Observatório da Gravidez pretende fazer uma avaliação da realidade existente em Portugal sobre más práticas.
Observatório da Gravidez pretende fazer uma avaliação da realidade existente em Portugal sobre más práticas.

Violência Obstétrica. Ordens pedem reunião urgente à ministra e lançam petição para revogar lei

Ordens dos médicos e dos enfermeiros e outras sociedades científicas reuniram na manhã desta quinta-feira para debater a Lei n.º 33/2025, decidindo que vão criar o Observatório Nacional da Gravidez.
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Quase duas semanas depois da publicação da Lei n.º 33/2025 sobre a Violência Obstétrica, a Ordem dos Médicos reuniu, na manhã desta quinta-feira, com vários colégios da Especialidade, Ginecologia-Obstetrícia, Medicina Geral e Familiar e Psiquiatria, bem como com outras sociedades científicas, nomeadamente a Ordem dos Enfermeiros, para analisar e discutir esta legislação.

Ao final da manhã, havia pelo menos três decisões: em primeiro lugar, pedir uma reunião urgente à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, para que o tema ainda seja discutido antes das eleições de maio e explicarem-lhe as suas posições; lançar uma petição a pedir a revogação da lei à Assembleia da República e ainda criar o Observatório Nacional da Gravidez. Esta última uma iniciativa que integrará um grupo de trabalho dos vários colégios e sociedades científicas para que se “faça uma avaliação da realidade no país sobre boas e más práticas clínicas nesta área que sustentem a fundamentação de qualquer legislação”, explicaram ao DN.

No texto da petição, cujos primeiros signatários são os bastonários dos Médicos e dos Enfermeiros, é considerado que “a recente iniciativa, materializada na Lei n.º 33/2025, de 31 de março, não contribui para a afirmação dos direitos na preconceção, gravidez, parto e puerpério, essenciais no contexto do parto respeitado e seguro”.

Observatório da Gravidez pretende fazer uma avaliação da realidade existente em Portugal sobre más práticas.
Ordem dos Médicos contra forma como a lei sobre violência obstétrica foi feita. E pede a sua revisão

Esta lei, tal como está formulada, “não oferece soluções equilibradas e eficazes para melhorar nem a segurança nem a experiência positiva das grávidas em trabalho de parto”, e “desconsidera o papel dos profissionais de saúde que garantem o cuidado integral durante a gravidez, o parto e o puerpério – médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, técnicos auxiliares de saúde, assistentes técnicos de secretariado e tantos outros que fazem a diferença nesse processo tão delicado e exigente”.

Os signatários defendem que esta “Lei promove o conflito, o estigma e a desunião”, defendendo ser necessário a sua “adequação à segurança dos cuidados, e consequente afirmação dos direitos envolvidos”. Neste sentido, consideram “essencial que se proceda à revogação da Lei n.º 33/2025, de 31 de março, permitindo, deste modo, que sejam incorporados conceitos essenciais, consensualmente fundamentados em evidências científicas e técnicas, que realmente protejam o bem-estar, a saúde e os direitos das mulheres e das crianças. Juntos podemos construir um futuro mais justo, respeitoso e humano!”

O texto da petição critica “o recurso à utilização de termos inadequados e controversos”, como “violência obstétrica", que já “não é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, nem por nenhum outro país europeu” e o clima de punição, já que consagra “penalizações financeiras e disciplinares”, o que “cria um ambiente de trabalho adverso, mas também incentiva práticas defensivas, minando a relação de confiança entre grávidas e profissionais de saúde. A opção legislativa não promove a confiança das grávidas nas instituições de saúde, nem motiva os profissionais a prestarem melhores cuidados no trabalho de parto”.

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Violência obstétrica vai estar em foco em congresso de enfermeiros

É ainda referido que a lei foi aprovada pelo Parlamento, já depois da queda do Governo, sem ter havido “discussão prévia pela sociedade”, o que, considera, constituir “um retrocesso no processo normativo, resultando numa legislação mal elaborada e desalinhada dos padrões europeus e internacionais cientificamente recomendados”.

Por fim, a petição alerta para a possibilidade da “quebra da relação entre a grávida e o cuidador: num momento tão delicado, como o da gravidez, em a união, confiança e colaboração entre as equipas de saúde e as grávidas/casais são fundamentais”.

Para as ordens e colégios esta “Lei prejudica essa relação e coloca em risco o bem-estar e a serenidade que deve imperar em todos os envolvidos”.

Recorde-se que, a quando da publicação da lei, o Observatório da Violência Obstétrica (OVO) considerou que a lei “é um passo em frente”, criticando, no entanto, o seu foco na questão de alguns atos médicos, como a episiotomia.

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