Greve de trabalhadores da Portway cancela 83 voos em Lisboa e no Porto. Empresa fala em adesão "inferior a 10%"
Os trabalhadores da Portway dão esta sexta-feira início a uma greve de três dias nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro e Madeira, convocada pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (Sintac), que já está a causar perturbações na operação.
A greve já levou ao cancelamento de 83 voos nos aeroportos de Lisboa e Porto, segundo contas da Lusa a partir da informação do site da ANA - Aeroportos de Portugal.
De acordo com os dados consultados pela Lusa, foram canceladas 30 partidas e 23 chegadas em Lisboa e 15 partidas e 15 chegadas no Porto.
A maioria dos voos cancelados são da easyJet, que na quinta-feira avisou decidiu cancelar previamente alguns voos em Lisboa e Porto devido à greve, informando os seus passageiros.
Não foram registados cancelamentos em Faro nem no Funchal, os outros aeroportos abrangidos pelo pré-aviso de greve de três dias, convocada pelo Sintac.
A ANA - Aeroportos de Portugal e a Portway alertaram na quinta-feira para possíveis perturbações em 22 companhias aéreas que operam nos aeroportos nacionais.
Numa nota divulgada nos seus 'sites' a gestora dos aeroportos nacionais, detida pela Vinci, e a empresa de assistência em terra, do mesmo grupo, publicaram uma lista de "companhias aéreas cujos voos poderão ser afetados pela greve convocada por um sindicato" na empresa de assistência em terra.
As companhias em causa são a Aegean, Air Canada, Air Transat, American Airlines, Blue Air, Brussels, Cabo Verde Airlines, Easyjet, Euroatlantic, European Air Transport, Eurowings, Finnair, Flyone, Latam, Luxair, Swiftair, Transavia, Transavia France, Tunisair, Turkish Airlines, Volotea e Wizzair. Estas empresas recorrem aos serviços da Portway, sendo que existe outra empresa de 'handling' em Portugal, a Groundforce.
A empresa de 'handling' Portway já veio dizer que a greve está a ter "uma adesão inferior a 10%".
"A greve convocada pelo Sintac está a ter uma adesão inferior a 10%. Sendo uma greve setorial, da assistência em terra às companhias aéreas, está a provocar cancelamentos de voos nas operações assistidas pela Portway nos aeroportos de Lisboa e Porto. Nos aeroportos de Faro e Funchal não são esperados constrangimentos", disse a empresa em comunicado.
O Sintac aponta, por sua vez, para números muito superiores, referindo uma "adesão de cerca de 90% em Lisboa, 85% no Porto, Funchal entre 60 a 70% e em Faro 40 a 50% de adesão".
A empresa "lamenta os incómodos que esta situação está a causar aos passageiros e aconselha os viajantes a confirmarem os respetivos voos junto das companhias aéreas, antes de se dirigirem para os aeroportos".
Para a Portway, esta greve é "um ato irresponsável, pois os motivos para a convocar não correspondem à realidade", garantindo que "compromete a recuperação do setor e da economia nacional num período de intensa atividade da aviação e do turismo e afeta seguramente a capacidade de a empresa traduzir a tão esperada recuperação financeira em melhores condições para os trabalhadores".
"A Portway apela ao sentido de responsabilidade do Sintac para que sejam respeitados os serviços mínimos decretados pelo Governo", segundo a mesma nota.
A empresa voltou ainda a atacar as alegações do sindicato.
"A Portway cumpre com toda a legislação e regulamentação aplicáveis, incluindo os Acordos de Empresa em vigor e os direitos laborais dos seus trabalhadores, que incluem o direito à greve e o direito a trabalhar em plena liberdade e consciência", referiu, garantindo ainda que "não contratou serviços externos para fazer face à greve, quem o pode fazer, legitimamente, são as companhias aéreas e os aeroportos".
A empresa destacou ainda que a "ANAC [Autoridade Nacional da Aviação Civil] e a ACT [Autoridade para as Condições do Trabalho] estão no terreno para verificar a legitimidade de todas as situações".
A Portway assegurou que "foram feitas atualizações remuneratórias desde o exercício de 2019 até à presente data que representam um aumento de 11% nas remunerações dos trabalhadores que se encontraram ao serviço da empresa durante esse período" e que "os feriados são pagos com um acréscimo de 150% face ao valor/hora", defendendo que "cumpre todas as regras relativas ao pagamento dos feriados, não existindo qualquer decisão que suporte qualquer entendimento em contrário".
Por fim, a empresa realçou que "privilegia a segurança acima de tudo e repudia veementemente qualquer acusação de cedências ou facilitismos operacionais que possam comprometer a segurança dos seus clientes, passageiros e trabalhadores" e que "não compactua com facilitismos nas áreas da segurança operacional".
A paralisação, marcada para hoje, sábado e domingo, contesta "a política de RH [recursos humanos] assumida ao longo dos últimos anos pela Portway, empresa detida pelo grupo Vinci, de confronto e desvalorização dos trabalhadores por via de consecutivos incumprimentos do Acordo de Empresa, confrontação disciplinar, ausência de atualizações salariais, deturpação das avaliações de desempenho que evitam as progressões salariais e má-fé nas negociações", indicou o sindicato.
O pré-aviso prevê a paralisação geral dos trabalhadores da empresa de assistência em terra, nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro e Madeira, com início às 00:00 de hoje e fim às 24:00 de domingo.
O Sintac acusa a Portway de promover um "clima de terror psicológico, onde proliferam ameaças e instauração de processos disciplinares, criando uma instabilidade social sem ímpar na história da empresa", e os trabalhadores reivindicam o cumprimento do Acordo de Empresa de 2016 e uma avaliação de desempenho que não sirva para evitar progressões.
O Sintac quer ainda o pagamento de feriados a 100% a todos os trabalhadores e atualizações salariais imediatas, que tenham em conta a inflação.
O sindicato e a Portway não chegaram a acordo quanto à definição dos serviços mínimos para a greve, depois de uma reunião com a Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).
Entretanto, o Sintac referiu ter conhecimento de que podem ser chamados colaboradores de empresas de trabalho temporário, "com experiência quase nula, que poderão vir a colocar em causa a segurança de voo". Por sua vez, a Portway disse que "repudia veementemente qualquer acusação de cedências ou facilitismos operacionais".
Esta semana, o Sintac acusou ainda o Governo de ter lançado um despacho "que viola o direito à greve" dos trabalhadores da Portway que prestam assistência a pessoas com mobilidade reduzida nos aeroportos nacionais e pediu a intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), garantindo que a Portway está a "comprometer" os direitos dos trabalhadores.
A greve de trabalhadores da Portway levou alguns passageiros com voos cancelados ao aeroporto de Lisboa, descontentes com as alternativas apresentadas, à procura de soluções e garantia de reembolso.
Apesar da greve de trabalhadores da empresa de assistência em terra, que, segundo o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC), está a ter uma adesão de cerca de 95%, em Lisboa, a operação no Aeroporto de Lisboa aparentava estar dentro da normalidade, na primeira manhã de três dias de paralisação.
No entanto, aos balcões da Portway acorriam alguns passageiros que, apesar de avisados atempadamente do cancelamento dos voos, estavam descontentes com as alternativas apresentadas pelas companhias aéreas e procuravam soluções para chegarem aos destinos, a tempo de regressar ao trabalho, depois das férias em Portugal.
Entre elas estava Daniel Narciso, que devia ter voado hoje pela easyJet para Genebra, na Suíça, e ficou a saber na quinta-feira noite que tal não ia acontecer.
"Tenho um bebé de cinco meses ao colo, ontem [quinta-feira], e com uma cara muito séria, aqui neste balcão, disseram-me que tinham um voo disponível para mim no final de setembro", disse à Lusa Daniel Narciso, claramente descontente com a alternativa.
Depois de contactar a linha de apoio internacional da companhia aérea de baixo custo, para quem a Portway faz o serviço de 'handling', foi-lhe apresentava uma nova opção, num voo na próxima semana, que incluía uma escala de um dia.
"Voltamos ao trabalho na segunda-feira, não dava. Comprámos outro voo, de outra companhia, no sábado. Os preços aumentaram logo, ou seja, foi a preço de ouro e nem foi para Genebra, foi para Zurique e de lá temos de apanhar um comboio", explicou Daniel Narciso, enquanto esperava pela sua vez para pedir informações sobre o reembolso do bilhete.
Também Francisco Costa ficou a saber na quinta-feira que o seu voo para Bordéus, França, pela easyJet tinha sido cancelado, devido à greve que decorre até domingo.
"Só tenho voo dia 02, tinha de estar dia 01 a trabalhar em Bordéus e não consigo", disse à Lusa, no postigo do balcão da Portway, no Terminal 2 do aeroporto de Lisboa, de onde partem sobretudo as companhia 'low cost', a maior parte clientes da Portway.
"Se eu quiser outro voo não consigo, porque estão a 500, 600, 1.000, 1.200 euros. [...] É impossível, não vou pagar tanto dinheiro, ainda por cima vou perder este, é tudo prejuízo", realçou.
Na mesma situação encontrava-se Manuela, que devia voar hoje pela mesma companhia aérea para Londres, onde recomeça o trabalho na segunda-feira, mas ficou em terra.
A greve de trabalhadores da Portway está a ter uma adesão de cerca de 90% em Lisboa, 85% no Porto, entre 60 e 70% no Funchal e entre 40 e 50% em Faro, disse o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC).
"Estamos com adesão de cerca de 90% em Lisboa, 85% no Porto, Funchal entre 60 a 70% e em Faro 40 a 50% de adesão", disse aos jornalistas o dirigente do SINTAC para a Portway, Pedro Figueiredo, em declarações junto às instalações do aeroporto de Lisboa.
Para o responsável sindical, a greve "demonstra bem o descontentamento" dos trabalhadores, que esperam que, com esta ação, a empresa se mostre "aberta ao diálogo".
