Sindicato afirma: duas pessoas morreram nos últimos três dias por atrasos no 112. INEM já respondeu
O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH) disse este sábado que duas pessoas morreram nos últimos três dias por atrasos no atendimento na linha 112, considerando que as condições continuam a agravar-se "por escassez" de profissionais.
O presidente do STEPH, Rui Lázaro, disse que, no caso deste dia, na freguesia de Molelos, Tondela, de uma mulher de 94 anos em paragem cardíaca, um familiar conseguiu ligar para a linha 112 às 09:34, mas a chamada só foi transferida para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) às 10:19, cerca de 45 minutos depois.
A nonagenária ainda foi transportada para o centro hospitalar de Lamego, onde foi declarado o óbito.
Na passada quinta-feira, em Bragança, a mulher de um homem em paragem cardíaca esteve mais de uma hora a tentar ligar para o 112 e, quando foi atendida, explicou que o marido estava naquela situação há mais de uma hora e que, durante todo aquele tempo, ninguém atendeu, referiu Rui Lázaro.
O presidente do sindicato afirmou que, se tivesse sido atendida a chamada e ativada uma viatura médica do hospital de Bragança que se encontrava àquela hora a cerca de dois minutos, "o desfecho da situação poderia ter sido outro".
Neste caso, o óbito foi declarado no local.
O STEPH adianta, em comunicado, que "estes exemplos de colapso do sistema de emergência médica sucedem-se" e sublinha que, "na última segunda e quinta-feira", existiram no CODU "mais de 100 chamadas em simultâneo em espera para serem atendidas".
Acrescenta que, também na quinta-feira passada, um acidentado grave, por não conseguir ver a sua chamada atendida nas centrais do INEM, acabou na urgência transportado pela filha", não tenho havido consequências fatais.
O sindicato afirma que exemplos como os denunciados nesta nota "sucedem-se frequentemente", pois "o baixo número de TEPH [Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar] para atender chamadas nas centrais de emergência, bem como o elevado número de meios encerrados por falta destes técnicos tem aumentado e as consequências estão à vista".
O STEPH afirma que não deixará de realizar as respetivas denúncias até que sejam adotadas medidas concretas para "a reversão do caos" em que os serviços médicos de emergência se encontram.
O sindicato acusa o Governo de não tomar medidas concretas para resolver o problema da escassez destes técnicos, que provoca atrasos no atendimento de chamadas nos CODU e meios de emergência médica encerrados por falta de profissionais.
"O procedimento concursal a decorrer para preenchimento de 200 vagas será inócuo, sem um combate efetivo à elevada taxa de abandono que assola hoje a profissão", argumenta o STEPH, acrescentando que "apresentou em tempo oportuno ao Governo as soluções estruturais e imediatas para iniciar a reversão dos constrangimentos que assolam o sistema integrado de emergência médica".
No documento, o sindicato realça que a revisão da carreira especial TEPH bem como a valorização do salário destes profissionais "não contribuem para o agravamento das contas públicas, não dependem do Orçamento do Estado, uma vez que o INEM dispõe de orçamento" próprio.
Sublinha igualmente que o presidente do INEM "já informou ter cabimento orçamental para acautelar o aumento salarial dos TEPH" e que, nesse sentido, "estão reunidas todas as condições para esta valorização que tanto se aguarda, faltando apenas a decisão política para a sua implementação".
INEM confirma atraso em Bragança, mas rejeita demora de 40 minutos em Tondela
Contactado pelo DN, o INEM rejeita os 40 minutos de espera em Tondela. Numa resposta escrita, o instituto explica: "A chamada foi transferida às 9h29 pelo 112 e atendida às 9h49 pelo CODU. No entanto, ninguém respondeu. Foi feita nova tentativa de contacto pelo CODU às 9h59 mas a chamada continuou a não ser atendida. Só às 10h17 foi possível ao CODU realizar a triagem clínica, tendo sido acionado o meio diferenciado que se encontrava mais próximo do local e com capacidade de resposta, no caso a Ambulância de Suporte Imediato de Vida (SIV) de Tondela."
No entanto, na mesma resposta, o INEM confirma o atraso em Bragança. A situação deveu-se "ao volume de chamadas que estavam a ser atendidas nos CODU". Assim que foi feia a triagem, diz o INEM, "os bombeiros voluntários de Bragança e a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Hospital de Bragança foram prontamente acionados".
Ainda segundo a mesma fonte, "verificou-se um atraso no atendimento" e, diz o INEM, exigem "uma análise pormenorizada das situações para se averiguar em pormenor todas as circunstâncias em que decorreu a assistência a estes utentes".
Além disso, relembra o instituto, há um "procedimento concursal para reforço dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar para preenchimento de mais de 200 lugares". E acrescenta ainda: "O atual contexto de greve dos TEPH às horas extraordinárias também acaba por ter impacto no funcionamento do CODU do INEM."
Notícia atualizada às 19h30 com a reação do INEM.