Doentes urgentes são a maioria dos episódios das urgências em 2024 e já no início deste ano.
Doentes urgentes são a maioria dos episódios das urgências em 2024 e já no início deste ano. Gerardo Santos

Tempos médios de espera nas Urgências estão a diminuir e doentes também

Redução média dos tempos de espera no inverno 2023-2024 foi de 15%, mas há uma semana em que a redução foi de 39%. Presidente dos administradores hospitalares diz haver medidas que estão a ter efeito.
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Nos últimos meses, assistimos a tempos de espera nos Serviços de Urgência de alguns hospitais do país, nomeadamente da Região de Lisboa e Vale do Tejo, que ultrapassaram as 10 horas, as 15 e até as 30 horas, como no Amadora-Sintra, para doentes urgentes. Mas estes casos parecem ter sido isolados, já que os dados recolhidos pela monitorização diária das 39 Unidades Locais de Saúde (ULS), e analisados pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), revelam que no período mais crítico do inverno os tempos médios de espera para atendimento nos Serviços de Urgência estão a diminuir, bem como o número de episódios atendidos.

Os dados, disponibilizados ao DN, revelam mesmo que a média de espera no período mais crítico de inverno sofreu uma redução de 15%, de 2023 para 2024, havendo uma semana que se destacou com uma redução de 39%: foi a última de dezembro de 2024 (semana 52), em que o tempo médio de espera passou dos 85 minutos de 2023 para 51.

O porquê, não se sabe ao certo, mas o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, admite ao DN que “um conjunto de medidas tomadas pelo Governo - como o projeto Ligue Antes, Salve Vidas, que veio reforçar a Linha SNS24, a criação de linhas de atendimento para grávidas e crianças e os Centros de Atendimento Clínico (CAC), tal como o facto de os cuidados primários passarem a ter um papel diferente - estão a ter algum efeito e a contribuir para a redução dos episódios de urgência em meio hospitalar”.

Os mesmos dados revelam ainda haver uma redução de mais de metade no número de episódios de urgência. Nas últimas semanas de 2023, estes chegaram a atingir os 131 mil, enquanto em igual período de 2024 foram 62 mil. Segundo Xavier Barreto, o facto de podermos ter tido “um inverno menos rigoroso em termos de infeções respiratórias também pode ser uma explicação, mas tal terá de ser avaliado pelos epidemiologistas”.

O DN pediu ao Ministério da Saúde um balanço ao Plano de Inverno para este ano, mas foi-nos dito que tal só será feito quando “terminar o inverno e ainda há mais uma semana até ao fim da época, sendo que esta pode sempre prolongar-se”.

De acordo com a análise da ACSS aos dados recolhidos pelas ULS entre outubro e dezembro de 2023 e de 2024 e início de cada ano, contando já com 2025, até meio de fevereiro, semana 8, (ver gráficos), a redução nos tempos de espera é registada em todos os doentes, mas também especificamente nos tempos para doentes urgentes, triados com pulseira amarela, e doentes muito urgentes, com pulseira laranja - isto de acordo com a Triagem de Manchester, em que o tempo para a primeira observação médica de um doente “amarelo” vai até aos 60 minutos, para um doente “laranja” é de 10 minutos e de um doente “verde” (pouco urgente) vai até 240 minutos. Os doentes com pulseira vermelha são emergentes e têm de ser atendidos no imediato, os azuis não têm qualquer situação de urgência.

No que toca aos tempos de espera dos doentes “laranja”, os dados do SNS indicam que, em 2023, o máximo foi de 42 minutos, na última semana do ano, enquanto que em 2024 o máximo foi de 17 minutos, na mesma semana também. Mas estes dados evidenciam ainda que, no início de 2025, o maior número de utentes a ir à Urgência foram os doentes urgentes, seguindo-se depois os doentes menos urgentes, com pulseira verde, os laranja, e só depois os azuis, sem qualquer urgência, e os vermelhos (emergentes).

Relativamente às regiões do país, também se regista uma redução em todas, mas os dados revelam que o Norte e o Alentejo foram as mais consistentes no período analisado, variando o tempo médio de espera para doentes urgentes entre os 20 e os 40 minutos, seguindo-se a Região Centro, com um tempo médio de espera que registou picos até aos 50 minutos. Lisboa e Vale do Tejo e Algarve foram as que tiveram mais oscilações, tendo os doentes urgentes chegado a esperar, em média, mais de 90 minutos.

O presidente da APAH destaca ao DN que o SNS “pode ter menos Serviços de Urgência a funcionar, embora os que têm vindo a encerrar não sejam Urgências Gerais, e sim Obstetrícia e Pediatria, mas, aqueles que estão a funcionar estão melhores, no sentido em que se está a conseguir reencaminhar mais doentes para os cuidados primários e para os CAC, evitando-se mais idas às Urgências”. Mas, neste momento, há uma preocupação. “Vamos estar dois meses em campanha eleitoral e durante este tempo não se poderão tomar medidas para resolver situações que vão acontecendo no Sistema de Saúde. Isso preocupa-nos e é grave.”

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