Uma ferramenta para combater a contaminação de águas subterrâneas
As águas subterrâneas são a principal fonte de água que é consumida por todos nós. As alterações climáticas e a atividade humana são elementos que têm vindo a provocar a sua contaminação. Também a diminuição do nível dos rios, lagos e aquíferos contribui para este problema. De forma a prevenir o impacto desta contaminação, a Nova School of Science and Technology / FCT Nova vai desenvolver uma ferramenta suportada por inteligência artificial para ajudar a melhorar a qualidade e a quantidade das águas subterrâneas nos próximos anos.
O projeto MAR2PROTECT, que recebeu um financiamento superior a quatro milhões de euros, é coordenado pelos investigadores Ana B. Pereiro e João M. M. Araújo. Este financiamento foi recebido no âmbito das Ações de Investigação e Inovação do Programa Horizonte Europa, o principal programa de financiamento da União Europeia para investigação e inovação. Este programa fundamental aborda as mudanças climáticas, ajuda a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e aumenta a competitividade e crescimento da UE.
A ferramenta criada pelos investigadores utiliza uma abordagem de recarga controlada dos aquíferos (MAR) que vai aumentar a quantidade e a qualidade das águas subterrâneas. A diminuição do nível da água nos rios faz com que a água do mar, em que o principal contaminante é o sal, entre nestas águas subterrâneas, além de outros tipos de compostos, levando à sua contaminação. O facto de nem todas as águas na Europa estarem a ser tratadas em estações de tratamento de águas residuais faz com que estas contaminem os aquíferos.
Vão ser colocados sensores suportados por inteligência artificial que recebem a informação em tempo real em locais de risco, além de outras informações de vital importância, como tecnologias inovadoras, preferências dos agentes sociais, avaliação de riscos, recomendações políticas, entre outras.
"Vamos colocar sensores que nos vão dar informação em tempo real dos contaminantes em rios e lagos, mas também vamos implementar esta tecnologia nas fábricas de tratamento de águas residuais para tratar estes contaminantes", diz uma das coorde- nadoras do projeto, Ana B. Pereiro, em entrevista ao DN.
Em Portugal, a fase de testes vai ser posta em prática no Rio Lima, no norte do país (Minho), que tem sido um ponto sensível de poluição das água subterrâneas, e nas Águas do Tejo Atlântico em Frielas, que serve os municípios da Amadora, Lisboa, Loures, Odivelas, Sintra e Vila Franca de Xira.
Esta ferramenta vai ainda recolher informações de diferentes ecossistemas incluindo Itália, Espanha, Holanda, Tunísia e África do Sul.
Estes locais foram escolhidos pois os países têm diferentes condições e contaminações que vão influenciar qual a recarga que vai ser feita.
Esta ferramenta consegue adaptar-se a diferentes condições, novos tipos de riscos, novas tecnologias e novos contaminantes, e pode mesmo vir a ser utilizada para dar informação em tempo real da água em fábricas de tratamento de águas, estuários, lagos e outros.
No futuro, o objetivo é que esta ferramenta seja aplicada em toda a Europa e que se produza conhecimento para encontrar soluções que ajudem os países a recuperar uma das fontes de água dos países.
Neste contexto as alterações climáticas têm um sério impacto na saúde e bem-estar humanos, tal como na segurança alimentar e na biodiversidade. Através desta ferramenta e do apoio dos legisladores, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas estarão cada vez mais perto de ser atingidos.
"Esta ferramenta vai permitir criar modelos de como as mudanças climáticas vão afetar os aquíferos nos próximos anos, quais os maiores riscos e quais podem ser os planos de contingência para minimizar estes riscos", explica Ana B. Pereiro. A partir daqui, este projeto procura envolver entidades legisladoras nacionais e europeias e, em colaboração com vários especialistas, servirá "para produzir as recomendações políticas a nível europeu para prevenir a contaminação das águas subterrâneas".
O MAR2PROTECT é um consórcio liderado pela FCT Nova que envolve sete organizações de investigação e tecnologia, duas universidades, uma entidade de trans- ferência de tecnologia, três empresas de abastecimento de água e uma administração pública.
sara.a.santos@dn.pt