Produção caseira de droga e esteroides, fornecidos a traficantes e levados a reclusos de estabelecimentos prisionais de Portugal, com apoio de guardas prisionais e um agente da PSP. Este foi o esquema desmantelado pela Polícia Judiciária (PJ) ontem na Operação Mercado Negro, realizada em locais de Lisboa, Alcoentre, Sintra e Funchal. Foram constituídas arguidas 26 pessoas, sendo que cerca de metade são guardas prisionais. Dois guardas foram detidos e um é agente da Polícia de Segurança Pública (PSP)..“Já havia sinais de que estavam a entrar estupefacientes e telemóveis em algumas prisões” .De acordo com informações obtidas pelo DN junto de fontes ligadas à operação, o agente da PSP, que trabalha no Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis), atuava como um intermediário entre os traficantes e os guardas prisionais. Já os dois guardas detidos trabalhavam no Estabelecimento Prisional junto da Polícia Judiciária (EPPJ), em Lisboa. No local, de acordo com imagens divulgadas pela PJ, os inspetores e peritos encontraram estupefacientes, muitos deles fracionados em pequenas doses para venda, balanças de precisão, equipamentos para fracionar comprimidos, embalagens diversas, caixas e substâncias utilizadas na confeção dos estupefacientes, além de diversos outros objetos.“Esse laboratório era o principal instrumento no qual se passavam estes anabolizantes para o meio prisional”, resumiu Luís Neves, diretor da Polícia Judiciária. Para o responsável, é inadmissível que os reclusos tenham acesso a estes produtos. “É intolerável que quem está a cumprir pena tenha acesso a produtos estupefacientes, a anabolizantes, porque põe em causa a segurança e a estrutura própria de cada estabelecimento prisional”, frisou.Outros locais alvo de buscas foram o Hospital Prisional em Caxias, o Estabelecimento Prisional da Carregueira, o Estabelecimento Prisional de Lisboa (EPL), as prisões de Sintra, Alcoentre, Funchal, Linhó e o Estabelecimento Prisional junto da Polícia Judiciária (EPPJ), em Lisboa. O objetivo foi encontrar provas da participação de dois guardas prisionais no esquema e outros profissionais que trabalham no meio prisional. Os cacifos dos dois guardas suspeitos, foram revistados pela PJ, além da residência de um desses elementos do corpo da Guarda Prisional. Entre os objetos apreendidos nas buscas estão telemóveis. Segundo a PJ, o “alegado projeto criminoso” era “praticado, entre outros, por guardas prisionais que facilitam a entrada de subs- tâncias ilícitas nos estabelecimentos prisionais a troco de vantagem patrimonial”. Em declarações aos jornalistas ontem à tarde, em Évora, a ministra da Justiça, Rita Júdice, garantiu que “todos os visados que sejam constituídos arguidos serão imediatamente suspensos e objeto de um processo disciplinar”. Ao mesmo tempo, disse que “não podemos confundir a floresta com as árvores. A nossa preocupação é combater este flagelo”. Para Luís Neves, a operação alcançou objetivos e a investigação prossegue. “Nós conseguimos alcançar os nossos objetivos, é uma investigação que vai prosseguir com objetivos mais longos, detivemos muitos intervenientes que não são guardas prisionais, mas são elementos que, através do tráfico e das suas práticas, introduzem estes produtos ilícitos no meio prisional”, explicou.Os crimes investigados são corrupção ativa e passiva, tráfico de estupefacientes, tráfico de substâncias e métodos proibidos, falsificação de documentos e branqueamento. De acordo com a PJ, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais “prestou toda a colaboração à investigação desenvolvida, designadamente, através da Direção dos Serviços de Segurança e do Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP)”. Neves elogiou a postura de colaboração da DGRS e definiu-a como “trabalho em equipa”.A Operação Mercado Negro contou com a participação de 200 profissionais, acompanhados por uma juíza de instrução e uma magistrada do Ministério Público.amanda.lima@dn.pt.PJ desmantela esquema criminoso em estabelecimentos prisionais. Há 13 detidos, dois são guardas prisionais