Um terço dos bebés nascidos é de mães estrangeiras e "o mais importante é o acolhimento"

É das maiores maternidades do país, e a maior da região Sul. Este ano, e até ao final de novembro, já ali nasceram quase três mil bebés, sendo que destes 32% são de mães estrangeiras, uma realidade que a unidade destaca no âmbito do Dia Internacional do Migrante, que se assinala este domingo, para dizer, com "orgulho e satisfação", o que tem feito para se adaptar e melhor tratar mulheres e bebés.
Publicado a
Atualizado a

É das maternidades mais antigas do país, se não for a mais antiga, tendo realizado 605 mil partos desde o dia 5 de dezembro de 1932, quando abriu portas, até ao dia 30 de novembro de 2022. Mas no ano que ainda decorre, e até final de novembro, a Maternidade Alfredo da Costa (MAC) já contabilizava 2859 partos, 49 036 consultas médicas (15 566 primeiras consultas e 33 470 consultas seguintes) e 5764 consultas de enfermagem. A grande curiosidade é que um em cada três bebés que hoje ali nascem já são filhos de mães estrangeiras, mais 12% do que há cinco anos.

Segundo dados divulgados pela maternidade, que integra o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, e no âmbito do Dia Internacional do Migrante, assinalado amanhã, 32% dos bebés ali nascidos são de mães estrangeiras, sendo a nacionalidade que aparece em primeiro lugar a brasileira, com 21,9%, depois a nepalesa com 15,2%, a bengali com 11,6% e a angolana com 7,1%. Uma realidade que tem vindo a aumentar nos últimos anos e que obrigou a unidade a ter de se adaptar "à diversidade cultural respeitando a multiculturalidade".

E isto porque, como diz a enfermeira chefe do Serviço de Urgência da MAC, Anabela Silva Dias, "o mais importante é saber acolher estas mulheres, muitas delas chegam inseguras, com dores ou em situações mais complicadas, sem saber falar português ou inglês, e o nosso trabalho também passa muito por aqui, porque tecnicamente estamos capacitados para prestar cuidados em qualquer circunstância".

A necessidade de adaptação e de melhor acolhimento fez mesmo que, um dia, uma enfermeira, tenha tido a ideia de se criar um manual com perguntas importantes para a triagem e para a posterior intervenção médica ou de enfermagem em várias línguas. "Foi criado um grupo de trabalho que selecionou questões - como: Está grávida? Quando foi a última menstruação? Tem livro de grávida ou é acompanhada em Portugal? Sente o bebé mexer? Tem dores, onde?, etc - e com a ajuda de embaixadas e de associações de apoio a migrantes conseguimos traduzi-las para, pelo menos, nove línguas, Alemão, Árabe, Crioulo da Guiné Bissau, Espanhol, Francês, Inglês, Mandarim, Nepalês e Russo. Estas questões são dadas às mulheres na língua que dizem entender e é assim que procuramos logo uma primeira comunicação com elas", descreve a enfermeira chefe.

Embora destaque: "Normalmente, as mulheres que não sabem falar português ou inglês vêm acompanhadas do companheiro ou de outra pessoa que fala, pelo menos inglês, mas é sempre importante que se tente comunicar com a mulher e o que notamos é que muitas vezes a mulher entra insegura e quando sai já depois do bebé nascer já sai sorridente e a falar algumas coisas connosco".

Anabela Silva Dias sublinha que o lado da comunicação é uma das preocupações da sua equipa. "Tenho um grupo de enfermeiros que são exímios no acolhimento a estas mulheres e em transmitir segurança", mas, muitas vezes, esta barreira com a língua, e para se melhor compreender o estado de saúde da mãe e do bebé, é muitas vezes ultrapassada com intérpretes internos. "Temos um grupo de profissionais no centro hospitalar de várias nacionalidades que estão sempre disponíveis para ajudar na tradução no caso de uma situação mais complicada", mas também já estão habituados, e quando não há alternativas socorrem-se mesmo das novas tecnologias indo ao Google Tradutor.

Outro passo importante neste acolhimento é o respeito pela diversidade cultural e costumes. "É preciso conhecer e respeitar as diferentes dinâmicas familiares, como ritos ligados à feminilidade e à maternidade e nós respeitamos tudo, desde que não coloque em causa a segurança da mãe e do bebé", refere a enfermeira chefe da urgência.

Por exemplo, e no que diz respeito aos hábitos alimentares, estes também são respeitados. Aliás, explicam, "as nutricionistas da instituição aprofundaram o seu conhecimento para adequarem as dietas às necessidades nutricionais da gravidez, não descurando as culturas próprias. Esta intervenção é muito importante na consulta de gravidez e diabetes, doença muito prevalente entre a população asiática".

Anabela Silva Dias destaca ainda que "existe diariamente uma listagem com a dieta adequada a cada mulher", mas isto acontece quer a mulher esteja grávida ou tenha de ser observada ou internada por qualquer situação ginecológica. O tratamento é o mesmo. A MAC explica que "o trabalho interequipas começou há vários anos na MAC e a experiência adquirida tem facilitado o acompanhamento e a resposta cada vez mais adequada às pessoas imigrantes, de varias comunidades".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt