A esplanada do restaurante Raya da Quinta Terramay, dá para o areal da praia fluvial das Azenhas d’El Rey.
A esplanada do restaurante Raya da Quinta Terramay, dá para o areal da praia fluvial das Azenhas d’El Rey.Fotos: D.R. / TerraMay

Terramay, uma quinta sustentável que propõe comida, 'tours' e praia na Raya do Alentejo

Praticando uma agricultura regenerativa, esta quinta do Alandroal produz em harmonia com a Natureza, põe-lhe os produtos em casa com o serviço Farm to Home, e proporciona experiências únicas junto ao Alqueva.
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Uma experiência plena da vida na quinta, é isto que a Terramay (Terra Mãe), no Alandroal, a cerca de 195kms de Lisboa junto à pequena aldeia do Rosário e nas margens do Alqueva, promete a quem por lá passar. A quinta, cujo projeto foi fundado em 2018, proporciona uma imersão perfeita nas práticas agrícolas, ao lado de quem sabe, tours feitos à medida - que podem incluir passeios a cavalo ou de pónei, para as crianças, e até de barco - e maravilhosas refeições no premiado restaurante Raya, feitos por cozinheiros locais, que dominam a cozinha tradicional local. Depois de no último domingo ter sido assinalado o Dia Nacional da Conservação da Natureza, a Quinta Terramay é um excelente exemplo de simbiose entre sustentabilidade, respeito pela Natureza e lifestyle.

“Criámos o projeto há cinco anos, quando se fundou a Quinta, com o objetivo de regenerar os solos e criar uma agricultura regenerativa, como base de uma alimentação saudável”, conta ao DN, Anna de Brito, cofundadora, chefe de produto e responsável pela Comunicação da Terramay. “O objetivo é melhorar a qualidade dos solos e parar a desertificação, que está a subir do Saara com muita perda de um solo arável”, continua.

A Quinta Terramay fica no Concelho do Alandroal, junto ao Alqueva, já muito perto da fronteira com Espanha, marcada pelo Rio Guadiana. FOTO: D.R. / Terramay

Para isso, explica a chefe de produto, a Terramay “recorre a técnicas de agricultura regenerativa, como o maneio holístico do gado, a retenção da água, o keyline design e a horta de permacultura - todas técnicas em que olhamos para a natureza e tentamos ouvir e perceber como a natureza fazia antes do nosso desenvolvimento industrial”.

A gestão da quinta e feita por Anna e pelo marido, David de Brito – ele português de Castelo Branco e ela alemã. O casal vivia confortavelmente, em Berlim, com os seus dois primeiros filhos – agora há mais uma criança na família –, dedicado ao Marketing Digital, embora já na área de travel e lifestyle. E foi ao passar por terras raianas do Guadiana, junto ao Alandroal que lhes surgiu a ideia de investir para salvar aquelas terras desertas.

Para conseguir tudo isto, o casal contou com o apoio financeiro de um amigo, Thomas Sterchi, um empreendedor suíço, fundador do Festival & Academia de Música de Zermatt, em 2005, e do Festival de Cinema de Zurique, no mesmo ano. "Thomas está sedeado na Suíça, mas viaja muito e vem com frequência a Portugal e à Terramay", conta Anna de Brito. "É nosso cofundador e único investidor. Nós conhecemo-lo há mais de 15 anos, de outros projetos que desenvolvemos juntos, fundou muita coisa connosco e embarcou connosco nessa aventura de alimentação saudável, alimentação de sonho, digamos assim", diz a responsável a rir.

Na Terramay pratica-se agricultura regenarativa e de permacultura, com respeito pelos ciclos da natureza, sem pesticidas, nem agrotóxicos. FOTO: D.R. / Terramay

Mais de 500 campos de futebol de quinta e experiências únicas

A quinta tem 560 hectares - mais de 500 campos de futebol, já que cada um tem cerca de um hectare -, hoje solo rico e fértil, com produção agrícola regenerativa - legumes, fruta, cereais, pastagens -, e animais que crescem em liberdade, “com amor e carinho”: porcos pretos, vacas mertolengas, ovelhas merino, cabras serpentinas, galinhas de pasto, cavalos lusitanos e abelhas, como se pode ler no site da Terramay.

“O que nós temos para oferecer é simples: é poder participar num projeto com este nosso conceito de sustentabilidade e regeneração da natureza e, quem tem interesse em reduzir sua pegada de carbono, fazer uma alimentação saudável, a quem não bastam produtos biológicos, que não têm químicos, pesticidas, agrotóxicos, pode tornar-se membro da Terramay por 100 euros por ano.” Este valor, explica, é como um crédito, que pode ser gasto na quinta: em cabazes Farm to Home (ver texto abaixo) ou em experiências no local.

Na quinta há farm tours, que podem funcionar só como visita ou permitir participar nas atividades agrícolas ao lado de quem percebe, e que muitas vezes incluem wokshops, para aprender agricultura regenerativa. Por exemplo, uma das novidades que Anna de Brito está a considerar é a criação de um workshop sobre hortas urbanas, hoje em dia tão procurados para quem quer ter produtos frescos nas varandas ou em pequenos jardins na cidade.

