Suspenso título de "cão mais velho do mundo", que pertence a rafeiro português

Suspenso título de "cão mais velho do mundo", que pertence a rafeiro português

Um porta-voz da Guinness World Records confirmou esta terça-feira que Bobi havia perdido o título enquanto se aguarda o resultado de uma investigação. O rafeiro alentejano morreu em outubro do ano passado, alegadamente com 31 anos e cinco meses.
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Bobi, o rafeiro alentejano que havia conquistado o título de cão mais velho de todos os tempos quando morreu em outubro do ano passado, alegadamente com 31 anos, foi temporariamente destituído desse recorde depois de terem surgido dúvidas aos funcionários do Guinness World Records.

Até à morte de Bobi, aos 31 anos e cinco meses, o cão mais velho registado era Bluey, um cão pastor australiano que morreu em 1939, aos 29 anos e cinco meses.

Um porta-voz da Guinness World Records confirmou esta terça-feira que Bobi havia perdido o título enquanto se aguarda o resultado de uma investigação. "Enquanto a nossa revisão está a decorrer, decidimos pausar temporariamente os títulos de recordes de cães mais velhos até estabelecermos a verdade", afirmou, citado pelo The Guardian.

Assim que o Guinness World Records atribuiu a cerficicação,  rapidamente especialistas veterinários levantaram dúvidas sobre a veracidade do recorde, até porque, biologicamente, equivaleria a um humano viver 200 anos.

Uma das provas fotográficas apresentadas mostra, supostamente, Bobi em 1999, com as patas a parecerem diferentes das do cão que morreu este mês.

Outra das dúvidas prende-se com o registo. Embora a idade tenha sido registada na base de dados nacional para animais de estimação, a mesma baseia-se na autocertificação dos donos. Além disso, os testes genéticos apenas confirmaram que ele era velho e não a idade exata.

Supostamente nascido a 11 de maio de 1992, na aldeia de Conqueiros, em Leiria, Bobi tinha uma dieta à base de alimentos crus e cozinhados e andava livremente sem trela, fatores apontados para a longevidade. Mas o dono, Leonel Costa, que tinha apenas oito anos de idade quando evitou que o pai abatesse o cão e manteve-o em segredo com a ajuda dos irmãos até que o pai descobriu e depois permitiu que continuasse com ele, nunca quis comentar o assunto quando questionado por órgãos de comunicação social.

Intrigado com o assunto, Matt Reynolds, autor no portal Wired, conta que o Guinness World Records ainda não concluiu a investigação. Depois de questionar o Sistema de Informação de Animais de Companhia (SIAC), foi-lhe dito que o dono registou o cão como tendo nascido em 1992, mas que não havia documentação que o comprovasse, algo comum, tendo em conta que em Portugal o registo para cães nascidos antes de 2008 só se tornou obrigatório em 2020.

Perante este mistério, Reynold consultou especialistas. Enikő Kubinyi, especialista em longevidade canina da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, não está totalmente convencida de que Bobi tenha chegado aos 31 anos, admitindo que os registos veterinários não são confiáveis, até porque hã cães que morrem e os dados deixam de ser atualizados, o que faz com que nas bases de dados sejam encontrados frequentemente cães com 40 ou mais anos.

Dados de mais de 12 mil cães enterrados ou cremados em Tóquio entre 2012 e 2015 revelaram que os rafeiros tendem a ter maior esperança de vida, 15,1 anos, mas apenas um havia atingido os 25 anos. E dados de mais de 30 mil cães que morreram entre 2016 e 2020 no Reino Unido indicam que apenas 23 haviam superado os 20 anos e que a esperança média de vida em todas as raças era de 11,2 anos.

Ainda assim, Kubinyi reparou que Bobi estava acima do peso, o que é um fator que não contribuiu para a longevidade.

Sheila Schmutz, professora emérita de ciência animal e avícola na Universidade de Saskatchewan, no Canadá, analisou supostas fotografias de Bobi de 1999, 2016 e 2022 e não conseguiu concluir se eram do mesmo cão.

Karen Becker, veterinária e autora de The Forever Dog: Surprising New Science to Help Your Canine Companion Live Younger, Healthy, and Longer, creditada como a pessoa que noticiou a morte de Bobi no Facebook, diz que há muitos dados que não batem certo e revelou que uma organização de lobby esperou até ao dia da cremação para pedir testes adicionais. Tendo em conta que havia sido revelado que Bobi só se alimentava de comida que os humanos também comiam, esse lobby foi associado a um contra-ataque a uma possível ameaça à indústria de fabricantes de alimentos para animais de estimação.

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