Técnicos de emergência médica criticam "silêncio absoluto" das ordens sobre o socorro pré-hospitalar
A Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM) lamentou esta segunda-feira, 21 de julho, o “silêncio absoluto” das ordens dos médicos e dos enfermeiros sobre o socorro pré-hospitalar, apontando o exemplo das ambulâncias para transporte de grávidas na margem sul.
Em comunicado, a associação salientou que o desenvolvimento de um serviço médico de emergência eficaz “tem enfrentado diversos bloqueios institucionais” por parte das duas ordens, que têm alegado “que determinadas práticas constituem atos próprios das suas profissões”.
Perante a “situação crítica” na Península de Setúbal, onde estão alocadas duas ambulâncias destinadas ao transporte de grávidas com tripulantes com formação “insuficiente e deficiente” para assegurar cuidados médicos de emergência críticos, “causa estranheza o silêncio absoluto” das ordens profissionais, realçou a ANTEM.
“Onde está, neste caso, a defesa dos atos próprios?”, questionou a associação, que pergunta ainda por que razão as ordens dos médicos e dos enfermeiros não manifestam agora a “mesma preocupação quando a prestação de cuidados é entregue a profissionais sem formação clínica de base, nem habilitação técnica adequada para a complexidade de muitas situações emergentes”.
“A ANTEM reafirma que a construção de um serviço médico de emergência moderno, seguro e eficaz exige profissionais qualificados, educação e treino robustos, definição de competências claras e uma abordagem integrada centrada no paciente e não na defesa de corporações”, salienta o comunicado, que considera que o “silêncio das ordens é ensurdecedor e, neste caso, comprometedor”.
Em causa estão duas novas ambulâncias que reforçaram, desde a última semana, a resposta das urgências obstétricas na margem sul do Tejo, com o objetivo de garantir condições de segurança e rapidez na assistência às grávidas durante o verão.
Estes meios de socorro, que devem funcionar até 30 de setembro, estão concentrados nos hospitais com urgências obstétricas encerradas na margem sul, que funcionam em regime de rotatividade entre os hospitais de Almada, Barreiro e Setúbal, explicou a Liga dos Bombeiros Portugueses.
Recentemente, a ministra da Saúde anunciou que o Hospital Garcia de Orta, em Almada, vai ter a urgência de obstetrícia aberta 24 horas por dia a partir de setembro, com o reforço de médicos que estavam no privado e que vão passar a integrar o Serviço Nacional de Saúde.
Ana Paula Martins reconheceu que a Península de Setúbal é a "área mais crítica" na resposta de ginecologia e obstetrícia, admitindo que vai levar "algum tempo a conseguir estabilizar” os cuidados de saúde desta especialidade na região.
Uma das soluções poderá passar pela criação de urgências regionais, previstas no programa do Governo, que serão constituídas por equipas partilhadas entre hospitais, dando prioridade às “especialidades mais críticas” ao nível dos recursos humanos, como a obstetrícia e a pediatria.
Segundo a ministra, a criação de urgências regionais implica diplomas próprios, que vão ter de ser negociados em setembro com os sindicatos, alegando que o Governo não pode avançar com a medida sem negociar a nova organização do trabalho.