O sindicato reivindica o cancelamento das avaliações ao trabalhadores, que diz terem sido feitas "de forma arbitrária", para que os trabalhadores possam progredir na carreira, e, por outro lado, que cumpra o pagamento de feriados a 100%, o que, diz, não está a acontecer desde novembro de 2019.
Pedro Figueiredo denunciou ainda que a Portway, empresa de assistência em terra em aeroportos do grupo Vinci, tem cerca de 1.200 trabalhadores efetivos e o mesmo número em trabalhadores contratados a empresas de trabalho temporário, com alguns deles a ocupar cargos de chefia.
Segundo o sindicato, estão a ser contratados trabalhadores externos com "experiência quase nula", uma situação que já denunciaram à Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), não tendo obtido ainda resposta.
Depois da greve, que acaba no domingo, o sindicato fará o balanço, para decidir a melhor forma de continuar a luta pelas suas reivindicações.
Entre os cerca de 50 trabalhadores em greve que se encontravam junto às instalações do aeroporto, estava João Palminha, operador de assistência em escala que trabalha na Portway há 10 anos.
Para aquele trabalhador, "os ordenados têm de ser revistos", até para fazer face ao aumento dos preços, devido à inflação.
"Eu estou há 10 anos numa empresa em que não tenho qualquer progressão de carreira, estou num nível baixíssimo, quase dos últimos", disse João Palminha, que admitiu sentir "muita desmotivação" no trabalho, devido às condições laborais.
O SINTAC denunciou hoje ao Governo e à Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) a contratação de serviços externos para a substituição de grevistas na Portway, que a empresa rejeita.
Em causa estão serviços de 'push-back' (trator que empurra os aviões para a pista), precisou a estrutura sindical.
Questionada pela Lusa, fonte oficial da Portway garantiu que a empresa "não contratou serviços externos para fazer face à greve", notando que, "quem o pode fazer, legitimamente, são as companhias aéreas e os aeroportos".
A greve da Portway, empresa de assistência em terra, provocou hoje de manhã extensas filas e muitas reclamações no aeroporto do Porto, devido ao cancelamento de voos, a maior parte destinados a França.
Eram dezenas de pessoas, a maioria emigrantes, que depois de terem sido avisados do cancelamento dos respetivos voos, se dirigiam esta manhã ao balcão de compra de bilhetes, em busca de uma alternativa.
Uns tentavam um voo alternativo, outros agendar nova data e muitos pediam reembolso, depois de verem goradas as suas expectativas de regressar a casa.
Indignados por não obterem a solução desejada, a maior parte questionava quem lhes iria pagar os dias de trabalho que irão perder.
Em declarações à Lusa, Sérgio Mendes, cujo destino era Paris, criticava a falta de respostas: "Mandaram-se ligar para a companhia, o que eu fiz, só que ninguém atende".
"Eu recomeço o trabalho em setembro, mas a minha mulher tem uma consulta muito importante amanhã, que não pode perder", lamentou.
Este passageiro disse ainda ter consultado a aplicação da companhia Transavia onde não constava o cancelamento do voo.
"Cheguei aqui e o voo estava cancelado. É inadmissível", criticou.
Também Rui Brito e família pretendiam regressar hoje a Lyon, mas "ninguém tem uma solução, tentei comprar outro bilhete, mas está tudo cheio e só em setembro conseguiria".
"Pedi o reembolso, porque tenho de arranjar uma alternativa, porque os meus filhos têm escola e eu trabalho", disse.
Ricardo Ferreira, dois filhos e a mulher chegaram ao aeroporto do Porto às 05:00 e ao viram que o seu voo para Genebra, na easyJet, tinha sido adiado, primeiro para as 08:30, depois para as 10:30, depois para as 12:00 e finalmente para as 13:55.
"Vamos ver o que acontece, mas temo que seja também cancelado", referiu.
Maria Miranda veio de Lion por "um dia, para celebrar uma data especial com os pais".
"Com a idade avançada dos meus pais quero aproveitar todas as datas para celebrar com eles. Não contava com isto. Informam em cima da hora, é muito mau, acho que merecemos algum respeito".
Lyon, Berlim, Genebra e Paris eram, até as 11:00, os voos cancelados que constavam no painel de informação do aeroporto do Porto.
Esta greve foi decretada pelo SINTAC -- Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro e Funchal, com início às 00:00 de hoje e fim às 24:00 de domingo.
No aeroporto do Porto, Pedro Mota, do SINTAC, disse aos jornalistas que dos "quatro ou cinco" funcionários da Portway que deveriam estar ao serviço, "apenas um compareceu, os restantes que estão a trabalhar são tarefeiros, não podem fazer greve".
Os trabalhadores estão contra a política de "confronto e desvalorização dos trabalhadores por via de consecutivos incumprimentos do Acordo de Empresa, confrontação disciplinar, ausência de atualizações salariais, deturpação das avaliações de desempenho que evitam as progressões salariais e má-fé nas negociações".
Notícia atualizada às 14:09