No Largo da Sé, a EMEL fiscalizou o trânsito e o estacionamento dos tuk tuks.
No Largo da Sé, a EMEL fiscalizou o trânsito e o estacionamento dos tuk tuks.FOTO: Leonardo Negrão

Tuk tuks em Lisboa. “Como é que vai ser no pico do verão? Não há fiscais que cheguem”

Capital tem agora mais de 300 ruas interditas a estes veículos. EMEL foi reforçada e fiscaliza o cumprimento juntamente com a Polícia Municipal.
Publicado a
Atualizado a

Proibir tuk tuks de circular em certas zonas da cidade de Lisboa tão “de repente” é “como ter três filhos e, de repente, sair uma lei a dizer que só podes ter dois. O que fazes ao outro? Mandas fora?”

O lamento é de um operador turístico de um destes veículos, que não quis ser identificado e é dito ao DN em frente à Sé de Lisboa, um dos pontos que, a partir desta segunda-feira, passaram a ter funcionários da EMEL a reforçar a fiscalizar o estacionamento e a interdição de circulação dos tuk tuks “nas zonas mais importantes: Nossa Senhora do Monte, Terreiro do Paço, Belém e Encosta do Castelo.”

O primeiro dia de abril trouxe consigo esta nova proibição, que abrange 337 ruas da cidade, juntando assim 62 novas artérias às 275 que já estavam interditas.

O ambiente no Terreiro do Paço, um dos locais onde podem circular, durante a tarde, era calmo. Dois fiscais da EMEL, vestindo coletes refletores, passeiam à beira-rio. Há apenas um tuk tuk à vista, que estes funcionários abordam. Após uma conversa breve, sai do estacionamento improvisado junto ao Cais das Colunas e segue em direção ao Cais do Sodré.

Subimos então em direção à Sé, onde encontramos o operador que fala ao DN. Acrescenta, junto a dois funcionários da EMEL: “Estes coitados hoje estão aqui. Mas, hoje, 80% dos operadores que aqui costumam andar, não vieram. Tiraram um dia, mas recebemos à comissão, cada serviço que fazemos é o que recebemos. Então, questiono: como será no pico do verão? Não há fiscais que cheguem.” Ou nem “é preciso ir tão para a frente”, diz, “basta virem aqui no sábado de manhã e isto será a selva”.

No largo das Portas da Sol, todos os tuk tuks estavam no local certo para o estacionamento e os operadores até conversavam com os fiscais da EMEL.
No largo das Portas da Sol, todos os tuk tuks estavam no local certo para o estacionamento e os operadores até conversavam com os fiscais da EMEL.FOTO: Leonardo Negrão

Atenta à conversa está uma das funcionárias da EMEL presentes no Largo da Sé, que concorda com o operador turístico. “Estes coitados”, diz o homem, “não têm culpa. Os problemas são maiores. Falta regulação, sempre se defendeu isso. É uma loucura aquilo que às vezes se passa aqui e isto não é de agora. Vem de há muitos anos. Estão a tentar corrigir um problema com um penso rápido.”

Enquanto isso, passa um outro motorista, que pede “por favor” que o deixem estacionar um pouco mais à frente dos locais marcados para este tipo de veículos: “Ando aqui há dez minutos às voltas. Posso, por favor, parar um bocado? Não consigo estacionar, pá!” Os fiscais acabam por ceder, deixando-o parar uns minutos no local, que, com o dia solarengo, está apinhado de turistas.

Continuando a subir, no largo das Portas do Sol, mais dois ou três tuk tuks. Estacionados no local correto, os operadores até conversam com os fiscais da EMEL que por ali estão. Tirando o período da manhã, em que “houve algumas pessoas que foram surpreendidas”, o resto do dia estava “a ser calmo”.

Junto ao Cais das Colunas, os tuk tuks ainda podem circular.
Junto ao Cais das Colunas, os tuk tuks ainda podem circular.FOTO: Leonardo Negrão

Por várias travessas, subimos até ao Castelo de São Jorge. Aí, tudo mais tranquilo. Apesar de vários fiscais da EMEL circularem pela zona, não há tuk tuks à vista. No entanto, ali ao lado, numa outra rua, duas condutoras são avisadas pelos fiscais no local: “Já passaram os 15 minutos” que tinham para estar paradas naquele local , avisam, acrescentando que “a partir de amanhã [hoje]” vai haver “multas” para quem não cumprir as regras.

EMEL foi reforçada e vai apoiar Polícia Municipal

Para estas operações de fiscalização que se iniciaram esta segunda-feira, a EMEL foi reforçada com 62 fiscais que, agora, passam a apoiar a Polícia Municipal nestas fiscalizações - liderando também as operações no terreno.

Esta medida de fiscalização, defendeu a Câmara Municipal de Lisboa num comunicado, “é um um passo determinante para impor regras” aos tuk tuks “e exigir o seu cumprimento na mobilidade da cidade de Lisboa”. Segundo a autarquia, “o trabalho de fiscalização vai apertar o cerco ao incumprimento e acresce às operações da Polícia Municipal”. Em 2024, o número de ocorrências registadas em relação a 2023 “duplicou”, passando para as 3821.

Funcionários da EMEL fiscalizaram o estacionamento e a circulação de tuk tuks na zona histórica de Lisboa.
Funcionários da EMEL fiscalizaram o estacionamento e a circulação de tuk tuks na zona histórica de Lisboa.FOTO: Leonardo Negrão

Com esta alteração, a câmara criou também 165 novos lugares de estacionamento para os tuk tuks. Até porque, segundo os dados da autarquia, cerca de 60% do total das infrações registadas em 2024 foram relacionadas a “estacionamento irregular”. Seguiram-se a não utilização do cinto de segurança, bem como a circulação da via BUS e o “transporte de pessoas em número superior ao permitido”.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt