Aquecimento
Estarão as obras do Túnel do Ros-sio a contribuir para o aquecimento global? Inequivocamente, a resposta é sim. E será o encerramento do mesmo túnel mais um factor de risco de incêndio para as florestas portuguesas? A resposta volta a ser sim.
Existe cada vez maior consciência de que muitos dos nossos pequenos gestos, porque insistentemente repetidos, têm repercussões que ultrapassam o nosso conhecimento directo.
Nas últimas décadas, foi reduzido drasticamente o consumo de sprays e os frigoríficos deixaram de libertar gases nocivos. Tanto bastou para que, pela primeira vez em muitas décadas, tenha parado de aumentar o buraco nessa camada de ozono que nos protege dos malefícios do Sol.
Voltemos ao Túnel do Rossio. É hoje consensual que o trânsito nas grandes cidades constitui um dos maiores factores de aquecimento do planeta. Por isso, na generalidade dos países de-senvolvidos tomam-se medidas para reduzir o trânsito, seja impondo taxas, seja através de melhorias acentuadas nas redes de transportes públicos. A interdição do Túnel do Rossio incentiva a entrada de carros em Lisboa, que se acentuará com a conclusão do Túnel do Marquês. Tudo ao contrário do que deve ser feito. Lisboa, o Porto e as outras grandes cidades portuguesas necessitam de infra-estruturas - transportes públicos, túneis, parques de estacionamento - ou de outros métodos (taxas, portagens...) que dissuadam a utilização de transporte privado.
O recurso ao transporte colectivo, a racionalização no consumo de energia e o incentivo das alternativas e a opção por indústrias menos poluentes são os únicos caminhos para reduzir a poluição, travar o aquecimento, reduzir os incêndios florestais e, em última instância, salvar o planeta.
Nos EUA, o filme de Al Gore que chega esta semana aos cinemas portugueses está a ter um enorme impacte. O interesse pelo ambiente recrudesceu e, por exemplo, a Wal-Mart, o gigante da distribuição, apostou no "comércio justo" e nos "produtos verdes" não por filantropismo, mas porque isso se tornou negócio rentável.
Portugal vive ainda o deslumbramento do progresso e do consumismo. A gasolina barata é o nosso sonho. Por isso, o filme de Al Gore não dever ter por cá grande impacte. É certo que se-remos um grão de areia perante os grandes poluidores (China, Índia, EUA...), mas o ambiente é daquelas matérias em que não podem prevalecer os egoísmos. Lembrem-se do ozono...