Portugal tem 2,5 milhões de pessoas com mais de 65 anos.
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Vacinação dos adultos pode poupar 245 milhões ao país

Há vacinas que não estão acessíveis de forma universal à população adulta. E se estivessem poderiam prevenir doenças e reduzir custos ao país. A conclusão é de um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública. Francisco George, chairman do projeto +Longevidade, vai propor que estas sejam incluídas no Plano Nacional.
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A junção de vacinas para os vírus da gripe, herpes zóster, vírus sincicial respiratório (VSR), para a doença pneumocócica e para o vírus do papiloma humano (HPV) podem representar uma poupança significativa no Orçamento do Estado, na ordem dos 245 milhões de euros, tendo em conta as consequências que o desenvolvimento destas doenças tem na população adulta em termos de saúde, sociais e económicas.

Esta é a principal conclusão de um estudo desenvolvido pela Escola Nacional de Saúde Pública no âmbito do projeto +Longevidade - um think thank dedicado à vacinação no adulto recentemente coordenado pelo laboratório de investigação Nova Center for Health da Nova Information Management School. 

Conforme explicou, ao DN, o presidente da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública e chairman do projeto +Longevidade, Francisco George, o mote para este estudo foi “o impacto económico e social inerente às doenças preveníveis por vacinação no adulto” e os seus resultados são inequívocos.

“Está demonstrado que os adultos que são vacinados contra alguns vírus, como o herpes zóster, o sincicial, o papiloma humano e o da doença pneumocócica, têm menos probabilidade de serem infetados e, até, no caso de contraírem as doenças, de serem internados numa unidade de cuidados intensivos. E os especialistas da área da economia da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), que fizeram esta análise, concluíram que o investimento necessário nestas vacinas, de forma a torná-las mais acessíveis às populações de risco, compensa os custos com o tratamento destas infeções”, disse ao DN.

O ex-diretor-geral da Saúde sublinha ainda que este investimento é tanto mais importante quanto se pensa que, em Portugal, “cerca de 2,5 milhões de pessoas têm com mais de 65 anos, e que, destes, 30% têm mais de 80 anos, o que corresponde a 760 mil pessoas. Ora, sabendo nós que são estes adultos que são os mais afetados pelos vírus referidos neste estudo, o Estado deveria criar condições para que as vacinas que podem prevenir estas infeções integrem uma fase do calendário nacional para a  vacinação dos adultos”.

Francisco George sublinha mesmo ao DN que tal “é importante não só para a profilaxia e para a prevenção destas doenças, mas também para que não existam desigualdades na população no acesso a este tipo de cuidado”.

Para o chairman do projeto +Longevidade “este é mesmo o momento em que as autoridades de saúde devem analisar de forma muito sistemática, e não pontual, a distribuição igual da vacinação para todos os adultos e idosos”. Aliás, tendo por base as conclusões do estudo da ENSP, o projeto +Longevidade está  “a pensar recomendar a inclusão universal destas vacinas no Plano Nacional, sem o prejudicar, mas de forma a evitar as desigualdades que ainda existem, porque, agora, quem tem dinheiro paga as vacinas e corre menos risco de contrair uma destas doenças, mas quem não tem fica sem acesso à profilaxia e prevenção”. 

O estudo da ENSP foi desenvolvido pelos investigadores Henrique Vasconcelos e José Miguel Diniz, com o apoio de Julian Perelman, e teve como suporte “quantificar o impacto económico  para o sistema de saúde e para a sociedade decorrentes de infeção, em idade adulta, provocada por um conjunto de doenças para as quais existem vacinas disponíveis”, explicam ao DN. 

A equipa começou por fazer uma estimativa baseada na extrapolação direta dos custos quantificados em vários países da UE (Itália, França, Bélgica, Espanha), assumindo uma proporcionalidade da despesa em saúde. E o resultado desta simulação levou à estimativa que Portugal gastaria menos 245 milhões de euros com os custos de hospitalização, ambulatório e perdas de produtividade associados à gripe, ao herpes zóster, ao vírus sincicial respiratório (VSR), à doença pneumocócica e ao vírus do papiloma humano (HPV).

O mesmo estudo destaca que “todas estas doenças, juntamente com a covid-19, têm em comum o facto de serem preveníveis por vacinação na idade adulta”, lembrando, no entanto, que tais doenças não têm a sua prevenção garantida através da resposta do Programa Nacional de Vacinação (PNV), como é o caso do Vírus Sincicial Respiratório, da Doença Pneumocócica e do Herpes Zóster -  só estas representam mais de 55 milhões de euros em custos para o país.

Francisco George reforça que foram estes dados e as tendências da evolução demográfica (uma população cada vez mais envelhecida) e epidemiológica (uma sociedade mais globalizada, com menos barreiras de circulação, mas também com crescente prevalência de doenças crónicas), que levaram “os especialistas que compõem o think tank +Longevidade a reconhecerem a necessidade de melhorar a resposta preventiva destas doenças, através de uma atualização do PNV”, considerando que é necessário incluir neste “mais vacinas dirigidas a adultos e reforçar a narrativa de sensibilização dirigida especificamente a este grupo populacional”. 

O PNV inclui 12 vacinas, das quais nove dirigidas a crianças e apenas três - covid-19, tétano, difteria e tosse convulsa (Tdpa) - destinadas à população adulta. Uma realidade que, diz Francisco George, “contrasta com outros países, como França e Espanha”,  mas “é fundamental que se reconheça que o contexto de envelhecimento crescente em Portugal traz consigo maiores riscos de perda de anos de vida saudáveis”.

E é isto que na visão dos especialistas do +Longevidade “pode e deve ser combatido com o reforço do calendário de vacinação no adulto, através da inclusão de outras soluções vacinais capazes de reduzir o impacto destas patologias na saúde da população e na resposta e disponibilidade do sistema de saúde”, conclui este médico. 

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