A “política ultramarina” do Estado Novo visava uma “ação civilizadora”: aproveitar os elementos úteis das diferentes culturas para a participação de todos na manutenção da &am
A “política ultramarina” do Estado Novo visava uma “ação civilizadora”: aproveitar os elementos úteis das diferentes culturas para a participação de todos na manutenção da &am

Uma vida de sacrifício ao serviço da Pátria...

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Estavam hoje de parabéns quatro ministros, por completarem quatro anos de sacrifícios ao serviço do governo da nação. Eram eles: Rui Patrício (Negócios Estrangeiros), José Veiga Simão (Educação Nacional), Rui Sanches (Obras Públicas e Comunicações) e Baltazar Rebelo de Sousa (Ultramar). Mal sabiam eles o que lhes aconteceria daí a três meses.

Salazar - vítima de um AVC em 16 de setembro de 1968 - agonizava no Hospital da Cruz Vermelha, ligado ao ventilador. O Presidente da República, almirante Thomaz, decidiu exonerá-lo 10 dias depois e decidiu-se por um sucessor: Marcello Caetano. Não era o seu preferido. Mas Caetano tinha um lobby - um grupo de ‘marcelistas’ que, por sugestão de Baltazar Rebelo de Sousa, se reunia periodicamente no restaurante Choupana desde 1955. 

O ‘grupo da Choupana’ mexeu-se para vencer a desconfiança dos militares. O chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, Venâncio Deslandes, salazarista até à medula, opunha-se a Caetano. Mas a maioria dos generais não o seguiu. A maior parte das chefias militares declarou-se na disposição de apoiar qualquer pessoa que Thomaz escolhesse com uma condição: seguir sem hesitações a política ultramarina.

Caetano tomou posse em 27 de setembro de 1968 - uma sexta-feira, dia ‘bastante nublado’, segundo a agenda de Américo Thomaz. Fez questão de ficar com todo o Executivo herdado de Salazar. Apenas quatro ministros pediram para sair. A pouco e pouco, foi-se livrando da herança salazarista e chamando ao governo gente da sua inteira confiança. 

Caetano fez questão de impor um novo estilo. No primeiro dia de trabalho, convidou os jornalistas que o seguiam desde casa a entrarem no seu gabinete. Não havia memória de Salazar alguma vez ter descido à terra; o lugar onde despachava, onde recebia, era terreno sagrado e inacessível, apenas ao alcance de uns poucos acólitos. O Diário de Notícias recordava, então, que: “O novo chefe do governo é também chefe de família.” O país entusiasmou-se com os novos tempos da “primavera marcelista”. Mas o ‘chefe de família’, afinal, era como o outro…

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