Grande Conferência DN. Marques Mendes aponta estabilidade política e investimento como principais desafios de Portugal em 2025

O Diário de Notícias comemorou esta sexta-feira o seu 160º aniversário com uma Grande Conferência no auditório da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, onde se debateu o "Portugal que temos e o Portugal que queremos ter".
Marques Mendes, comentador e antigo líder do PSD.
Marques Mendes, comentador e antigo líder do PSD.Foto: Gerardo Santos

Marcelo Rebelo de Sousa avisa que Portugal precisa de “quase milagre” no PRR e elogia “realidade forte” do DN

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, alertou para o “quase milagre” que será necessário para aplicar 16 mil milhões de euros do PRR na abertura da conferência “O Portugal que temos e o Portugal que queremos ter”, que está a decorrer nesta sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. E, felicitando o "Diário de Notícias" pelos seus 160 anos, acompanhado a História de Portugal, da Monarquia Liberal à Democracia, passando pela Primeira República, pela Ditadura e pela Revolução, realçou que o jornal "em boa hora permanece, resiste, é uma realidade forte no presente e para o futuro".

Foto: Gerardo Santos

"Não houve período histórico que não tivesse as suas peripécias, os seus protagonismos, as suas lutas internas, a sua projeção no Diário de Notícias", disse o Chefe de Estado, numa intervenção gravada em vídeo, no lançamento de uma reflexão motivada pela "mudança de ciclo" no Mundo, Marcelo Rebelo de Sousa começou por realçar que existe um novo período nos Estados Unidos, com o regresso à presidência de Donald Trump. Mas em circunstâncias muito diferentes do que as do primeiro mandato do republicano, "porque há guerras que não existiam" e que tem o objetivo de terminar, mas também porque "a economia é diferente", após a pandemia e "crises várias". Decorre disso que "a Europa está diferente e com crises nos sistemas políticos, económicos e sociais", enquanto se "inverteu a ordem dos factores" na relação entre a cada vez mais liderante China e a Federação Russa.

Destacando que também em Portugal há "um novo ciclo", iniciado pelas eleições legislativas e que neste ano terá as eleições autárquicas, para o próximo ano as presidenciais, e no meio as eleições regionais na Madeira, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que para os Estados Unidos será "uma ilusão esquecer o Atlântico, esquecer a Europa, a ligação da Europa a África e à América Latina, em função de uma estratégia concentrada, apenas ou sobretudo, militarmente, estrategicamente e economicamente na China e no Pacífico".

Marcelo Rebelo de Sousa advertiu ainda para o "factor novo" que consiste na presença de grandes grupos multinacionais "que aparecem a fazer de intermediadores entre os grandes poderes". Sobre esses grupos, com negócios na China e na Rússia e influência nos Estados Unidos, disse que "intervêm na vida económica, social e política, nomeadamente na Europa, não respondem perante ninguém e não tem controlo nem escrutínio nenhum".

"É a concentração do poder económico nas mãos de muito poucos, que juntam ao poder económico o poder político, e de alguns muito poucos que juntam ao poder político o poder económico", acrescentou o Chefe de Estado na sua intervenção.

Quanto à realidade nacional, apontou como fundamental o crescimento económico. "Sem crescimento económico é muito difícil combater a pobreza, é impossível combater as desigualdades económicas e sociais", disse, realçando que isso pressupõe estabilidade política, dizendo que "naquilo que depender do atual Presidente da República assim será até ao fim do mandato".

Para Marcelo Rebelo de Sousa, será preciso que haja "contas certas" a assegurar estabilidade financeira, "mas também um mínimo de entendimento no sistema partidário para questões de regime". E apontou áreas como a Justiça, Administração Pública, Saúde, Educação e Habitação, até porque "é uma ilusão haver uma nova política, uma nova estrutura e uma nova realidade" sempre que um novo Governo inicia funções.

Sobre o PRR, o Chefe de Estado disse que "está muito atrasado", considerando que seria "um quase milagre que aquilo que não se fez em três anos", pois só se "pôs no terreno" 6300 milhões de euros, possa ser feito em ano e meio ou dois anos, aplicando 16 mil milhões. "Importa recuperar o tempo perdido e ver até onde é possível ir", disse.

No que toca à coesão económica e social, o Presidente da República alertou para a "sobreposição das manchas de envelhecimento e pobreza", em que os apoios sociais "periódicos e pontuais" constituem "sempre remendos numa situação que se vai agravando com o aumento da esperança média de vida".

E advertiu para o facto de Portugal, e a Europa em geral, estar a ficar para trás na Educação, Qualificação, Ciência e Tecnologia, comparando com os Estados Unidos, a China, o Japão, a Índia e outros países asiáticos.

Leonardo Ralha

Diário de Notícias celebra 160 anos com Grande Conferência

O Diário de Notícias vai comemorar o seu 160º aniversário esta sexta-feira com uma Grande Conferência no auditório da Fundação Gulbenkian, em Lisboa onde se vai debater o "Portugal que temos e o Portugal que queremos ter".

Vamos debater as perspetivas para o próximo ano a nível político e económico, sem esquecer os desafios da demografia, da imigração e da Inteligência Artificial.

Foto: Rita Chantre
Foto: Rita Chantre

A conferência terá início às 9h00, com as boas-vindas a cargo do Global Media Group e da Fundação Gulbenkian. O evento inclui um almoço volante que está aberto a todos os participantes.

Entre os oradores cuja presença está confirmada, encontram-se os ministros da Presidência e da Economia, António Leitão Amaro e Pedro Reis, o embaixador António Martins da Cruz, a vice-governadora do Banco de Portugal, Clara Raposo, o conselheiro de Estado e comentador Luís Marques Mendes, o presidente da SEDES, Álvaro Beleza, o diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves e Adélio Neiva da Cruz, diretor do SIS.

Para debater os desafios da demografia e da imigração, teremos uma intervenção do ministro da Presidência, António Leitão Amaro, seguido de um painel de debate onde estarão presentes o presidente da AIMA, Pedro Portugal Gaspar, o presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Gonçalo Saraiva Martins, o diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, e o deputado socialista José Luís Carneiro, antigo ministro da Administração Interna.

O bastonário da Ordem dos Economistas, António Mendonça e o professor universitário Pedro Pita Barros, serão alguns dos oradores que vão debater as opções estratégicas da economia portuguesa, num painel que será precedido de uma intervenção do ministro da Economia, Pedro Reis.

Os desafios da Inteligência Artificial serão também abordados neste Grande Conferência, com um painel de debate que contará com as participações de Daniela Braga, Fundadora e CEO da Defined Crowd, Maria Manuel Leitão Marques, Professora Catedrática da Universidade de Coimbra e ex-Eurodeputada, Luís Barreto Xavier, Presidente do Instituto de Conhecimento da Abreu Advogados e Carlos Formigal, diretro de Engenharia do IT HUB da Phillip Morris International.

O encerramento da conferência está previsto para as 17h40.

Esta Grande Conferência é a primeira de uma série de iniciativas que vamos promover ao longo de 2025, para assinalar o 160º aniversário do Diário de Notícias, cujo primeiro número foi publicado a 29 de dezembro de 1864.

Eis o programa completo:

Aumento dos extremismos em Portugal

No primeiro painel desta grande conferência do DN, o diretor do Serviço de Informações de Segurança (SIS), Adélio Neiva da Cruz, alertou para o aumento dos extremismos na Europa, incluindo Portugal.

“Há movimentos de extremismos, com forte polarização política em Portugal que proporcionam um campo de pressão sobre o estado de direito”, disse. Neste cenário, acrescentou que o trabalho do SIS “ganha relevância”. De acordo com Neiva da Cruz, os extremismos são “tanto de esquerda como de direita”, que atuam em “modus operandis diferentes”.

O diretor destacou que outra preocupação a nível europeu é a partilha de informações sobre alvos, nomeadamente ameaças terroristas. “Trocamos informação diária sobre alvos de partilhamos”, disse.

O diretor complementou que os alvos jihadistas costumam ser “atores solitários”.

Amanda Lima

O diretor do Serviço de Informações de Segurança (SIS), Adélio Neiva da Cruz.
O diretor do Serviço de Informações de Segurança (SIS), Adélio Neiva da Cruz.Foto: Gerardo Santos

“Ameaças clássicas”

O diretor do SIS também referiu o que chama de “ameaças clássicas”, decorrentes da situação geopolítica global.

“A Europa é um palco privilegiado para todas as questões e com espionagem internacional”, alertou.

Na visão de Neiva da Cruz, aspetos da segurança e defesa serão “alvo de espionagem internacional na política de segurança e defesa”, especialmente pela participação de Portugal na NATO.

Amanda Lima

Intensificação dos ataques de cibersegurança e alterações climáticas

O chefe das secretas avalia que, em 2025, é esperada a “intensificação de ataques de segurança”, com tentativa de recolha de informação classificada, além de manipulação de propaganda política para interferir em eleições. Outra preocupação do diretor é com o impacto das alterações climáticas “que podem ter consequências na segurança interna de países europeus” e que, “em termos políticos ganha relevância”. Segundo Neiva da Cruz, o assunto é debatido a nível europeu entre os serviços de segurança.

