que travestido de luta religiosa - na ordem do dia e a ciência como parceira do medo.
Simbologia. Mais uma vez, Dan Brown mostra-se capaz de manipular de uma forma impressionante e intrigante os símbolos e as causas que estão à solta por esse mundo fora. Além de encaixar o culto da língua pura - o inglês nos tempos medievais - como dialecto da sociedade secreta, consegue criar seis símbolos que vão surgindo a dado momento nas páginas - a seguir a cada crime -, algo que além de ser uma invenção gráfica magistral, torna-se num elemento que faz com que o leitor não hesite em acreditar na veracidade do escrito. Por outro lado, se o autor conseguia no Código reinventar os Templários e explorar o mito de Maria Madalena, a relação com Jesus e dar significados inimagináveis ao génio do pintor renascentista, desta vez provoca o revivalismo de uma seita a que dá o nome de Illuminatti. Uma alusão aos Iluminados - uma palavra que surge no discurso da maçonaria francesa - e aos Iluminados da Baviera - sociedade paramaçónica -, que apela à atitude anticristã oculta. Um manancial quase tão bom como foi o Priorado do Sião!