Violência na noite. Lisboa e Porto exigem mais policiamento
A Câmara Municipal de Lisboa quer mais policiamento nas zonas turísticas da cidade, onde se registaram vários crimes nos últimos meses. O mais recente aconteceu na madrugada de domingo, com um homem a ser morto na zona do Parque das Nações vítima de agressões.
Em declarações no final de uma reunião do Conselho de Municipal de Segurança, o autarca explicou que remeteu no domingo um "pedido urgente" ao governo para que Lisboa tenha mais polícias. "As pessoas não estão a ver polícia na rua e eu ofereço ao governo capacidade para o fazer", afirmou, acrescentando: "Podemos até fazer uma parceria entre a polícia municipal e a PSP, mas precisamos de postos móveis nesta cidade". Uma ideia que, na opinião de Hugo Costeira, diretor do Observatório de Segurança Interna (OSI), "é irreal. Se não há efetivos suficientes, não se consegue fazer uma distribuição justa. Não faz sentido falar de esquadras móveis."
Na segunda maior cidade do país, as reivindicações são idênticas, depois de um fim de semana em que a nona esquadra da PSP, a maior do Porto, ter estado encerrada durante o dia. Algo que o ministro da Administração Interna entretanto desvalorizou, explicando que "foi uma opção entre ter polícias na rua ou nas esquadras". Para Jorge Bacelar Gouveia, diretor do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), "as preocupações são justas, é justo pedir mais meios humanos, porque fazem falta."
De acordo com o último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), em 2021, a criminalidade geral teve uma ligeira subida (de 0,9%), com os crimes graves e violentos a diminuir drasticamente (-6,9% de crimes registados). No entanto, o documento levantava preocupações em relação ao crime juvenil e de grupos. Para Bacelar Gouveia, isto tem uma justificação. "Depois de um período de confinamento, estes grupos acabaram por sair novamente e agora há disputas de território e de espaços que estavam definidos previamente", explica ao DN o diretor do OSCOT.
Por outro lado, este aumento de criminalidade pode também estar relacionado com o aumento do número de turistas a circular. "Há maior movimento de pessoas agora, as pessoas vêm de fora, trazem dinheiro e são alvos apetecíveis", afirma Bacelar Gouveia. Hugo Costeira concorda: "A ocasião faz o ladrão. Claro que onde há muitos turistas, esse tipo de criminalidade pode acontecer. Até porque com o fim do policiamento de proximidade, as pessoas passaram a encontrar polícias em carros-patrulha e não nas ruas", atira.
Em junho, aquando da divulgação do Global Peace Index, Portugal foi considerado o sexto país mais seguro do mundo, atrás de Islândia, Nova Zelândia, Irlanda, Dinamarca e Áustria.
Haverá, no entanto, razão para maiores preocupações com a criminalidade no país? Bacelar Gouveia é perentório: "Claro que há motivo de alerta. Até porque é preciso não esquecer que Portugal é um ponto de entrada de droga na Europa e um destino turístico muito apetecível. Tem de haver preocupação com a segurança destas pessoas e dos portugueses. Não pode haver uma falsa sensação de segurança", remata.
O serviço de atendimento ao público da maior esquadra da PSP no Porto esteve fechado, "por motivos de ordem operacional", durante várias horas no fim de semana passado. No sábado e no domingo só funcionou a partir das 16h00. Para Rui Moreira, este episódio revela "uma grande insensibilidade" ao mesmo tempo que contribui para "um sentimento de insegurança e abandono". O autarca disse à Lusa que foi "completamente surpreendido" por esta decisão, revelando que nem o próprio comandante sabia do encerramento. "É uma situação que me preocupa muito. Se há esquadra que não podia fechar era aquela", considerou. Confrontado com a situação, o ministro da Administração Interna disse não ter sido informado antes do fecho e explicou: "A esquadra não foi encerrada, suspendeu o funcionamento até às 16h00", frisando que não é a primeira vez que tal acontece na Invicta. Para o vice-presidente do Sindicato Nacional de Oficiais da PSP, o encerramento das esquadras deve motivar uma "avaliação ponderada", uma vez que, defende, o atual modelo "consome muitos recursos humanos".
Agente da PSP de folga morre após ser pontapeado
Em março, Fábio Guerra, agente da PSP, estava num bar com dois outros agentes. Perante uma situação de agressões, Fábio e os colegas, de folga como ele, tentaram intervir. Acabaram atacados e Fábio Guerra morreu. Dois suspeitos foram detidos, mas o terceiro continua em fuga.
Jovens baleados em Queluz
Em maio, dois jovens de 15 e 17 anos foram baleados na estação de comboio de Queluz. Sobreviveram, mas havia indícios que se tratou de um ajuste de contas entre grupos rivais.
Homem morto no Parque das Nações
O caso mais recente de uma agressão em Lisboa, entre vários nos últimos meses, aconteceu na madrugada do passado domingo, quando um homem, de 34 anos, de nacionalidade estrangeira, foi morto após ter sido agredido por outro. A vítima mortal terá caído e, alegadamente, o suspeito continuou a agredi-lo, dando-lhe pontapés na cabeça. O suspeito foi detido, a vítima foi assistida no local mas acabou por morrer.