Amanda Lima

Ana Miguel dos Santos diz que Europa “tem de apanhar comboio que já vai muito adiantado”

A especialista em Segurança e Defesa Ana Miguel dos Santos defendeu que os países europeus “têm de apanhar um comboio que já vai muito adiantado”, tendo em conta as consequências da Guerra na Ucrânia.

Para Ana Miguel dos Santos, antiga deputada no PSD na Assembleia da República e no Parlamento Europeu, que intervinha no painel “Que certezas num mundo de incertezas?”, defendeu que os países europeus têm de “ser muito pragmáticos” e fazer face às consequências “deste desinvestimento em Defesa e Segurança”. Pelo qual, acrescentou, “estamos a pagar um preço alto”.

Ana Miguel dos Santos,  especialista em Segurança e Defesa.
Ana Miguel dos Santos, especialista em Segurança e Defesa.Foto: Gerardo Santos

Segundo Ana Miguel dos Santos, “a resposta à Ucrânia demorou muito porque estávamos tão dependentes energeticamente da Rússia”.

Desafiada pelo diretor do DN, Filipe Alves, que moderou o painel, a responder se o regresso de Donald Trump à Casa Branca constitui uma oportunidade para a Europa, Ana Miguel dos Santos respondeu que a Segurança “é algo que já faz parte do dia-a-dia”.

“A nova ordem internacional já existe e já está instalada”, disse a ex-deputada no início da sua intervenção, descrevendo um mundo que “está agitado”, com “muitos poderes emergentes”, como a Índia e o Sul Global, “pouco preocupados com o que se está a passar na Europa”.

Quanto à estratégia de Trump, vaticinou que não divergirá muito do que tem sido a orientação dos Estados Unidos. “Os políticos têm prometido muito, e o que realmente acontece nem sempre é o que prometem”, realçou, exemplificando com a execução do Orçamento do Estado.

Leonardo Ralha

Gestores portugueses “mais otimistas” que os CEO globais, diz José Bizarro Duarte, partner da PwC

Os gestores portugueses estão “mais otimistas” do que os seus congéneres a nível mundial quanto ao crescimento da economia mundial. José Bizarro Duarte, partner da PwC, socorre-se dos dados do mais recente Global CEO Survey, que a PwC divulgará na próxima semana no Fórum Económico Mundial, e que mostram que 67% dos CEO portugueses inquiridos acham que a economia mundial vai crescer no próximo ano, “bem acima dos 58% dos CEO a nível global”.

Quando questionado sobre as principais ameaças, refere que a cibersegurança “é uma preocupação relevante, a segunda que estes gestores a nível global percecionam”, mas a primeira é mesmo a volatilidade macroeconómica.

José Bizarro Duarte, partner da PwC.
José Bizarro Duarte, partner da PwC.Foto: Gerardo Santos

A sustentar esta perceção, o responsável da PwC apontou as questões da imprevisibilidade económica num mundo com mais restrição ao comércio e socorreu-se dos dados do FMI que, em 2019, identificava a existência de mil restrições ao comércio e que em 2023 já eram três mil.

José Bizarro Duarte lembrou ainda o recém publicado estudo 'Global Risks Report' do Fórum Económico Mundial no qual o principal risco identificado pelos gestores, a nível global,é a desinformação, considerando, por isso, “fundamental que continue a existir jornalismo livre e independente”.

Sobre o tema do painel, as certezas num mundo de incerteza, considerou-o uma “equação razoavelmente impossível” atendendo à transformação que estamos a viver. Recordou as alterações dos últimos cinco anos, desde a pandemia às duas guerras que hoje temos, passando pelo défice de confiança que existe nas lideranças e pela mudança política nos EUA para sublinhar que “tudo isto vai gerando perturbação e falta de confiança” que se traduzem em “menos investimento e menos crescimento”.

José Bizarro Duarte, partner da PwC, é um dos oradores do painel '2025: Que certeza num mundo de incerteza?' da conferência que hoje assinala o 160º aniversário do Diário de Notícias.

Ilídia Pinto

“Extrema direita quer fazer vítimas humanas, extrema esquerda quer provocar danos em instalações”

Sobre as diferenças entre as ameaças de movimentos de extrema esquerda e extrema direita, o diretor do SIS pontua que existem “diferenças fundamentais” entre cada uma em Portugal.

No caso da extrema direita, “o objetivo é fazer vítimas, nas minorias, políticos de esquerda, adversários”. Já no caso da extrema esquerda, “o objetivo é provocar danos em instalações, equipamentos e infraestruturas”.

Segundo Adélio Neiva da Cruz, em Portugal, os movimentos de extrema direita têm como alvos “as minorias étnicas, a comunidade LGBT+ e atores de esquerda”. Já o movimento de esquerda no país está relacionado com a causa palestiana e as alterações climáticas, com danos em prédios do Govenrno e bancos, por exemplo.

Ao mesmo tempo, pontua que os casos em Portugal “são residuais no padrão europeu”, mas alerta para o aumento da radicalização dos jovens online em Portugal, algo já pontuado pelo último Relatório da Segurança Interna (RASI).

Amanda Lima

O painel "Que certezas num mundo de incerteza?", moderado por Filipe Alves, diretor do DN.
O painel "Que certezas num mundo de incerteza?", moderado por Filipe Alves, diretor do DN.Foto: Gerardo Santos

Gonçalo Saraiva Matias: "É logisticamente impossível deportar 11 a 12 milhões de pessoas"

Na sua intervenção, Gonçalo Saraiva Matias, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), destacou o impacto das migrações.

No primeiro painel da Grande Conferência dos 160 anos do DN ("Que certezas num mundo incertezas?"), o presidente da FFMS disse que "do ponto de vista económico, há um conjunto de setores importantes da economia" dependentes de imigrantes, como o caso dos Estados Unidos.

Por isso, num país com muita imigração, há uma "operação que é, do ponto de vista logístico, impossível". "É logisticamente impossível deportar 11 a 12 milhões de pessoas", considerou o responsável.

Gonçalo Saraiva Matias, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Gonçalo Saraiva Matias, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos.Foto: Gerardo Santos

Além da dependência da economia, "há uma outra razão que torna isso impossível": uma razão jurídica. "Se estivéssemos apenas a falar e a regular, eventualmente, do ponto de vista jurídico, isso seria admissível. Mas se falarmos de outro tipo de pessoas e de outro tipo de vínculos, isso é impossível", admitiu.

Ainda falando sobre os Estados Unidos, Gonçalo Saraiva Matias disse que "a certa altura, nos últimos anos, a política de imigração teve muito sucesso". Algo que se perdeu, entretanto, "para o Canadá, que, por ter essa concorrência dos Estados Unidos desenvolveu uma política de imigração muito mais robusta, muito mais sofisticada".

Rui Miguel Godinho

Para Martins da Cruz, a paz na Ucrânia será possível "em 24 semanas"

A intervenção do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros António Martins da Cruz centrou-se numa análise às soluções diplomáticas para a guerra na Ucrânia e nos possíveis cenários de integração daquele país na União Europeia e na NATO.

Parafraseando o presidente eleito dos Estados Unidos, que chegou a garantir acabar com o conflito russo-ucraniano em 24 horas, o diplomata disse que tal não será possível "provavelmente nem em 24 dias", "mas talvez em 24 semanas". Isto porque a "conjuntura está neste momento preparada internacionalmente para poder haver paz".

O embaixador e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, António Martins da Cruz.
O embaixador e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, António Martins da Cruz.Foto: Gerardo Santos

E que soluções estão em cima da mesa? "A primeira solução será congelar a situação, como se fez nos anos 50 com as Coreias, como se fez em 1974 com Chipre." No entanto, recorda, "a situação prolonga-se, quer num caso quer noutro". A segunda solução enunciada pelo antigo embaixador é "o chamado statu quo ante, ou seja, a situação anterior ao conflito". O que leva à discussão prévia de que situação se está a falar, se de 2014 antes da anexação russa da Crimeia e da criação das chamadas repúblicas de Donetsk e de Lugansk, ou se de 2022, "antes do novo ataque ao território ucraniano". Por fim, a terceira solução, considerada a "mais realista" e aquela que "quase seguramente" vai ser seguida, será um cessar-fogo seguido de negociações.

Aqui estará em jogo o futuro dos territórios ocupados pela Federação Russa, e que, "muito provavelmente continuarão ocupados durante algum tempo". Também serão discutidas as garantias de segurança de uma e de outra parte, incluindo a relação de Kiev com a NATO, ao que Martins da Cruz relembrou que a equipa de Trump havia proposto o adiamento da adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica em 20 anos. Em paralelo, quais são as garantias oferecidas à Ucrânia além da defesa."Aceleram-se as negociações de entrada para a União Europeia ou não?", questionou Martins da Cruz. As negociações também abordarão as sanções económicas a Moscovo. "A Rússia vai seguramente com que sejam eliminadas as sanções", afirmou.

César Avó

José Bizarro Duarte considera que regresso de Trump trará “certamente mais espalhafato e menos consistência”

Questionado se o regresso de Donald Trump à Casa Branca, significa mais protecionismo ou não, José Bizarro Duarte, partner da PwC, considera que “significa certamente mais espalhafato e menos consistência, o que significa que há menos confiança, menos negócios e menos crescimento”.

Sustentando-se do relatório do Fórum Económico Mundial de 16 de janeiro, que antecipa que poderá haver “mudanças relevantes, com mais restrições, o que trará menos comércio, menos crescimento, mais inflação e mais fragmentação”, José Bizarro Duarte considera que “resta a Portugal aproveitar o seu enquadramento dentro da UE, e o seu enquadramento de estabilidade política, de credibilidade, das contas certas, da segurança e de uma relativa atratividade, para fazer o seu caminho”.

Este responsável citou a mensagem de abertura do Presidente da República, já não estamos em tempo de questionar investimentos [do PRR], mas de os executar, para lembrar que “sem investimento não há crescimento económico”.

E se é verdade que os principais mercados das exportações nacionais estão “cheios de nuvens negras”, isso não significa que não haja outras oportunidades. “É fundamental Portugal olhar para outros mercados, é fundamental conseguir perceber o que se está a passar no mundo. África representa hoje 18% da população mundial, daqui a 20 ou 30 anos vai representar 42%, claramente estes têm que ser links que a economia portuguesa tem que fazer, todos juntos na atração de investimento direto estrangeiro e no encontrar de novos mercados”.

Ilídia Pinto

Gonçalo Saraiva Matias: "Há um aumento muito grande de visibilidade e importância da imigração na Europa"

Ainda na sua intervenção no primeiro painel da Grande Conferência dos 160 anos do DN, o presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) olhou também para a imigração na Europa e em Portugal.

Referindo que a União Europeia "tem muito a aprender com os Estados Unidos, tanto no bom como no mau sentido", Gonçalo Saraiva Matias sublinhou que a "questão" surgiu primeiro no continente americano do que na Europa, que, "hoje, está confrontada com uma questão de imigração muito clara": o crescimento.

"Até aqui há 10 / 15 anos", os europeus não se preocupavam com a imigração — tema que estava no "topo das preocupações" dos americanos. Portanto, "há um aumento muito grande de visibilidade e de importância da questão da imigração na Europa". "Tomou a dianteira das preocupações dos europeus", reiterou.

Para Gonçalo Saraiva Matias, a União Europeia tem "falhado na questão da integração", mais até do que os próprios Estados Unidos, que "apesar de tudo, têm um projeto social, que permite que a sociedade se desenvolva num sentido um pouco mais unitário do que o Estado". É, disse, "um país de imigrantes".

Recordando as palavras de Angela Merkel, ditas "há muitos anos", de que o multiculturalismo "falhou", o presidente da FFMS recordou que "há várias cidades alemãs", tal como "Paris ou Bruxelas", onde a "guetização se verifica", gerando "enormes tensões sociais".

"Para esse problema, também não tenho resposta", porque "está de tal forma enraizado, é tão profundo e tão difícil", que "gerou uma hostilidade" nas "segundas, terceiras gerações de imigrantes", que já são cidadãos nacionais. "Uma coisa sei: esse problema ainda não o temos em Portugal", concluiu.

Rui Miguel Godinho

Presidente da AIMA não avança com números sobre migrantes em Portugal

No segundo painel da grande conferência de aniversário do DN, o tema é imigração. O presidente da Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA), Pedro Portugal Gaspar, não avançou com números atuais sobre migrantes em Portugal, remetendo a questão para os dados de 2023: 1,4 milhão de pessoas. Segundo o dirigente, nos próximos meses é que se terão os números de 2024, entre os quais vai contar a estrutura de missão da AIMA.

Sobre este serviço, o presidente da AIMA afirmou que 200 mil pessoas foram atendidas. O DN sabe que hoje começaram a chegar nas moradas dos imigrantes os primeiros títulos de residência, a partir dos atendimentos na estrutura de missão.

Pedro Portugal Gaspar afirma que, após o andamento da estrutura de missão, começa uma nova etapa que classifica como “desafiante”: a integração. Isto também passa por atender aos cidadãos, no que diz ser uma “obrigação do estado”, sem deixar de referir que alterações no Governo e outros fatores levaram ao passivo que a AIMA herdou.

Sobre a avalanche de processos judiciais contra a agência, o presidente da agência afirma que houve um “escalonamento”. Como resultado, a AIMA teve de “reorganizar a fila”, passando à frente quem entrou com ação judicial e que “não há organização administrativa que resista”.

Amanda Lima

Pedro Portugal Gaspar, presidente da Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA),
Pedro Portugal Gaspar, presidente da Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA),Foto: Gerardo Santos

Diretor da PJ defende que "é um direito e uma responsabilidade do Estado saber quem cá está"

O diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, na conferência do DN, afirmou que, "se as pessoas [imigrantes] estiverem documentadas e tiverem apoios e direitos, integram-se e deixam de estar nas garras dos traficantes de seres humanos ".

Luís Neves tinha sido questionado sobre declarações suas, que remontam a 2018, onde assumira, relativamente às populações imigrantes, "a melhor prevenção é a integração ", "munidas de documentos ".

O diretor da PJ falava depois da intervenção do ministro da Presidência, António Leitão Amaro, que defenderá na sua intervenção os três postulados do Governo para a imigração, que passam pela ideia de que Portugal precisa de imigrantes, mas com regulação para a entrada de estrangeiros em Portugal, e com humanismo.

O diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves.
O diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves.Foto: Gerardo Santos

Luís Neves, acompanhado as palavras de Leitão Amaro, disse "é um direito e uma responsabilidade do Estado saber quem cá está ".

O responsável da PJ aludiu à imigração de leste que vieram para Portugal para "serem explorados", e que às autoridades, depois dos inquéritos que foram conduzidos na sequência dos abusos identificados, só responderam "com silêncio".

Luís Neves vincou ainda, numa mensagem dirigida a redes criminosas, que agora, com o fim das manifestações de interesse e com a necessidade de haver contratos de trabalho para a obtenção de vistos, há contratos falsos de trabalho a serem emitidos.

Por isso, o diretor da PJ assegurou que "o foco é direitos humanos, integração e respeito".

Vítor Moita Cordeiro

Leitão Amaro diz que ciclo de imigração está quase a superar o número de retornados das ex-colónias

O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, disse que o ciclo de imigração nos últimos cinco anos provavelmente irá ultrapassar em número o “grande fluxo que foi o regresso dos chamados retornados”, que voltaram das antigas colónias portuguesas depois da Revolução de 25 de Abril de 1974.

Numa intervenção dedicada ao tema “A política de imigração de Portugal”, na conferência “O Portugal que temos e o Portugal que queremos ter”, organizada pelo Diário de Notícias, que está a decorrer nesta sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Leitão Amaro destacou a “diferença muito significativa” em relação ao período histórico da descolonização. Em vez de uma imigração “essencialmente de países lusófonos e do leste da Europa”, uma parte significativa daqueles que chegaram veio de uma região “com diferença de língua, ausência de laços históricos e culturais, diferenças religiosas e importação de conflitos políticos dos países de origem”.

Criticando a intervenção dos governos socialistas nos últimos anos, embora tenha feito diferenças entre os responsáveis ministeriais, Leitão Amaro referiu-se em particular ao “desmantelamento da capacidade do Estado”, decorrente da extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, e ao “resultado desastroso”, ainda que “bem intencionado”, do regime de manifestação de interesse, revogado pelo Governo da Aliança Democrática. “Entrava-se em Portugal de forma legal ou ilegal, com controlo de trabalho ou com papéis falsos”, exemplificou, dizendo que esse regime, “único na Europa”, teve o condão de criar “a impressão de que estávamos de portas escancaradas”.

O ministro da Presidência, António Leitão Amaro.
O ministro da Presidência, António Leitão Amaro.Foto: Gerardo Santos

Sobre a “política moderada de imigração” que o atual Executivo está a implementar, o ministro da Presidência disse que deve ser orientada pelo princípio de que Portugal precisa de acolher imigrantes, “sejam os que vêm trabalhar e estudar como os que fogem de perseguições políticas e crises humanitárias”, mas também necessita de regras e de controlo, para garantir que não se cria um sentimento de intranquilidade “que seja pasto para o ódio e ressentimento”.

Mas Leitão Amaro também colocou ênfase na necessidade de “integração com humanidade”. Algo que passa pela atenção aos alunos estrangeiros nas escolas, que passaram de 55 mil em 2018 para os atuais 155 mil, tendo anunciado um investimento de 10 milhões de euros na contratação de mediadores culturais e linguísticos. E igualmente na exigência de que as empresas garantam formação profissional, habitação e aprendizagem da língua portuguesa no âmbito da imigração laboral responsável.

Por outro lado, o governante deixou claro que “quem não cumpre e não está em situação legal no território nacional não pode estar no território nacional”, que a ausência de policiamento e fiscalização é “um favor aos criminosos que exploram imigrantes” e que “viver em Portugal significa o respeito e adesão aos princípios constitucionais”. Nesse sentido, sublinhou que não se pode aceitar “práticas e valores” que se traduzam na “violência, desrespeito e subalternizaçao” das mulheres e crianças.

Leitão Amaro disse ainda que será recuperada e operacionalizado o privilégio aos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa no que toca à imigração, explicando que o anterior governo socialista não chegou a implementar esse sistema, acabando por prejudicar os oriundos desses países, que tinham apenas um ano de autorização de residência e não se podiam movimentar no Espaço Schengen.

