Sem procura interna não há economia da defesa, defendem especialistas
FOTO: Leonardo Negrão

Sem procura interna não há economia da defesa, defendem especialistas

Grande Conferência do Diário de Notícias sobre Defesa Nacional. Centralidade atlântica nas rotas comerciais e de segurança é apontada como uma das mais-valias de Portugal.
Publicado a
Atualizado a

São diversas as lições que Portugal precisa de aprender para o futuro no que respeita às necessidades da defesa e das Forças Armadas e a procura interna é uma delas, alerta Ricardo Conde, professor na Universidade de Coimbra e Presidente da Agência Espacial Portuguesa.

"As Forças Armadas têm de dar resposta às suas necessidades, construir uma resiliência industrial e colocar contratos na indústria. Os investimentos na Europa só fazem sentido com capital privado. É preciso colocar contratos e os estaleiros navais são um exemplo de como recapacitar a nossa indústria militar. Se não há procura interna não há economia da defesa, o sistema de procura tem de mudar.", defendeu esta terça-feira, 22.

O especialista, que falava na Grande Conferência do Diário de Notícias sobre Defesa Nacional, acredita que é imperativa uma mudança na estrutura das políticas para que a engrenagem económica sobreviva.

"Até os uniformes estão a ser comprados no estrangeiro. Há, de facto, algo profundamente errado neste processo, não concordam? Temos de refletir e isso é política. E a política tem de dar resposta, também, à procura", vincou.

Já sobre as vantagens competitivas do país, Ricardo Conde não hesitou em apontar a "a centralidade atlântica nas rotas comerciais e de segurança" como uma mais-valia para Portugal. "E está ao nosso alcance, combinar a parte aérea e naval - com pouco investimento traz ganhos de eficiência gigantes", assegurou.

"Há um conjunto de tecnologias emergentes completamente imprevisíveis"

No que respeita à cibersegurança, André Baptista, co-fundador da startup Ethiack partilhou a sua inquietação sobre as eventuais consequências, ainda desconhecidas, da rápida evolução da tecnologia e da informação.

"Há um conjunto de tecnologias emergentes completamente imprevisíveis. Não consigo perceber em que direção estamos a ir, há muitos caminhos que estão a ser revertidos, há muita tecnologia que está a surgir. O fluxo crescente de informação é um tema que me preocupa muito", firmou.

O representante da empresa portuguesa de "hackers éticos", que falava no painel sobre as oportunidades e ameaças da defesa nacional, acredita que o caminho para por "contribuir para o ciberespaço" e pela capacitação da ''ciberdefesa''.

"O departamento de defesa dos Estados Unidos convidaram hackers para entrar nos sistemas e testar a sua vulnerabilidade. Há muitos talentos que podem ajudar a aumentar a resiliência das forças de segurança", exemplificou.

"É possível identificar as vulnerabilidades nas próprias infraestruturas das Forças Armadas, a nível europeu e até da NATO e anteciparmo-nos aos atacantes, é tecnologia acessível e escalável", sugere ainda.

Formação de militares é desafio

Já para o professor catedrático da Academia Militar, José Fontes, a formação apresenta-se como um dos maiores desafios . "O grande desafio para os líderes militares é a formação para os três 'is': imprevisibilidade, instabilidade e incerteza. Se é um exercício para uma universidade civil também é para a militar; formar num quadro incerto em que vivemos", referiu.

A robustez na formação académica e científica são as armas indispensáveis neste quadro de ensino peculiar. "Não podemos esquecer o principio da coesão e da coerência. Há uma dimensão comportamental e ética que têm de estar em cima da mesa. É preciso ir adaptando os currículos ao momento: foram introduzidas muitas (disciplinas) novas ao longo do ano. Temos de encontrar forma e espaço para enquadrar novas cadeiras e novos temas", enquadra.

José Fontes elogia ainda a colaboração de um corpo docente militar e civil nas academias do país. "Vejo uma grande vantagem nesta conciliação e no facto de os militares que já estiveram em unidades de operações possam vir aos jovens cadetes com outro ensino e dinâmica", prosseguiu.

"O tema mais importante do século XXI é a segurança e isso exige que o ensino civil cuide também da cultura de segurança. É muito importante e é essencial", rematou.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt