Um oficial e dois guardas da GNR detidos por suspeitas de corrupção

São do comando de Portalegre e receberiam dinheiro para "fechar os olhos" a irregularidades.Três civis também detidos
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Um oficial do comando territorial de Portalegre da GNR e dois guardas, um do destacamento de Trânsito e outro do destacamento fiscal da zona, foram detidos por colegas da Guarda, por suspeitas de corrupção. A investigação que levou à detenção dos três militares, e ainda de três civis, foi desenvolvida em exclusivo pela Unidade de Ação Fiscal da GNR ao longo de vários meses, adiantou ao DN o porta--voz do comando-Geral da Guarda, major Marco Cruz. A coordenação coube ao Ministério Público (Departamento de Investigação e Ação Penal de Évora).

O oficial e os dois guardas, na casa dos 40 anos e com muita experiência profissional, são suspeitos de receberem "luvas" para fecharem os olhos a irregularidades, soube o DN, em alegados atos de corrupção passiva. Não foi possível saber ainda que montantes foram apurados na investigação da Unidade de Ação Fiscal, que durava há muitos meses. Relativamente aos militares envolvidos, além do processo criminal, será aberto um processo disciplinar pela corporação, disse a GNR.

Suspensos de funções

Amanhã, os seis arguidos deste inquérito serão presentes ao tribunal de Évora para conhecerem as medidas de coação. Uma das medidas a aplicar aos três militares será a suspensão de funções, que é quase automática em processos por corrupção, uma vez que a suspeita da prática do crime está relacionada com a atividade profissional.

O oficial e os dois guardas passaram a noite de ontem detidos em instalações da Guarda, confirmou o major Marco Cruz.

Caso venham a ser provados os factos no processo-crime, os três militares da GNR arriscam vir a ser expulsos da corporação, com a inevitável perda de direitos que daí advém. O DN tentou saber mais sobre os factos imputados ao oficial e aos dois guardas mas não foi possível ter mais pormenores nesta fase do inquérito.

Processo com 173 arguidos

A última investigação em que foi noticiada a corrupção no interior da GNR foi conhecida em 15 de janeiro de 2014, quando elementos da Esquadra de Investigação Criminal (EIC) da PSP de Cascais detiveram um sargento, um cabo e dois guardas da GNR de Alcabideche. Os militares, da área da investigação criminal, eram suspeitos de dar informações, a troco de dinheiro, a sucateiros ilegais da zona de Lisboa. Também esses militares andavam na casa dos 40 anos e tinham já muitos anos de trabalho na Guarda, sendo até bem considerados. Ficaram indiciados pelos crimes de corrupção passiva e ativa.

Mas o processo mais mediático, até hoje, foi o da corrupção na Brigada de Trânsito-GNR, que levou 195 arguidos a tribunal, desses 173 militares e 22 empresários. Em última análise, contribuiu para a extinção da BT. O despacho de pronúncia foi de março de 2004. Os militares pronunciados eram de vários comandos, nomeadamente de Lisboa, Leiria, Torres Vedras, Carregado, Coimbra, Santarém e Setúbal. As suspeitas foram da corrupção e extorsão até à associação criminosa. Entre as vítimas estavam camionistas apanhados em situação irregular. A infracção mais comum centrava-se no facto de os pesados transportarem carga a mais. Também algumas empresas terão sido convidadas a entrar nos esquemas. Muitas vezes o perdão das multas era pago em materiais de construção ou combustível e dinheiro. Os sinais exteriores de riqueza dos elementos da BT levantaram suspeições.

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