Leonardo Ralha

Falta decidir que política de imigração e que direito à imigração se quer, diz Ana Rita Gil

O segundo painel Grande Conferência dos 160 anos do DN - Migrações, integração e diversidade -  o presidente da AIMA, Pedro Portugal Gaspar, deu o pontapé de saída ao debate sem avançar números sobre migrantes em Portugal. Seguiu-se Ana Rita Gil, professora na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), com área de interesse no Direito de Asilo e da Imigração, cuja intervenção focou-se na política de imigração e que direito de imigração se quer para Portugal.

"Falta agora pensar de forma séria, sem extremismos e com liberdade, o que é a política de imigração e o direito de imigração [em Portugal]", afirmou Ana Rita Gil, mostrando-se satisfeita com o fim do processo de manifestação de interesses.

Segundo a professora da FDUL, "a vaga migratória que se verificou com o regime de manifestação de interesses deixou no limbo pessoas que tinham efetivamente direitos fundamentais a ter direito a uma habitação em Portugal", como refugiados ou pessoas que, fugindo de cenários de guerra, procuravam em Portugal residência através de um regime de reagrupamento familiar.

Ana Rita Gil, professora na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Ana Rita Gil, professora na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.FOTO: Gerardo Santos

"A AIMA estava a braços com um verdadeiro tsunami de pedidos de regularização", disse, realçando que o regime de manifestação de interesses não só levou "a uma insustentabilidade da administração", como também conduziu "à insustentabilidade dos tribunais".

"Fui sempre contra a manifestação de interesses, que não é mais do que uma situação de regularização permanente", explicou.

Qual era o problema da manifestação de interesses, segundo Ana Rita Gil? "A manifestação de interesses prometia a quem entrasse ilegalmente no território [português], passado um ano, pudesse ter uma autorização de residência. Isto chama a imigração clandestina e todos os grupos piores que se possam pensar de pessoas que se querem aproveitar de quem quer emigrar para cá. Se isto resolve tudo? Para mim já foi um passo que me deixou muito satisfeita, porque a imigração tem de ser regulada, não restringida", argumentou.

Segundo a especialista em Direito de Asilo e da Imigração, Portugal tem obrigações internacionais que "não pode negar" e, por isso, lembra que "não é possível estabelecer quotas para refugiados e para pessoas que procuram outro tipo de proteção internacional, e para os reagrupamentos familiares".

No entanto, e fazendo a ressalva que é "completamente apartidária", Ana Rita Gil considera que o tema da imigração e integração tem de ser debatido com cuidado, uma vez que está em causa uma "sobrecarga imensa dos direitos sociais", bem como "situações de indignidade" em que muitas pessoas ficaram após a criação do regime de manifestação de interesses.

José Varela Rodrigues

Diretor da PJ alerta para a desinformação e assegura que "a criminalidade violenta tem diminuído"

Luís Neves confirmou que, "num universo de 10 mil reclusos", excetuando europeus, africanos e latino americanos, são apenas 120 estrangeiros, e não necessariamente imigrantes, explicou, dando nota daquilo a que chamou "criminalidade itinerante".

O diretor da PJ respondia sobre a ideia de perceção da criminalidade e polarização em torno da imigração, que tem estado na ordem do dia, e que de acordo com Luís Neves correspondem a fake news, "desinformação" e "ameaças híbridas".

Luís Neves sublinhou ainda que "estamos a assistir a uma momento de desinformação", que "acabam por criar nas pessoas a ideia de insegurança", que não tem "que ver com a insegurança ampla do crime".

"É preciso fazer a destrinça entre os criminosos estrangeiros que usam Portugal para a sua prática" e os imigrantes", alertou Luís Neves, evocando dados concretos sobre o tema.

O diretor nacional da PJ, com vários documentos na mão, explicou ainda que nas estatísticas a que estava a aludir já constam dados sobre a nacionalidade dos criminosos.

Na passada quarta-feira, durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro, a IL lembrou que, um dia antes, tinha avançado com um projeto de resolução que tem como objetivo incluir nos dados do Relatório Anual da Segurança Interna (RASI) a nacionalidade de criminosos e vítimas, para "esvaziar discursos populistas".

Ao longo da sua intervenção, depois de reiterar que os 120 estrangeiros "de outras nacionalidades" - que não são europeus, nem africanos, nem da América Latina (incluindo o Brasil), - que estão presos, num universo de 10 mil reclusos, não correspondem às narrativas que têm proliferado sobre o tema.

O diretor da PJ lançou uma série de perguntas retóricas sobre a criminalidade no passado, apoiada em números, que indicavam que a criminalidade violenta tem diminuído nos últimos anos, pelo menos desde 2008.

"Estes números não nos permitem mentir", explicou, apelando a um exercício de memória da audiência para recordar os anos de maior pico de criminalidade como foram 2008 e 2009: "Alguém hoje ouve falar de ataques a ATM [caixas multibanco] com explosivos? Alguém ouve falar de mortos nas gasolineiras como resultado de assaltos?"

À esta lista de crimes, Luís Neves ainda acrescentou o carjacking e recordou os "mortos por consumo de heroína", que há décadas devastavam famílias. "Alguém se recorda da zona de Arroios e do Intendente", acrescentou ainda, referindo a prostituição e o consumo de drogas.

"Querem comparar esse período e dizer que hoje é que é mau?"

Luís Neves, voltando a sublinhar que "estamos a falar de dados concretos", deixou ainda uma palavra sobre a importância de se celebrar os 160 anos do DN, "um grande jornal que combate a desinformação e as fake news".

Vítor Moita Cordeiro

António Mendonça: "Crescimento é medíocre há 20 anos, temos de pensar a sério numa estratégia"

"Precisamos de nos libertar das velhas ideias e concentrarmos-nos no que é possível fazer de novo" na economia portuguesa, tendo em conta que "temos um problema estrutural ao nível do investimento e que estamos com um crescimento medíocre há mais de 20 anos", disse António Mendonça, bastonário da Ordem dos Advogados (OA), no painel de debate sobre as opções estratégicas da economia portuguesa, integrado na conferência dos 160 anos do Diário de Notícias (DN).

No encontro subordinado ao tema “O Portugal que temos e o Portugal que queremos ter”, que decorreu sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o professor de Economia do ISEG foi citando economistas "famosos" para assegurar que o futuro "é incerto" e que Portugal só vai prosseguir no seu desenvolvimento "em articulação" com os seus parceiros europeus, por exemplo.

"Temos de ter a nossa própria visão estratégica", "temos de pensar seriamente nisso", e esta deve encaixar no que os nossos parceiros também estão a fazer, defendeu.

António Mendonça, bastonário da Ordem dos Advogados (OA).
António Mendonça, bastonário da Ordem dos Advogados (OA).Foto: Gerardo Santos

Mas para lá chegarmos, o bastonário considera essencial que o país acabe com a "diluição do pensamento estratégico, que está repartido por estruturas de missão, gabinetes de estudo, departamentos, missões, gabinetes", e invista numa "estrutura central", mais poderosa, que consiga definir as grandes estratégias a seguir e que fazem sentido.

Na opinião do economista, o país, tal como a Europa, precisa de "fazer uma reindustrialização" e "é necessário diversificar mais a nossa economia".

Atualmente, "o turismo vale 30% da economia portuguesa", o que para o professor "é uma coisa positiva", mas "é um risco pensar que podemos continuar a fazer mais do mesmo", avisou o ex-ministro das Obras Públicas do segundo governo do PS, de José Sócrates (2009 a 2011).

Foi uma forma de alertar para aparente dependência ou vulnerabilidade face a um grande setor como o turismo, que pode ser facilmente perturbado ou interrompido por uma nova crise, como aconteceu na pandemia.

Além disso, não é só Portugal. "A própria Europa está nesse processo de definição do que deve ser a sua reindustrialização", acrescentou.

Então, Portugal tem de acompanhar isto a partir do primeiro momento. "O que é que tem potencial na economia portuguesa? Temos de apostar nas ligações de transportes, de energia, por exemplo, mas sempre numa lógica de interligação em termos europeus e globais", defendeu António Mendonça.

Inspirado por Draghi

Na intervenção no auditório da Fundação Gulbenkian, o bastonário citou várias vezes o economista e ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), autor do relatório sobre o futuro da competitividade europeia publicado em 2024.

"É uma peça notável, uma revolução em termos da análise" e "Draghi vai ainda mais além", calculando "que a Europa precisa de pelo menos 800 mil milhões de euros" a mais por ano para "preencher a falta que existe no investimento a nível europeu", o investimento que é preciso fazer para devolver uma nova glória económica ao Velho Continente.

"O que Draghi diz é que a Europa está atrasadíssima" e refere que "a China pesa hoje tanto como a Europa à escala global", com cada região a valer cerca de 17% do total mundial. À frente continuam os Estados Unidos, "com um peso de 20%".

Para António Mendonça, o que estamos aqui a dizer é que "isto altera completamente o quadro da relação de forças que existiu até aqui", em que era a China a produzir barato permitindo o crescimento de receitas e lucros de grandes empresas europeias.

"Mas isso deixou de ser assim. Olhe-se para o caso da Tesla. Grande parte do Tesla é fabricada na China" e há empresas "como a BYD" que vão ou estão a disputar a liderança mundial que até agora era da Tesla, avisou o bastonário.

