Sestas longas podem ser sinal de alarme para diabetes
Descansar depois do almoço é o desejado por uma maioria e a sesta até é prática recomendada por muitos médicos, mas também pode ser sinal de problemas na saúde. Enquanto alguns estudos revelam benefícios cognitivos num sono curto durante a tarde, outros apontam-no como negativo, podendo ser sinal de desenvolvimento da diabetes. Uma conclusão que faz parte de um estudo realizado por cientistas da Universidade de Tóquio e apresentado ontem no âmbito da 52.ª Reunião Anual da Associação Europeia do Estudo da Diabetes (EASD), que termina hoje em Munique, Alemanha.
A nova investigação teve como base estudos que envolveram mais de 300 mil pessoas. A pesquisa mostrou que havia ligação entre sestas de mais de uma hora durante o dia e 45% de aumento do risco da diabetes tipo 2, tendo as sestas curtas (menos de 60 minutos) - tão populares na vizinha Espanha - não se revelado uma ameaça, podendo mesmo aumentar o estado de alerta e habilidades motoras, apontaram os autores.
Os investigadores assumem que sestas alargadas podem provocar distúrbios de sono durante a noite, acarretando ainda o risco de ataques cardíacos, acidente vascular cerebral, problemas cardiovasculares e doenças metabólicas como a diabetes. A privação de sono, provocada pelo stress ou pelos próprios padrões de vida, pode conduzir a mais apetite, o que pode aumentar o risco de diabetes tipo 2. No entanto, também é possível que as pessoas menos saudáveis ou até mesmo diabéticos em estado inicial sejam mais propensos a querer dormir mais tempo ao longo do dia.
Sinal precoce do problema
Sestas prolongadas são associadas ao potencial aumento de açúcar no sangue, mas Naveed Sattar, professor de Medicina Metabólica na Universidade de Glasgow, avisou que não existem agora muitas evidências de algum tipo de ligação entre distúrbios do sono e diabetes. "É provável que os fatores de risco que provocam diabetes também possam provocar sono. Isso pode incluir ligeiramente altos níveis de açúcar, significando que dormir pode ser um sinal de alerta precoce de diabetes", explicou. Já o médico Benjamin de Cairns, da unidade de oncologia da Universidade de Oxford, aconselhou a tratar as descobertas com cautela. Isto porque, "em geral, não é possível tirar conclusões sobre a causa e o efeito com base em estudos observacionais isolados uma vez que, geralmente, eles não podem descartar explicações alternativas para os resultados".
Já num estudo anterior, feito na China e apresentado em 2013, os resultados foram semelhantes tendo como base 27 mil mulheres e homens chineses aposentados. Os indivíduos foram divididos por categorias consoante a duração das respetivas sestas (dos 0 aos 60 minutos), tendo 18 500 avisado que faziam uma pausa à tarde. Ajustados os dados a fatores como hábitos tabagísticos, o tempo de sono noturno, a prática de exercício físico ou não, verificou-se igualmente que aqueles que dormiram mais de uma hora durante a tarde "candidatavam-se" a pré-diabetes ou a diabetes. Quarenta por cento deles também tinham pressão arterial elevada, em comparação com apenas 33% dos que não dormiam, e 24% tinham níveis aumentados de colesterol, em comparação com 19% dos participantes que não descansavam à tarde ou o faziam por um tempo inferior a 30 minutos.
Em 2009, um grupo de cientistas já tinha adiantado ainda que, ao acordar de uma sesta, o organismo ativa hormónios que impedem a insulina de atuar com eficiência, podendo assim potenciar o tipo 2 da diabetes.