"Sociedade está mais violenta. O que não é positivo"

Diretora do PortalBullying, Tânia Paias acredita que as escolas estão mais atentas e sensibilizadas para o fenómeno, mas considera que existe uma banalização do conceito. Hoje assinala-se o dia mundial de combate ao bullying e durante todo o mês decorre uma campanha nas escolas para que os jovens mostrem como prevenir e combater o problema.

O Portal do Bullying surgiu em 2010. Como tem evoluído este fenómeno desde então?
Essa é uma questão difícil. Como as pessoas estão mais despertas e há mais informação, não sabemos se há um aumento de casos ou se as pessoas estão mais familiarizadas com o fenómeno. Por outro lado, por vezes há a ideia de que "tudo é bullying". E nem sempre é assim. A banalização do conceito não ajuda a trabalhar estas áreas. Vemos, no entanto, que a sociedade está mais violenta e mais impulsiva, o que não é positivo. Mas também há mais atenção e prevenção.

Que consequências tem essa banalização do conceito?

Dificulta o trabalho de quem está na área. As pessoas dizem: "Já ouvi falar", "sei o que é isso do bullying", mas por vezes não sabem. Não sabem as repercussões. Fala-se dos sinais de alarme, como agir, o que não fazer, mas, na realidade, existem muitos clichés à volta do bullying. Há pessoas que pensam: "Isto são coisas de miúdos." Independentemente de haver muita sensibilização, isto acontece. Uma coisa são conflitos, outra coisa é a ausência da nossa liberdade e a diminuição do nosso campo de ação. É isto que temos de diferenciar.

As escolas estão hoje mais atentas a estas questões?

Acredito que as escolas estão mais atentas e sensibilizadas. Mas os jovens que se sentem vítimas acham sempre que é pouco. Quando perdemos a nossa liberdade e nos sentimos ameaçados, inseguros dentro do nosso próprio espaço, é muito difícil reverter essa situação. É um processo que não é simples. Tal como quando perdemos a confiança em alguém. Por isso é que precisamos que toda a comunidade, educativa e não educativa, esteja sensibilizada para o impacto que estas situações têm nos jovens.

As crianças estão mais sensibilizadas?

Sim, mas muitas vezes não têm noção do efeito do comportamento delas. Quando uma criança está sozinha é uma coisa, mas em grupo ampliam-se os comportamentos, sensações. Por vezes, os jovens não têm noção da dimensão do comportamento deles nos outros. Por isso é que temos de trabalhar a empatia, o saber colocar-se no lugar do outro. "Se fosse comigo, como me sentiria?" Uma piada, um nome pode não ter repercussão para um jovem, mas ter para outro. Às vezes não têm intenção de maus-tratos, mas quando se apercebem já a situação tomou outras proporções. Se trabalharmos preventivamente a empatia e o posicionamento no lugar do outro, podemos reverter ou prevenir certo tipo de comportamentos.

Qual é a forma mais eficaz de combater o bullying?

É trabalhar com os jovens. Sabemos que o grupo de pares faz toda a diferença. Para combater o bullying, precisamos dos que observam. A vítima ou o agressor estão em minoria. Os observadores é que fazem toda a diferença. Se as crianças que se sentem vítimas tiverem o apoio do outro, vão sentir-se mais protegidas. E, se os agressores não tiverem apoio, sentem-se menos acarinhados.

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