Portanto, "A Europa tem de investir muito mais e tem de se reindustrializar, depois de ter andado décadas a construir cadeias de valor global que hoje não consegue dominar", resume o economistas.

No caso do investimento em Portugal, o professor do ISEG deu um outro exemplo: o da aposta nas qualificações, do investimento em pessoas. O que temos hoje é que "nós estamos a pagar a mão de obra qualificada noutros países", disse numa alusão à fuga de milhares de qualificados nos últimos anos, sobretudo jovens.

Se assim é, António Mendonça defende que "devíamos ter uma forma a nível europeu para financiar este investimento em educação".

Luís Reis Ribeiro

Pedro Reis: "Economia portuguesa tem argumentos para manter a atividade e cumprir o seu crescimento em 2025"

Pedro Reis está otimista sobre o crescimento da economia nacional nos próximos meses. "A economia portuguesa tem argumentos para manter a atividade em 2025 e cumprir o seu crescimento na ordem dos 2%, alicerçado na execução do PRR, na atividade industrial e de serviços, agarrando o emprego, mantendo consumo e atraindo investimento externo para cavalgar 2026 se o cenário for positivo, como é possível. Não estou a dizer que é previsível, mas é possível", referiu o ministro da Economia.

Pedro Reis, que inaugurou a segunda parte da Grande Conferência dos 160 anos do DN, com uma intervenção sobre as perspetivas para a economia portuguesa, garantiu que "em temos internacionais há vetores de reforço de uma certa confiança de uma agenda de crescimento".

“A inflação parece estar fora dos ciclos mais intensos, a nível europeu há um fôlego que demonstra o arranque de um novo ciclo da Comissão Europeia, nomeadamente se cumprir o que tem anunciado, um plano de ação para colocar o relatório Draghi no terreno”, indicou.

Pedro Reis, ministro da Economia.
Pedro Reis, ministro da Economia.Foto: Gerardo Santos

O governante assinalou ainda fecho do acordo entre a UE e os quatro países fundadores do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai). “É importante para a Europa e para Portugal que pode ser um dos grandes beneficiários deste acordo, nomeadamente a indústria e o seror agrícola português”, sublinhou.

O responsável da pasta da Economia destacou ainda, numa leitura aos bons ventos que chegam de fora, o “sentimento positivo que se vive nos Estados Unidos em termos de crescimento económico”. “Há a perceção de que pode haver um espaço para se consolidar uma redução de impostos e alguma intensidade no investimento. E isso é bom para o mundo”, afiançou.

“Pode ser positivo, gostemos ou não, mas está em curso o processo da replicação dos centros de competência. É bom para a Europa e para Portugal, é uma janela de captação de investimento que não seria possível em circunstâncias normais”, acrescentou.

Já do lado dos desafios, Pedro Reis foi categórico ao eleger o conflito armado na Ucrânia como sendo “a grande nuvem em cima da economia”. “Por mais que se considere que estamos ou não numa fase avançada do conflito, que haja fadiga, enquanto não for claro para as empresas e investidores o que se vai ali passar é difícil abrir a visibilidade sobre a economia. Se se conseguir encontrar um espaço de maior nitidez e abrandamento isso abrirá um espaço não só de reconstrução da Ucrânia, mas de aceleração da economia”, explicou.

O ministro disse acreditar que 2025 será “um ano de transição” e está confiante de que, apesar dos desafios, há margem para o crescimento económico. “Não advogo os otimismos, mas recuso os pessimismos. Há um cenário em que se der o abrandamento dos conflitos e se a economia americana der sinais de crescimento, há um espaço economico de reconstrução e de investimento”, reiterou frisando que “Portugal é visto como um porto de abrigo seguro para o investimento”.

Rute Simão

Carlos Formigal: "IA é um percurso de descoberta"

Carlos Formigal, head of engineering IT hub da Philip Morris International, considera que a Inteligência Artificial (IA) não é um fim em si, mas antes "um percurso de descoberta" contínua.

O responsável falava no paínel "O Futuro da Inteligência Artificial", da Grande Conferência dos 160 anos do DN, onde defendeu que "é preciso que as empresas estejam preparadas para este tipo de tecnologia", identificando que oportunidades há e "como a IA pode ajudar".

Para Carlos Formigal, o atual momento é de apenas de acesso e utilização em escala "mais facilitado". Mas a IA não é um tema de agora.

Carlos Formigal, head of engineering IT hub da Philip Morris International.
Carlos Formigal, head of engineering IT hub da Philip Morris International.Foto: Gerardo Santos

No caso da Philip Morris, o responsável explicou que a primeira abordagem ainda decorre, focando-se nos recursos humanos da empresa, nomeadamente na "simplificação de processos, controlo e automação".

Com o apoio à IA, Carlos Formigal realçou que a empresa tem um hub em Portugal, a partir do qual "dá suporte e opera toda a Philip Morris". E, atualmente, prossegue, a empresa já "assegura 52 milhões de serviços de valor importado exportado".

A grande questão, segundo o responsável, é como pode a IA "ser usada para suportar a organização" e dar ao produto "maior impacto". No caso daquela empresa, "produtos como maior alternativa ao cigarro".

José Varela Rodrigues

Isabel Ucha. “Fraca literacia financeira dos portugueses prejudica inovação e crescimento”

A CEO da Euronext Lisbon defende um aumento do investimento de risco a longo prazo como forma de estimular a inovação, a produtividade e o crescimento da economia portugesa.

“Portugal tem condições muito interessantes para atrair capital intangível e investimento em centros de serviços de elevado valor acrescentado”, mas peca por “uma grande falta de literacia financeira” considerou a CEO da Euronext Lisbon, Isabel Ucha, no painel sobre o futuro e a estratégia para economia portuguesa da Conferência dos 160 anos de Diário de Notícias, ‘O Portugal que temos e o Portugal que queremos ter’, que decorre esta sexta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian.

Isabel Ucha começou por destacar o exemplo da Euronext Lisbon, que está integrada no grupo europeu de mercados financeiros, que substitui a Bolsa de Valores de Lisboa desde 2002, compreendendo um total de 14 países e sete mercados regulados. “Começámos com 70 pessoas, hoje temos 400 pessoas e chegaremos este ano aos 600 colaboradores altamente espcializados e maioritariamente portugueses”, disse a executiva.

Isabel Ucha, CEO da Euronext Lisbon.
Isabel Ucha, CEO da Euronext Lisbon.Foto: Gerardo Santos

Mas, apesar dessa capacidade de atração de capital cinzento, os portugueses, mais do que os restantes europeus, “têm uma fraca literacia financeira, o que nos coloca sérios desafios no mercado da poupança e investimento”, disse. Porquê? “As pessoas têm as suas poupanças maioritariamente em depósitos bancários e quando muito em títulos da dívida pública”, disse, o que “se é verdade que tem um risco reduzido também oferece uma rendibilidade muito baixa”. O dinheiro deixado nos bancos “chega às empresas através do crédito bancário, mas, sendo importante, não está vocacionado para o capital de risco, capital de inovação, com paciência”, explicou a CEO da Euronext Lisbon.

Para aumentar o investimento, a inovação, a produtividade e, por arrasto, o crescimento da economia portuguesa, sobretudo nas pequenas e médias empresas, Isabel Ucha defende que “os portugueses devem aumentar o perfil de risco do investimento a longo prazo”.

Uma das formas de o fazer é, por exemplo, no financiamento do sistema de pensões, disse. A gestora apontou o exemplo da Suécia, um país onde o sistema de pensões é financiado tanto pelo Estado como pelos fundos privados e onde, numa década, se passou de 400 empresas cotadas para mil empresas cotadas. O mesmo aconteceu com os investidores em produtos financeiros, que passaram de 200 mil, em 2012, para os 4 milhões, num país com uma população semelhante à portuguesa.

Na sua opinião, em Portugal deveria ser iniciada uma discussão nesse sentido, mesmo que com todas as cautelas necessárias. E advoga o ensino da literacia financeira no ensino secundário, porque considera que “não é admissível que um jovem saia da faculdade sem saber a diferença entre uma acção e uma obrigação e só tenha ouvido falar de criptomoedas”.

Para reforçar o incentivo ao um maior investimento em aplicações financeiras, que ajudam a financiar sobretudo as empresas de média dimensão, Isabel Ucha disse que “não é preciso inventar a roda”. A especialista defende uma reforma da tributação fiscal um pouco em linha como o que os suecos fizeram: “simplificou-se o sistema, eliminado a tributação aos jruros, dividendos, mais valias e introduzindo um imposto sobre o valor em carteira que é cobrado automaticamente pelo banco e entregue ao Estado”.

Carla Aguiar

Luís Barreto Xavier diz que IA ainda está a dar primeiros passos na advocacia

"A advocacia é transformada como todos os outros setores, mas este processo está no seu início na área da advocacia", afirmou Luís Barreto Xavier, presidente do Instituto de Conhecimento da Abreu Advogados, durante o painel "O Futuro da Inteligência Artificial", na Grande Conferência dos 160 anos do DN.

