Tuk tuks em Lisboa. “Como é que vai ser no pico do verão? Não há fiscais que cheguem”
Proibir tuk tuks de circular em certas zonas da cidade de Lisboa tão “de repente” é “como ter três filhos e, de repente, sair uma lei a dizer que só podes ter dois. O que fazes ao outro? Mandas fora?”
O lamento é de um operador turístico de um destes veículos, que não quis ser identificado e é dito ao DN em frente à Sé de Lisboa, um dos pontos que, a partir desta segunda-feira, passaram a ter funcionários da EMEL a reforçar a fiscalizar o estacionamento e a interdição de circulação dos tuk tuks “nas zonas mais importantes: Nossa Senhora do Monte, Terreiro do Paço, Belém e Encosta do Castelo.”
O primeiro dia de abril trouxe consigo esta nova proibição, que abrange 337 ruas da cidade, juntando assim 62 novas artérias às 275 que já estavam interditas.
O ambiente no Terreiro do Paço, um dos locais onde podem circular, durante a tarde, era calmo. Dois fiscais da EMEL, vestindo coletes refletores, passeiam à beira-rio. Há apenas um tuk tuk à vista, que estes funcionários abordam. Após uma conversa breve, sai do estacionamento improvisado junto ao Cais das Colunas e segue em direção ao Cais do Sodré.
Subimos então em direção à Sé, onde encontramos o operador que fala ao DN. Acrescenta, junto a dois funcionários da EMEL: “Estes coitados hoje estão aqui. Mas, hoje, 80% dos operadores que aqui costumam andar, não vieram. Tiraram um dia, mas recebemos à comissão, cada serviço que fazemos é o que recebemos. Então, questiono: como será no pico do verão? Não há fiscais que cheguem.” Ou nem “é preciso ir tão para a frente”, diz, “basta virem aqui no sábado de manhã e isto será a selva”.
Atenta à conversa está uma das funcionárias da EMEL presentes no Largo da Sé, que concorda com o operador turístico. “Estes coitados”, diz o homem, “não têm culpa. Os problemas são maiores. Falta regulação, sempre se defendeu isso. É uma loucura aquilo que às vezes se passa aqui e isto não é de agora. Vem de há muitos anos. Estão a tentar corrigir um problema com um penso rápido.”
Enquanto isso, passa um outro motorista, que pede “por favor” que o deixem estacionar um pouco mais à frente dos locais marcados para este tipo de veículos: “Ando aqui há dez minutos às voltas. Posso, por favor, parar um bocado? Não consigo estacionar, pá!” Os fiscais acabam por ceder, deixando-o parar uns minutos no local, que, com o dia solarengo, está apinhado de turistas.
Continuando a subir, no largo das Portas do Sol, mais dois ou três tuk tuks. Estacionados no local correto, os operadores até conversam com os fiscais da EMEL que por ali estão. Tirando o período da manhã, em que “houve algumas pessoas que foram surpreendidas”, o resto do dia estava “a ser calmo”.
Por várias travessas, subimos até ao Castelo de São Jorge. Aí, tudo mais tranquilo. Apesar de vários fiscais da EMEL circularem pela zona, não há tuk tuks à vista. No entanto, ali ao lado, numa outra rua, duas condutoras são avisadas pelos fiscais no local: “Já passaram os 15 minutos” que tinham para estar paradas naquele local , avisam, acrescentando que “a partir de amanhã [hoje]” vai haver “multas” para quem não cumprir as regras.
EMEL foi reforçada e vai apoiar Polícia Municipal
Para estas operações de fiscalização que se iniciaram esta segunda-feira, a EMEL foi reforçada com 62 fiscais que, agora, passam a apoiar a Polícia Municipal nestas fiscalizações - liderando também as operações no terreno.
Esta medida de fiscalização, defendeu a Câmara Municipal de Lisboa num comunicado, “é um um passo determinante para impor regras” aos tuk tuks “e exigir o seu cumprimento na mobilidade da cidade de Lisboa”. Segundo a autarquia, “o trabalho de fiscalização vai apertar o cerco ao incumprimento e acresce às operações da Polícia Municipal”. Em 2024, o número de ocorrências registadas em relação a 2023 “duplicou”, passando para as 3821.
Com esta alteração, a câmara criou também 165 novos lugares de estacionamento para os tuk tuks. Até porque, segundo os dados da autarquia, cerca de 60% do total das infrações registadas em 2024 foram relacionadas a “estacionamento irregular”. Seguiram-se a não utilização do cinto de segurança, bem como a circulação da via BUS e o “transporte de pessoas em número superior ao permitido”.