Céu azul, grande movimento de turistas e um sol que bate tão forte no Cais das Colunas, na Praça do Comércio, em Lisboa, que quem chega a Portugal até tem dificuldade em acreditar que por aqui também é inverno. Em pleno final de dezembro, a capital portuguesa, também conhecida pelos turistas pelos preços em conta das refeições e pela fama de ter “calor” fora de época, segue sendo um destino de sonho para muitos que decidem viajar no período entre o Natal e a passagem de ano..Em 2024, diga-se, o turismo voltou a bater recordes em todo país. No passado dia 9 de dezembro, o secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, revelou na Lousã que neste ano foram ultrapassados os 27 mil milhões de euros de receita com turismo, com mais de 30 milhões de turistas estrangeiros e 80 milhões de dormidas no país. Os números representam um aumento de 13,2% na quantidade de visitantes comparando com o ano passado. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o país recebeu, em 2023, cerca de 26,5 milhões de turistas não residentes..Motivos não faltam para o país estar entre as preferências de turistas de diferentes partes do mundo. De países como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, chegam visitantes maravilhados com o bom tempo e o preço barato da alimentação e hospedagem. Já para alguns turistas vindos de Brasil, França e Macau, visitar Portugal é muito mais do que apenas um tempo de férias, mas também uma oportunidade se conectarem com raízes históricas que ligam estes países..Paralelamente ao turismo que só cresce nos últimos anos, o fluxo migratório que já é omnipresente no país tem gerado discussões políticas acerca de um suposto aumento da sensação de insegurança em determinados bairros da capital..O debate teve seu ponto mais acalorado este mês, quando agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) encetaram uma operação na praça do Martim Moniz, em Lisboa, revistando dezenas de imigrantes na Rua do Benformoso. Conhecida por ser um recinto de negócios e habitação de imigrantes da Ásia Meridional, a rua foi alvo da operação, de acordo com a PSP, por ter apresentado um alto índice de criminalidade nos últimos dois anos: a força policial referiu que ocorreram 52 crimes com armas brancas na região do Martim Moniz no mesmo período. Quatro dias depois da polémica operação, que recebeu críticas de parte da população e partidos de oposição do Governo por um excesso de força da polícia, nova rusga ocorreu no Largo de São Domingos, nas imediações do Rossio, pouco distante do Martim Moniz..Também não muito distante das localidades das duas operações estão alguns dos principais pontos turísticos da cidade de Lisboa. Para quem ali passa, o debate sobre a insegurança que se tem visto em Portugal é algo que passa longe dos ouvidos ao escolherem o destino. Abordados pela reportagem do DN, os turistas contam que, visto de fora, Portugal é um país seguro. Sendo essa apenas uma das qualidades que fazem com que o país seja o lugar ideal para passar férias..Brasil: uma espécie de regresso a casa.A imigração brasileira é atualmente a maior de Portugal, mas o caminho inverso também já foi comum em meados do século XX. Dezenas de milhares de portugueses escolheram o Brasil como casa entre os anos 1950 e 1970, como foi o caso dos pais de Inês Barbosa, nascida em Curitiba, no Estado do Paraná, filha de alentejanos. De momento a viver em Dublin, Inês viajou com a sua amiga Elisa Vaz, para apresentar Lisboa. A não ser pelos preços, que aumentaram um pouco em comparação à última vez que veio a Portugal, a luso-brasileira não mostra razões de queixa. “Vir aqui no fim de ano é sempre bom, na Irlanda é uma época fria e de chuva. Fora que, apesar de ser brasileira, me sinto daqui também”, diz Inês..Questionada sobre a alegada insegurança em Portugal, Elisa, amiga de Inês, disse que não foi algo falado ou pensado antes de planearem a viagem. A paranaense salienta que, em qualquer lugar do mundo, há sempre que ter atenção e avança uma razão específica: “Sabemos que ser mulher, seja onde for, envolve um cuidado maior. Andar à noite numa rua escura é sempre mais perigoso para uma mulher, imagino que aqui também, como em outros lugares. Estamos sempre alertas quando saímos a noite”, ressalta Elisa..Reino Unido: o contraste com Manchester.Ter Lisboa como destino não foi uma escolha de férias difícil