Questionado sobre se a adoção da IA terá impactos nos honorários dos advogados, o consultor da Abreu afirmou que a acomodação desta tecnologia no negócio dos advogados é um dos grandes desafios. Isto porque pode existir a perceção de que as horas faturáveis dos advogados poderiam ser menos já que têm modelos de IA a ajudar o trabalho.

"Quanto mais eficiente for um advogado menos horas trabalha", refere Barreto Xavier, referindo que o "modelo de incentivos" está "um bocado trocado". Ainda assim, disse o consultor da Abreu, o sistema de horas faturáveis não é a única forma de remuneração dos advogados.

Por outro lado, Luís Barreto Xavier considera que o custo da tecnologia deve ser refletido nos honorários, defendendo que o valor da confidencialidade dos dados de um escritório de advogados não é negligenciável.

"Tem que se incorporar o investimento feito na tecnologia. Os custos devem ser refletidos nos honorários dos advogados", considerou.

José Varela Rodrigues e Nuno Vinha

Luís Barreto Xavier, presidente do Instituto de Conhecimento da Abreu.
Luís Barreto Xavier, presidente do Instituto de Conhecimento da Abreu.Foto: Gerardo Santos

Daniela Braga defende criação de uma Agência Nacional de Inteligência Artificial

Uma das oradoras no painel sobre "O futuro da Inteligência Artificial", integrado na conferência dos 160 anos do DN dedicada ao tema "Qua Portugal temos e que Portugal queremos ter", a empreendedora portuguesa Daniela Braga, CEO da startup Define.ai, defendeu a importância do país criar uma Agência Nacional de Inteligência Artificial, "uma espécie de hub de IA para formar talento e criar condições para produzir tecnologia de base".

CEO de uma das empresas mais promissoras na área de inteligência artificial do mundo, com sede em Seattle, Daniela Braga, que em 2021 foi escolhida pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden para integrar uma task force para a estratégia sobre IA, acredita que o país tem o talento e as condições necessárias para investir em tecnologia de base, mas alertou que o tempo está a esgotar-se.

“Cada mês que passa estamos cada vez mais atrasados. Eu ando a dizer isto há 5 anos pelo menos. Está cada vez a ficar mais difícil desenvolver alguma coisa relevante de base”, afirmou.

Embora reconheça a dificuldade de competir com os grandes players globais, a empresária destacou o potencial de Portugal em combinar tecnologias existentes com soluções locais para criar aplicações inovadoras, "como é o caso do investimento que foi feito nas agendas do Accelerate AI e do Centro de Responsabilidade de Inteligência Artificial".

Daniela Braga,  CEO da startup Define.ai.
Daniela Braga, CEO da startup Define.ai.Foto: Gerardo Santos

Daniela Braga acredita que Portugal deve apostar num desenvolvimento de serviços à volta da Inteligência Artificial não apenas para o mercado português, mas a pensar numa escala global. E citou como exemplo o impacto da IA no setor de manufatura, particularmente na integração da robótica com Large Visual Models (grandes modelos visuais), usados para aplicações tão diversas quanto linhas de montagem, logística ou até na avaliação de qualidade de produtos agrícolas.

"Às vezes, não é quem inventa a roda que tem o melhor retorno dessa invenção. É quem utiliza e rentabiliza várias tecnologias ao serviço de setores que vão ser completamente transformados”, explicou.

Radicada nos EUA, a CEO da defined.ai salientou ainda que precisamos de reforçar parcerias internacionais a nível académico para a formação de talentos, "especialmente com os Estados Unidos", país que "ainda se mantém como líder em inovações tecnológicas".

“Precisamos de mais cursos combinados com bolsas inbound e outbound, ou seja, mandar professores para os Estados Unidos e convidar professores norte-americanos para Portugal. O intercâmbio entre instituições é essencial para formar cada vez mais pessoas e estar na linha da frente”, concluiu.

Rui Frias

Pedro Martins diz que Portugal deve atrair grandes tecnológicas para acelerar IA

Pedro Martins, executive director & head of data & AI na Devoteam Portugal, considera que o país deve criar condições para atrair os centros de dados das Big Tech, para acelerar a inovação da IA no país.

"Precisamos de ter [mais] acesso aos dados", afirmou o especialista durante o painel "O Futuro da Inteligência Artificial", na Grande Conferência dos 160 anos do DN, quando questionado que políticas públicas podem ser adotadas para incentivar o progresso com IA.

No caso da Devoteam, o responsável defendeu que o trabalho começou "há bastante tempo". "Somos inovadores" em Portugal, assegurou, lembrando que o primeiro chatbot de IA criado pela Devoteam foi desenvolvido há mais de um ano para os CTT.

"Reduziu em 30% as chamadas de call center", notou, com os CTT "a ganharem um prémio mundial de inovação" com o programa HELENA.

O grande desafio, considerou, é a produtividade. "70% do sfotware da Amazon já é feito por máquinas e não por humanos, isto é um desafio", afirmou, tendo em conta que a substituição de tarefas ainda está no início e há que "escolher" as áreas onde atuar com IA.

A produtividade é um desafio com a substituição de tarefas. "E estamos no início, sendo que a nova onda de inovação já nos vai trazer robots", disse.

José Varela Rodrigues

Pedro Martins, executive director & head of data & AI na Devoteam Portugal.
Pedro Martins, executive director & head of data & AI na Devoteam Portugal.Foto: Gerardo Santos

Pedro Pita Barros: "A produtividade é o que conta para melhorar os níveis de vida"

O país tem grandes dificuldades em "colocar a produtividade no centro da nossa atenção" e, no longo prazo, "a produtividade é o que conta para melhorar os níveis de vida", defendeu esta sexta-feira Pedro Pita Barros, professor da Nova Business School, na sua intervenção no painel "As opções estratégicas da economia portuguesa".

Num cenário de incerteza, como estamos atualmente a viver, o economista considerou necessário o país "ter jogo de cintura" e centrar-se na melhoria da produtividade. Para isso, deve "investir em empresas que melhorem a sua produtividade, mas também fazer desaparecer empresas que não têm grande produtividade, para deixar crescer aquelas que têm, e deixar encolher setores que têm baixa produtividade, para deixar crescer os que têm mais produtividade", considerou.

Pedro Pita Barros defendeu ainda a necessidade de haver um pensamento estruturado nos organismos públicos. Reconhecendo que até já existe o Centro de Planeamento e de Avaliação de Políticas Públicas, considerou que talvez não seja "levado muito a sério, porque tem como lema planear, desenhar e avaliar". O nosso problema não é ter ideias, é depois conseguir dar-lhes seriedade".

Pedro Pita Barros, professor da Nova Business School.
Pedro Pita Barros, professor da Nova Business School.Foto: Gerardo Santos

O professor da Nova Business School frisou ainda a necessidade de haver "um escrutínio muito grande de tudo o que é feito na área pública", nomeadamente "conhecer qual é a taxa de retorno económico e social de tudo o que é feito".

Na sua opinião, é surpreendente que no PRR seja descrito tudo o que é executado e não se defina qual é o retorno esperado. Também sugeriu uma métrica do impacto dos investimentos numa escala europeia. "Se não se fizer isso, não vale a pena", frisou. "Portugal é uma ilha muito pequena e temos de pensar a nível europeu", disse ainda.

Já na reta final do painel, Pedro Pita Barros lembrou a importância de "dinamizar o meio científico e académico para dar a inovação que é precisa", até porque "não podemos estar sempre a comprar inovação fora". Mas apontou que "a aproximação das empresas à universidade ou vice-versa em Portugal é uma treta".

O crescimento da economia portuguesa, e por inerência da produtividade, exige a criação de "mecanismos eficazes de levar pessoas de uns setores para outros", advogou. Quando uma empresa do Norte do país fecha "não pode ser um drama político. O drama político é se essas pessoas não conseguirem encontrar emprego noutro sítio". Como sublinhou, "o que é importante não é o que fecha, é o que se consegue abrir para absorver o que fechou".

Sónia Santos Pereira

Maria Manuel Leitão Marques rejeita que regulação europeia sobre IA seja barreira à inovação

A ex-eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques defende que a regulamentação europeia para inteligência artificial (IA) não é um obstáculo à inovação, mas sim um mecanismo fundamental para garantir a confiança dos cidadãos nos avanços tecnológicos. Para a antiga governante socialista, oradora esta sexta-feira no painel sobre "O futuro da Inteligência Artificial" que integrou a conferência dos 160 anos do DN , os principais desafios da Europa nesta área da IA são antes a falta de capital de risco e a necessidade de acelerar a transformação da investigação científica em inovação económica.

Maria Manuel Leitão Marques rejeitou o que considerou uma ideia feita de que "a Europa regula antes de inovar", uma crítica frequentemente direcionada às suas políticas digitais, incluindo o Regulamento Europeu de IA. A ex-eurodeputada recorreu ao exemplo de unicórnios portugueses como a Sword Health, a OutSystems ou a Feedzai, para salientar que "nenhum deles se queixou de regulação no desenvolvimento do seu negócio, do que se queixaram foi da falta de capital de risco europeu".

A ex-eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques.
A ex-eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques.Foto: Gerardo Santos

Lembrando que a regulamentação europeia nesta matéria é muito recente e ainda nem sequer entrou em vigor, Maria Manuel Leitão Marques referiu que esta foi estruturada de forma a focar-se "nas áreas de maior risco" e garantir que a inovação ocorra de forma ética e segura.

