Três mil polícias voltaram às ruas. “José Luís Carneiro não teve força política”, acusa sindicato
A expectativa inicial para a adesão estava na “casa dos milhares” e acabou por se confirmar. Segundo avançou fonte da organização ao DN, “pelo menos” três milhares de polícias concentraram-se no Terreiro do Paço, em Lisboa. O local não foi escolhido ao acaso. Afinal, é ali que se situa o Ministério da Administração Interna (MAI).
Em declarações ao DN, Bruno Pereira, porta-voz da Plataforma (que agrega vários sindicatos do setor), explicou que “não é por acaso que é a primeira vez” que se manifestavam ali. “Para o bem e para o mal, o nosso interlocutor é o ministro [José Luís Carneiro] e foi um interlocutor que não teve mão firme durante dois anos. Não teve força política suficiente para lembrar que uma decisão política positiva, que valorizou, entre várias coisas, a Polícia Judiciária, o Serviço de Informações, agentes do Sistema de Administração Interna, devia ser estendida com a devida valorização das forças de segurança”, disse.
Além disso, segundo Bruno Pereira, a escolha do dia também foi pensada. Feito no dia em que Pedro Nuno Santos, líder do PS, e Luís Montenegro, líder da AD, debateram (ler mais na última página). “É tudo menos coincidência. Queremos impactar positivamente o debate, para que haja, efetivamente, uma discussão profunda e uma renovação dos votos que já foram feitos e assumidos por parte de ambos os candidatos relativamente à questão”, diz Bruno Pereira, que afirmou ainda querer que PS e AD garantam que “não se admitirá que se perpetue muito mais” a resolução deste diferendo.
Esta segunda-feira, os guardas prisionais anunciaram que vão levar a cabo, esta quinta-feira, uma vigília junto ao estabelecimento prisional de Lisboa, seguindo depois “em marcha fúnebre” até ao Ministério da Justiça, onde será depositado um caixão em representação do corpo da guarda prisional, como forma de protesto. Questionado pelo DN sobre eventuais ações para este dia, o porta-voz não confirma nada... mas também não fecha a porta. “É uma questão que ainda não discutimos internamente, não me posso adiantar relativamente a essa discussão”, acrescentou.
Por entre cartazes com slogans e gritos de união (“A polícia unida, jamais será vencida”), quem por ali passava não ficava indiferente à manifestação simbólica em frente às instalações do ministério. Vários eram os turistas que paravam para cplar ou tentar compreender o que ali acontecia. O protesto acabou por se dirigir de forma espontânea para o Cineteatro Capitólio, onde decorreu o debate entre os dois candidatos. O percurso de quase dois quilómetros foi feito a pé e sem um corte prévio do trânsito na baixa lisboeta.
Diferendo arrasta-se há vários meses
A luta dos polícias não é nova. Arrastando-se há já dois meses: os agentes da PSP e os militares da GNR pedem um tratamento igual em relação à Polícia Judiciária (PJ), que acusam de ser privilegiada em certos aspetos, como os valores do suplemento de turno, de piquete e de risco.
Tudo começou com uma petição (Por um tratamento condigno e paritário da PSP, da GNR e do CGP [Corpo de Guarda Prisional]), publicada em dezembro de 2023 e que conta já com quase 25 mil assinaturas, onde são feitas acusações ao Governo, dizendo que o Executivo trata “uns como filhos e outros como enteados” em relação à igualdade de suplementos nas forças de segurança. Isto porque o Governo aprovou um aumento para os inspetores da PJ que, em alguns casos, pode significar quase 700 euros por mês - o que levou à indignação da PSP e da GNR.
Como consequência, há várias semanas que as forças de segurança estão num diferendo com o Governo, tendo já saído para a rua no final de janeiro, em Lisboa e no Porto. Estes foram considerados os maiores protestos deste género, juntando vários milhares de elementos de GNR e PSP.
Entretanto, a contestação subiu de tom e teve maior visibilidade quando, devido à falta de forças de segurança, o jogo entre Famalicão e Sporting, a contar para a I Liga, não se realizou (ver caixa). Nesse dia, o porta-voz do Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol), Armando Ferreira, deixou no ar a possibilidade de os elementos das forças de segurança não poderem transportar os votos das eleições legislativas de março, o que motivou a intervenção do MAI, com quem os responsáveis máximos da PSP e GNR se reuniram depois.
Na semana passada, o MAI convocou a Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) para uma reunião para discutir a regulamentação do regime dos serviços remuneradores, mas o sindicato recusou-se a estar presente, dizendo tratar-se de uma “reunião de fachada”, para “encenar uma negociação”.
Momentos-chave
Armas entregues: Como forma de protesto, alguns agentes das forças de segurança tentaram entregar as armas de serviço, havendo também relatos de agentes a falharem as provas de tiro por se sentirem desmotivados para desempenharem as funções que lhes competiam.
Famalicão-Sporting: O jogo da I Liga entre famalicenses e leões não se realizou devido à falta de efetivo policial. A maior parte dos polícias escalados para garantir a segurança meteram baixa médica e não houve meios suficientes para que o jogo fosse para a frente. O MAI abriu um “inquérito urgente” a esta situação.
Segurança aeroportuária: Poucos dias após a situação no Famalicão-Sporting, começaram também a verificar-se várias baixas médicas no efetivo de segurança aeroportuária. Tal como o DN noticio a 6 de fevereiro, a situação era tida como “crítica” e o efetivo estava reduzido a menos de metade.