para Callia Lai e sua família nesta época do ano, especialmente pelas condições meteorológicas de onde vieram. “Somos de Manchester. Portanto pode imaginar que, nestes meses de inverno, a nossa cidade não é muito conhecida pelo bom tempo”, conta a britânica, depois de afirmar que é até estranho ver o céu azul em pleno inverno, acostumada aos dias de chuva intermináveis na sua cidade natal. Callia e os pais estão em Portugal pela primeira vez, após seguirem as recomendações de amigos e familiares que passaram pelo país nos últimos anos..Abordados pelo DN, enquanto degustavam de uma ginja no Largo de São Domingos, salientaram sentir-se seguros durante toda a visita, embora classifiquem a região do Martim Moniz, por onde tinham passado pouco horas antes, como um pouco “caótica”, mas nada que incomode quem veio ao país justamente para fazer turismo. “Essas ruas que passamos têm um pouco mais de caos, mas sabemos que regiões centrais são assim. Em Inglaterra é a mesma coisa”, diz Callia..França: segurança e boa comida de mãos dadas.O nome engana, mas Diego pouco ou nada fala português, a não ser uma ou outra palavra que os seus avós, imigrantes em França, lhe ensinaram, especialmente na gastronomia: “Canja!” relembra o francês com um sorriso no rosto. Esta é a primeira vez que Diego visita Portugal e vem na companhia de sua mãe, Elodi Carvalho, que passa pela terra dos seus pais pela terceira vez na vida. Questionada se vê uma diferença na sensação de insegurança sentida na cidade, Elodi, num franco-português é assertiva: “Nada, nada. Especialmente em comparação à Paris. Aqui sempre me senti muito segura”, pontua..Após passar o Natal em França, ainda na companhia dos avós que trocaram o Porto por Paris nos anos 1970, Diego, maravilhado com o país e com o contato com as raízes da família, não tem dúvidas do que mais tem gostado desde que chegou a Portugal: a comida. “Chegamos há dois dias e desde então o que mais tenho feito é comer muito bem. Mas o mais importante é que meus avós ficaram muito felizes pela minha vinda. Desde que chegamos, fomos muito bem recebidos já estou até com mais vontade de aprender português”, finaliza..Macau: as pontes que ligam Lisboa à China.Em 2024 foram assinalados 25 anos de Macau sob administração chinesa, mas a relação do território com Portugal segue forte. “Vejo muito de Macau em Portugal, portanto para mim estar aqui é engraçado, também me sinto um pouco em casa”, conta Vivian Wong, nascida e criada em Macau e residente em São Francisco, nos Estados Unidos, que vê “na comida, especialmente frutos do mar” e “nas ruas e arquitetura”, algumas das principais similaridades entre Portugal e sua terra natal. Após os próximos dias em Lisboa, Vivian e sua família seguirão em direção a Macau no início de 2025..Com voos diretos entre a capital portuguesa e o país que hoje pertence à China, a escolha de passar por aqui antes da viagem a Macau também foi estratégica para a família. “Eu já conhecia, mas era a chance de mostrar para meus filhos de onde veio um pouco da herança de Macau também, e consequentemente, deles. Vir a Portugal, para mim, talvez seja uma forma de me reconectar com algumas raízes”, defende Vivian, que negou ter tido a segurança como um tópico de discussão na preparação para a viagem..Estados Unidos: preços quase “inacreditáveis”.Portugal é um destino cada vez mais popular para os turistas dos Estados Unidos. De acordo com dados estatísticos divulgados pelo portal do Turismo de Portugal, em 2023, viajaram pelo país mais de 2 milhões de cidadãos americanos, consolidando os EUA como a terceira maior força do turismo em Portugal, atrás apenas de Espanha (2,4 milhões) e Reino Unido (2,3 milhões). São portanto também os americanos os que vêm em maior número de fora da União Europeia..Tess Tancredi é de Washington e chegou após recomendação de amigos. “No ano passado tive amigos que vieram tanto no verão, quanto no inverno. Ouvimos dizer que no verão é um pouco mais cheio, portanto decidimos acabar o nosso ano aqui, numas pequenas férias depois do Natal”, revela a americana, que veio acompanhada do marido. “As referências foram das melhores possíveis: segurança, comida, preço, beleza… até aqui, tudo perfeito”, afirma a americana, que entende que o baixo custo com alimentação e hospedagem é quase “inacreditável perante a tamanha beleza de Portugal”. .nuno.tibirica@dn.pt