"A regulação serve para que nós tenhamos confiança na inovação", sublinhou, recorrendo a exemplos de outros setores, comuns até no dia a dia. "Ninguém tomaria um medicamento que fosse, ou sujeitar-se-ia a um tratamento, se não confiasse que ele tinha passado nos vários crivos, nos vários filtros que são utilizados antes de entrar no mercado", explicou.

Apesar disso, a ex-eurodeputada reconhece a necessidade de melhorar a tradução do regulamento em orientações claras e acessíveis para as empresas, destacando também a escassez de talento e a baixa literacia digital como desafios acrescidos para a inovação em Portugal e na Europa, "sobretudo nas pequenas e médias empresas".

Rui Frias

Bernardo Ferrão: "Jornalismo e tecnologia existem e o melhor é que as duas casem na perfeição"

Bernardo Ferrão, diretor de informação da SIC e SIC Notícias, considera que "o futuro do jornalismo passa muito pelo futuro das redes sociais", uma ideia que justificou com a presença constante de Elon Musk, "um homem de grande importancia no mundo", que através do X (antigo Twitter), "tem feito diversas publicações para fomentar desconfiança nos media tradicionais e no jornalismo clássico", pois considera que o objetivo é "formentar um contacto mais direto dos políticos com as pessoas".

Essa é, segundo Bernando Ferrão, "uma tendência" que é preciso acompanhar, razão pela qual acredita que nos próximos 50 anos "o jornalismo não desaparecerá, mas será ameaçado pelas novas tecnologias e as redes sociais". Nesse sentido, acredita que "haverá uma desagregação dos públicos": "Estamos a falar para públicos diferentes e estamos a falar para cada vez mais para mais segmentos. É esse um dos grandes desafios do jornalismo, mas não acho que o jornalismo vá acabar."

Bernardo Ferrão, diretor de informação da SIC e SIC Notícias.
Bernardo Ferrão, diretor de informação da SIC e SIC Notícias.Foto: Gerardo Santos

O diretor de informação da SIC sublinha "o jornalismo tranformou-se" e já não é "algo abstrato, de papel e pesado". E nesse contexto, garante que "as redes sociais são uma vantagem para os meios de comunicação social e permitem que haja um contacto com as marcas". "Através delas conseguimos trazer pessoas para o meu ógão de comunicação. Como tal, é preciso satisfazer o utilizador com as nossas criações para trazer essas pessoas para verem a nossa informação", justificou, acrescentando que, por exemplo, "o podcast é jornalismo" e, por isso, "é preciso encarar esta transformação".

Bernardo Ferrão revelou que no grupo Impresa, do qual faz parte a SIC, "é utilizado software que facilita a produtividade no jornalismo", no qual "há um grande impacto da Inteligência Artificial", mas é garantido que "há edição e revisão humana dos conteúdos". "Já usamos uma ferramenta de transcrição e tradução para entrevistas, que transcreve em segundos. Usamos um software que transforma os vídeos filmados em horizontal para vertical para os telemóveis", exemplificou, admitindo que agora há "redações menores para fazer muito mais".

Nesse sentido, o diretor de informação da SIC considera que para os novos jornalistas é essencial ter "persistência" e "perceber que é preciso saber fazer mais coisas para várias frentes", lembrando que "o jornalismo e a tecnologia existem e o melhor é que as duas casem na perfeição".

Carlos Nogueira

Luísa Meireles: "Redes sociais foram poderoso catalisador da crise da comunicação social"

Luísa Meireles não tem dúvidas: "O advento das redes sociais foi um poderoso e importante catalisador, propulsor, multiplicador da crise da comunicação social e dos jornalistas." Mas uma coisa é preciso separar o modelo do negócio dos meios de comunicação e outra é o jornalismo e esse existe "desde que existe ser humano, com boca e ouvidos".

Antigamente as notícias eram boca a boca, depois passaram a ser das mais diversas maneiras e feitios. "A primeira agência de notícias usava pombos correios e depois passou a usar o código morse, que também usava pombos e depois passou a usar cavalos.Estes são os meios para levar as coisas aos cidadãos. As redes sociais existem para isso e por isso não podemos prescindir delas, mas podemos pensar em fazer o melhor uso delas. Uma significativa maioria das pessoas, nomeadamente nos setores mais jovens, usam as redes sociais para se informar. Por isso as redes sociais não se podem simplesmente pôr de lado", defendeu a diretora da Agência Lusa no painel O futuro do jornalismo, moderado pelo diretor adjunto do Diário de Notícias, Leonídio Paulo Ferreira.

Na companhia de Bernardo Ferrão da SIC e Nuno Santos da TVI, Luísa Meireles defendeu que também é preciso usar o filtro ético no recurso a ferramentas de inteligência artificial. A rapidez não se pode sobrepor ao rigor, porque "a palavra dita fica para sempre." Há mais de uma década que a Lusa já tem ferramentas de transcrição e tradução de entrevistas por exemplo.

"Estamos a trabalhar e uma Carta de Princípios de utilização de ferramentas de inteligência artificial na Lusa com princípios básicos que são os princípios da supervisão humana, transparência e não utilização de clonagem e o respeito pela privacidade e vamos dar formação aos jornalistas sobre como usar essas ferramentas", revelou a diretora da Lusa.

Isaura Almeida

Luísa Meireles, diretora da Agência Lusa.
Luísa Meireles, diretora da Agência Lusa.Foto: Gerardo Santos

Jornalismo depende das redes sociais para chegar a diferentes públicos, diz Nuno Santos

O diretor de informação da TVI e da CNN Portugal, Nuno Santos, considera que o jornalismo depende das redes sociais para chegar a diferentes públicos.

"As redes sociais fazem parte da vida de todos nós e o jornalismo também vai buscar muito dos conteúdos, talvez mais do que devia fazer. Por outro lado, usa as redes como colocação de conteúdos", afirmou Nuno Santos no painel "O futuro do jornalismo", na Grande Conferência dos 160 anos do DN.

Para o responsável, a relação existe, sobretudo, pela menor capacidade dos meios de comunicação em chegar às pessoas.

Nuno Santos, diretor de informação da TVI e da CNN Portugal.
Nuno Santos, diretor de informação da TVI e da CNN Portugal.Gerardo Santos

"Temos uma capacidade de contacto muito menor com as pessoas. Nenhum dos meios tem capacidade de chegar às pessoas sem as redes sociais". prosseguiu, admitindo que há outra discussão a ser feita. "Se o fazemos [leia-se o uso das redes sociais] de forma mais correta ou não?", interregou.

Questionado sobre o uso da IA no jornalismo, revelou que a Media Capital está "a trabalhar em diversas frentes", alertando que "a entrada em força das ferramentas de IA é o próximo grande desafio".

Para Nuno Santos, a investigação e a reportagem podem sair beneficiados do uso da IA, indicando que esta ferramenta também traz soluções que podem tornar mais "viável" a comunicação social, do ponto de vista do negócio.

"Somos um anão político porque somos um anão militar". Os avisos de Álvaro Beleza que não aceita "este Portugal dos pequeninos".

Álvaro Beleza, presidente da Sedes - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, considera que a “Europa está com uma crise profunda nos principais países fundadores e liderantes: a Alemanha e a França”.

“Desejo como europeu que a Alemanha encontre um caminho de liderança política e económica e que a França encontre um caminho que não seja de extremismo, como se teme”, afirmou durante a sua intervenção no último painel de debate "Portugal em 2025".

O antigo mandatário nacional de Pedro Nuno Santos nas eleições legislativas de 10 de março de 2024 e que faz parte da Comissão Nacional do PS espera que, em Portugal, “o populismo não grasse no país e que haja racionalidade, sobriedade, juízo, para que não venhamos a ter outra vez ameaças de bancarrota… troikas”.

O aviso refere-se, e é explicito, ao que aconteceu esta manhã na Assembleia da República: a aprovação de mais 302 freguesias.

“Nós devemos aprender com as lições e às vezes não aprendemos. Um país que precisa de escala, o país das quintas dividido em quintinhas, está a subdividir freguesias… sinceramente, é o Portugal dos pequeninos, que eu acho graça em Coimbra, mas que não gostava que fosse o nosso caminho”, pediu Álvaro Beleza.

Álvaro Beleza, presidente da Sedes.
Álvaro Beleza, presidente da Sedes.Foto: Gerardo Santos

Álvaro Beleza, questionado sobre as questões de Defesa na Europa, diz que a invasão da Ucrânia pela Rússia veio “demonstrar à exaustão que a Europa tem que se armar até aos dentes, mas armar a sério, para evitar uma guerra e para ter autonomia e liderança mundial”.

“A Europa é um gigante económico, é um porto de abrigo político, cultural… nós vivemos no melhor condomínio a nível mundial, mas somos um anão político porque somos um anão militar. A Europa assim está dependente dos Estados Unidos”, considerou.

Para o presidente da Sedes, é evidente que “Portugal e a Europa precisam de investir na Defesa, o que também é bom para a economia. É fundamental”. E, acrescentou, “precisamos de ter políticos que falem verdade, que digam as pessoas aquilo que eles acham que é preciso fazer, o que nem sempre é simpático”.

