Alienação parental
Nestas circunstâncias pode surgir uma situação conflitual clinicamente bem caracterizada designada por alienação parental, algo frequente que se caracteriza por um dos progenitores tentar repetidamente denegrir o outro junto da criança, instigando-a a romper os laços afectivos e criando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação a ele, habitualmente durante uma situação de divórcio. É uma atitude que, estatisticamente, parece irreversível e que cria uma situação traumática para as crianças, um distúrbio no qual elas, numa base contínua, depreciam e insultam um dos pais sem qualquer justificação, devido a uma combinação de factores, incluindo a doutrinação pelo outro progenitor (quase exclusivamente como parte de uma disputa da custódia da criança) e as tentativas de a própria criança denegrir um dos pais.
Os casos mais frequentes estão associados a situações em que a ruptura da vida conjugal gera um sentimento de vingança muito grande num dos progenitores. Quando este não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, desencadeia um processo de destruição, vingança, desmoralização e descrédito do ex-cônjuge. Neste processo vingativo, a criança é utilizada como instrumento da agressividade direccionada ao parceiro.
Há quem caracterize esta situação por um conjunto de atitudes de que são exemplos uma campanha de difamação e ódio contra o pai-alvo, razões fracas, absurdas ou frívolas para justificar esta depreciação e ódio, tomar o partido do pai alienante, afirmações fortes de que a decisão de rejeitar o pai-alvo é só dele (fenómeno «pensador independente»), falta de culpa quanto ao tratamento dado ao pai-alvo, uso de situações e frases emprestadas do pai alienante e difamação não apenas do pai-alvo, mas direccionada também para à família e aos amigos do mesmo.
Por vezes o conflito que surge entre os pais afecta os filhos sem que estes o percebam. Pode dificultar o estabelecimento de relações de confiança ou de maior intimidade com outras pessoas, provocar uma baixa tolerância à raiva e hostilidade (dificuldades em lidar com situações que despertem emoções fortes ou perante o «não», dificuldades em adormecer, pesadelos, sono inquieto. Podem também existir falta ou excesso de apetite, dificuldades em seguir ordens e orientações de figuras de autoridade [professores, polícias, superiores hierárquicos], auto-estima e auto-confiança mais baixas, sentimentos de culpa (a criança é constantemente forçada a escolher um lado e tomar partido, crescendo com um sentimento de culpa e de impotência).