Uma profissão que já não existe

Uma profissão que já não existe

Há 50 anos no DN
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A 11 de fevereiro de 1974 foi  o primeiro dia de trabalho da dona de casa Irena Coyman, com destaque direto de Nova Iorque no DN do dia 12.  A senhora americana retratava a mais nova profissão que surgiu na altura: car sister. Numa tradução literal, era uma ama para carros. Basicamente, Irena ficava numa fila, aparentemente muito longa, para cuidar dos carros enquanto não chegava a vez de abastecer.  

O motivo do surgimento do ofício era destacado logo na segunda frase do texto: o custo da gasolina era de um dólar e meio (40 escudos, na cotação da época). A curta notícia tinha um detalhe que hoje não passaria despercebido pelos leitores do jornal e se repercutiria nas redes sociais.

As “bichas” para a gasolina dão origem a nova profissão. Sim, a palavra “bicha” estava entre aspas, uma decisão do revisor na altura. No corpo do texto foi a mesma coisa, ao relatar que o automobilista nova-iorquino estava obrigado a estar na “bicha” durante horas. Não seria uma palavra digna para estar no jornal sem aspas?

Importante ressaltar que em 1974 não havia a conotação homofóbica da palavra nem o português de Portugal estava tão influenciado pela versão brasileira. Apesar de ser uma expressão ainda muito utilizada, provavelmente a palavra “fila” seria a escolhida em 2024. 

A senhora que ficava na “bicha”, ou melhor, a car sister, dizia que o trabalho era bom para conseguir algum dinheiro extra. O facto de poder ler durante o serviço também foi posto por Irena como uma vantagem em ser car sister. Dennis, descrito como seu marido e músico, também foi entrevistado e a citação não foi a mais simpática ou foi muito irónica. “Dólar e meio por hora, ela é muito cara para mim”, disse Dennis para argumentar que não contrataria a esposa como sua car sister. 

Não fica claro se ele contratou uma car sister mais barata ou se o próprio ficou na “bicha”... Uma rápida pesquisa no Google hoje e não há nenhuma menção à profissão, que chegou ao fim. Também não há notícias de grandes filas para abastecer os carros, no máximo em alguns serviços públicos ou em pontos turísticos. Mas as profissões vão e voltam. Quem sabe um dia o preço da gasolina vai ser tão baixo que iremos precisar de ama para os nossos carros?

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