Havendo “ambição”, porque é essa a “palavra-chave”, Portugal pode ser a “Dinamarca do Sul. E só é preciso uma verdadeira reforma fiscal e uma reforma da justiça”.

Artur Cassiano

Marques Mendes: "Próximo Presidente da República tem de ser alguém capaz de construir pontes de entendimento"

Falando dos desafios políticos e económicos de Portugal nos próximos tempos, na conferência dos 160 anos do DN, esta sexta-feira, Marques Mendes salientou a importância de o próximo Presidente da República ser alguém "capaz de construir pontes". "Seja ele quem for", sublinhou, sem entrar diretamente no tema das Presidenciais, corrida na qual é apontado como um dos possíveis participantes: "Sobre isso não digo mais do que tenho dito publicamente."

O comentador e antigo líder do PSD salientou que "vivemos hoje um tempo de características que são radicalmente diferentes daquelas em que vivíamos", um tempo, reforçou "em que é preciso construir pontes de entendimento". "Não tenho dúvidas nenhumas sobre isso".

O conselheiro de Estado, que esta sexta-feira participou da reunião daquele órgão em Belém, da qual saiu nova dissolução do parlamento regional da Madeira, deu precisamente esse exemplo como aquilo que deve ser evitado na política nacional. "É a terceira dissolução num ano e meio. Isto não é modo de vida. Não podemos passar a vida nesta ideia de dissolução e eleições antecipadas".

Rui Frias

Marques Mendes, comentador e antigo líder do PSD
Marques Mendes, comentador e antigo líder do PSD Foto: Gerardo Santos

Clara Raposo. Primeiro trimestre será fulcral para acalmar incerteza que paira sobre as economias

“O primeiro trimestre deste ano vai ser determinante para pôr fim à incerteza que tem pairado sobre as economias, face às grandes mudanças políticas que têm ocorrido nos últimos tempos”, considerou a vice-governadora do Banco de Portugal, no painel sobre os desafios de Portugal em 2025, da conferência que assinala dos 160 anos do DN. Clara Raposo referia-se, em concreto, às medidas dos primeiros 100 dias da administração Trumpo 2.0, mas também à expetativa sobre a visão estratégica do novo executivo da Comissão Europeia.

“Já estamos todos saturados de diagnósticos, queremos saber com o que podemos contar para podermos decidir onde investir e quando investir”, observou a vice-governadora, numa crítica implícita a Bruxelas.

Quanto às perspetivas econonómicas, Clara Raposo reitera, como não podia deixar de ser, as previsões do Boletim de Dezembro do Banco de Portugal. Após a verificação de um crescimento de 1,7% em 2024 (estimativa), a autoridade de supervisão financeira prevê para 2025 e 2026 um crescimento de 2,2% para cada um dos anos. Essa evolução vai beneficiar no imediato da execução dos projetos do PRR, sendo que para o ano seguinte, o Banco de Portugal estima uma desaceleração, também por efeito do término daqueles projetos, explicou a executiva.

Clara Raposo, vice-governadora do Banco de Portugal.
Clara Raposo, vice-governadora do Banco de Portugal.Foto: Gerardo Santos

A vice-governadora defendeu ainda que “este é o momento de reforçar o investimento, tanto privado quanto público” e fez questão de salientar que “o investimento público não é nocivo, pelo contrário, é muitas vezes essencial”. Lembrou, a propósito, que ao contrário da ideia dominante que cola o sucesso dos Estados Unidos ao liberalismo, “a economia americana beneficia muito de apoios públicos”. O que é nocivo, disse, “é quando os privados adiam o mais possível os planos de investimento sistematicamente à espera de um incentivo público, sem ambição de arriscar”.

Tal como já tinha feito a CEO da Euronext Lisbon , Isabel Ucha, no painel anterior, a vice-governadora defendeu também “uma maior cultura de risco nas aplicações financeiras dos portugueses, a par das aplicações mais seguras nos bancos”, para incentivar o mercado de capitais. Temos de colocar muita energia no tema da literacia financeira, concluiu.

Carla Aguiar

Marques Mendes aponta estabilidade política e investimento como principais desafios de Portugal em 2025

Em intervenção no painel sobre "Portugal em 2025" que fechou a conferência dos 160 anos do Diário de Notícias, esta sexta-feira, na Fundação Gulbenkian, Luís Marques Mendes destacou que o País vive um momento positivo no meio de um contexto internacional marcado pela incerteza e apontou como grandes desafios para os próximos tempos a estabilidade política e a capacidade de dar bom uso, em termos de investimento público, aos cerca de 10 mil milhões de euros de fundos europeus esperados este ano.

O conselheiro de Estado reforçou que a estabilidade política, a credibilidade financeira (na qual atribuiu boa parte do mérito ao governo anterior) e a atratividade para investidores são fatores essenciais para o desenvolvimento do país, especialmente em tempos de fragmentação política na Europa e no mundo. "Estabilidade, credibilidade e atratividade são mais-valias que devemos potenciar. Se não soubermos fazê-lo, podemos perdê-las, e só daremos valor depois"

Marques Mendes apontou a nova dissolução parlamentar e convocação de eleições antecipadas na Madeira - decisão saída do Conselho de Estado desta sexta-feira, em reunião na qual também participou - como um mau exemplo e elucidativo de como "a instabilidade compromete a credibilidade das instituições e dos agentes políticos".

"A estabilidade não é um bem absoluto, mas é um instrumento absolutamente indispensável no tempo que vivemos. Quando a perdemos, passamos a dar-lhe valor – mas muitas vezes já é tarde", acrescentou.

Mendes defendeu um esforço conjunto dos partidos políticos para construir "pontes de entendimento", reforçando que o diálogo e a convergência não são sinais de fraqueza, mas pilares da democracia. E destacou também o papel do Presidente da República como um "garante de soluções". "Eu já disse publicamente várias vezes, evidentemente, que um Presidente da República, seja ele qual for no futuro, tem que ser alguém que ajude a construir pontes de entendimento. Isto é essencial. Não pode ser um fator de instabilidade."

No plano económico, Marques Mendes destacou como "uma oportunidade sem precedentes" o volume inédito de investimento público previsto para 2025, fruto da convergência entre o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o quadro comunitário Portugal 2030. "Nós vamos ter investimento público, decorrente de fundos da União Europeia, de cerca de 10 mil milhões de euros só neste ano de 2025. Nunca aconteceu isto em Portugal. Este volume de investimento público é uma oportunidade importantíssima para o crescimento económico, o emprego e a modernização do país", disse.

Rui Frias

Europa vive crise "estrutural", alerta Marques Mendes

A União Europeia deve agir "com urgência e coesão" para enfrentar os "problemas estruturais que ameaçam o seu futuro", defende Marques Mendes, apontando a perda de competitividade, a fragmentação interna e a necessidade de maior investimento em defesa e segurança como os principais fatores de risco atuais para o projeto europeu.

Orador no painel "Portugal em 2025", que fechou a conferência de 160º aniversário do DN, na Fundação Gulbenkian, Marques Mendes classificou o momento atual da Europa como uma "anemia económica fortíssima", agravada pela falta de lideranças políticas robustas e pela perda de competitividade em relação aos Estados Unidos e à China.

O comentador político citou o relatório de Mario Draghi, político italiano ex-líder do Banco Central Europeu, que diagnostica uma urgência de investimento na economia europeia, e as palavras de Enrico Letta, ex-primeiro-ministro italiano, que alertou para o risco de a Europa se tornar irrelevante ao ponto de ficar como "uma colónia" de EUA ou China.

"A questão económica da Europa não é conjuntural, é estrutural. Estamos a perder terreno em inovação e crescimento económico, e se não houver mudanças significativas, a Europa corre o risco de irrelevância global", afirmou o antigo líder do PSD, cujo nome é apontado como provável candidato da área social-democrata às Presidenciais de 2026.

Para Marques Mendes, a Europa enfrenta três grandes desafios que devem ser abordados de forma integrada: conflitos comerciais, competitividade e inovação, e investimento em defesa.

Criticou a "voz frouxa" da Europa nas guerras comerciais que se avizinham com os Estados Unidos do recém-eleito Donald Trump e defendeu que a Europa deve estar preparada "tanto para o diálogo quanto para o confronto", caso necessário, para proteger os seus interesses económicos.

FOTO: Gerardo Santos

Mendes lamentou que o debate sobre a modernização económica da UE esteja "em segundo ou terceiro plano" e enfatizou que não há como sustentar o investimento em defesa, segurança e no estado social "sem um crescimento económico robusto". "Não discutir estas questões é um erro grave", sublinhou.

Com o aumento das tensões geopolíticas, Marques Mendes afirmou que o reforço do pilar europeu da NATO e o aumento dos gastos em defesa, que voltam a estar em cima da mesa, são inevitáveis.

Contudo, reconheceu os desafios orçamentais e financeiros que isso representa para alguns países, especialmente os do sul da Europa. "Será fácil convencer um polaco ou um finlandês da necessidade de mais investimento em defesa, mas é muito mais difícil no caso de um português ou de um espanhol".

"A Europa precisa de coesão e de instrumentos adequados para enfrentar esses desafios. Sem isso, corremos o risco de perder tudo", concluiu.

Rui Frias

Diário de Notícias
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