Os cavalos lusitanos da quinta são dos grandes atrativos da quinta. FOTO: D.R. / Terramay

Depois há os passeios e piqueniques na quinta, a cavalo e de pónei, e em barco no Guadiana,  cuja viagem pode chegar até à albufeira do Alqueva. Além disso, a Terramay proporciona visitas à medida - tailored tours a combinar com agências como a Epic Travel, por exemplo - para pequenos grupos, em que se pode fazer uma composição de experiências a terminar numa refeição no restaurante Raya, ou num workshop de culinária ou cooking workshop, cozinhando-se os petiscos do lanche, ou mesmo o almoço farm to table. Sem esquecer os workshops de vinhos naturais e cocktails.

Quanto ao restaurante da quinta, o Raya, que em março último foi distinguido com o Prémio Sustentabilidade - Boa Cama, Boa Mesa: “É comida honesta, não é fine dine, frisa Anna de Brito. “É tudo à base dos produtos da quinta e da época, e do peixe do rio, a pensar na sustentabilidade, tudo biológico.” E feito por cozinheiros locais, que põem no prato os bons sabores da comida das nossas avós, sublinha. Tudo isto, com a mais-valia de a esplanada do Raya ficar mesmo sobre o areal da praia fluvial das Azenhas d’El Rei.

O Restaurante Raya debruça-se sobre o areal da Praia Fluvial de Azenhas d'El Rei, na albufeira do Alqueva. FOTO: D.R. / Terramay

Mas há mais. Para os que querem mesmo é sossego, a quinta tem preparados retiros de mindfulness, yoga, pilates e meditação. Para já, a Terramay ainda não oferece estada, mas isso é algo que irá mudar. "Estamos a trabalhar agora no alojamento, portanto, o nosso projeto do retreat está a ser desenvolvido, mas ainda vai demorar 2 anos", avança Anna de Brito. Enquanto isso, "estamos a trabalhar num projeto de glamping, com cabanas autossustentáveis", e muito glamour. E, para o concluir, diz a responsável, ainda vão precisar, com certeza, de mais alguns meses para pôr tudo em ordem".

Antes disso ainda, por volta do mês de outubro, Anna e David de Brito vão abrir na última aldeia por que se passa antes de se chegar à quinta, a Aldeia do Rosário, uma padaria antiga, em que todo o processo de fabrico é mesmo feito como antigamente, de forma artesanal. "Imagine! O Rosário tem 200 habitantes. São velhotes, são pessoas da idade que foram deixadas para trás - porque a desertificação não aconteceu só no solo, também aconteceu na sociedade - e estas ghost villages que se encontram no Alentejo, é preocupante, porque quem vai estar lá quando os velhos morrem, quem fica com a sua sabedoria?" É a pergunta que Anna de Brito deixa no ar a concluir a conversa com o DN

FARM TO HOME: DIRETAMENTE DOS CAMPOS À SUA PORTA

O Cabaz de Julho do Farm to Home. FOTO: D.R. / Terramay

Produtos sazonais, biológicos artesanais, tudo o que a quinta dá. É isto que o serviço Farm to Home da Quinta Terramay, no Alandroal, promete a todos os que receberem ou comprarem um cabaz com o sortido de produtos hortícolas, agrícolas e carnes de animais do campo, sem esquecer os preparados.

O preço ronda sempre os 40 euros, oscilando consoante os produtos integrados no cesto, mas em cada mês garante-se a entrega de alimentos da época, saudáveis e sem pesticidas, assegura Anna de Brito, cofundadora e chefe de produto da Terramay.

Para isso basta aceder à loja online da Terramay e comprar para si ou oferecer a alguém o cabaz do mês. Este pode ser adquirido, por si só, e não obriga a que os interessados tenham de ser membros do projeto Quinta Terramay. Ou então também pode ser simplesmente descontado do crédito de 100€ (ver texto acima) que cada membro Terramay "investe" neste projeto sustentável.

Legumes e frutas, carnes dos animais da quinta, compotas, doces, mel e bolachas caseiras são só uma primeira amostra do que lhe pode chegar a casa no cabaz Farm to Home da Terramay. Depois há os produtos já prontos a comer, como os croquetes de leitão, as empadas de carne mertolenga - ou as suas primas vegetarianas -, o pão com chouriço ou o queijo de cabra gratinado, só para nomear alguns.

Incluídas nos cabazes da Farm to Home, “vão sempre receitas com aquele espírito, da quinta”, frisa Anna de Brito, “e tudo com base no conceito de conveniência e zero desperdício, como faziam as nossas mães e avós em casa”.

Muito em breve, revela Anna de Brito ao DN, o cabaz poderá incluir também o acesso aos culinary events. "São eventos gastronómicos que irão ser desenvolvidos em vários sítios e em que nos vamos rodear sempre de chefs que se juntam à nossa ideia ou que têm a mesma ideia que nós", explica a responsável da Terramay. "Esses eventos vão começar provavelmente depois do verão, mais lá para outubro, em Lisboa, mas também em Évora, porque nós estamos aqui situados no Alentejo, e poderão ser oferecidos em cabaz ou acedidos por quem pertence à comunidade do membership."

Chefs que partilhem o conceito da Terramay vão usar os produtos da quinta para as suas criações nos 'culinary events' que a marca vai criar a partir do outono. FOTO: D.R. / Terramay

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