A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social garante que não sente como críticas a pressão feita por Marcelo Rebelo de Sousa para que o Governo apresente a estratégia para os sem-abrigo, mas o certo é que, um dia depois de o Presidente da República ter insistido nesse tema, numa participação no podcast “Expresso da Manhã”, foram por fim divulgados os números relativos a 2023, revelando um aumento exponencial do fenómeno: num ano, aumentaram cerca de 22% as pessoas em situação de sem-abrigo, ultrapassando a barreira dos 13 mil. .No total, o Inquérito de Caracterização das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo para o ano de 2023, da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA), identificou 13.128 pessoas na condição de sem-abrigo, 7.705 das quais viviam na situação de sem-teto, enquanto as restantes 5.423 não tinham casa. Ora, isso significa um aumento de 2355 em relação a 2022, quando tinham sido assinaladas 10.773 pessoas sem-abrigo. No espaço dos últimos cinco anos, o número duplicou: em 2018 eram 6044..Na segunda-feira, no podcast do jornalista Paulo Baldaia no Expresso, Marcelo Rebelo de Sousa insistia que “é preciso divulgar o inquérito de caracterização das pessoas em situação de sem-abrigo, para sabermos quem são”, acrescentando que “precisamos de saber qual é a estratégia do Governo” e mostrando-se preocupado com a evolução do fenómeno que abraçou como uma das suas principais causas desde que ocupa a cadeira presidencial em Belém. Marcelo avisava: “Se houver outra vez em 2024 um aumento em Lisboa e Porto na ordem dos 20%, o assunto não pode ser tratado com indiferença pelas populações e pelo Estado, local e central”..Esta terça, na inauguração de um centro de acolhimento temporário em Lisboa (ver foto), a ministra Maria do Rosário Palma Ramalho defendeu o trabalho já feito pelo Governo da AD nesta área e prometeu que Marcelo Rebelo de Sousa conhecerá em breve a nova estratégia nacional para a integração de pessoas sem-abrigo para o período 2025-30. .Inauguração de centro de acolhimento temporário para sem-abrigo em Lisboa:A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Palma Ramalho (E), acompanhada pelo presidente da Camera de Lisboa, Carlos Moedas (D) e pelo provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Paulo Sousa (C).Rodrigo Antunes / Lusa.“Não vejo as referências do senhor Presidente da República como nenhuma crítica pela razão simples de que o Governo tomou posse no dia 2 de abril e foi iniciado imediatamente o levantamento da situação”, disse a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, realçando que o Governo “não legisla de forma imprudente, só legisla com base naquilo que é o levantamento das situações”. “Julgo que mais rápido não poderíamos ir sem sermos imprudentes”, defendeu a governante, revelando que o documento com a nova estratégia já se encontra em circuito legislativo e brevemente será aprovado em Conselho de Ministros..Problema é maior em Lisboa e no Alentejo.Dos dados divulgados pela ENIPSSA, relativos a 2023, Lisboa foi o concelho que registou mais pessoas na condição de sem-abrigo (3.378), seguido de Beja, Porto (597 cada) e Moura (559). No índice de pessoas em situação de sem-abrigo por cada mil residentes, o top-5 é todo ocupado por concelhos alentejanos: Monforte (85,94), Mourão (68,89), Moura (41,97), Vidigueira (22,76) e Beja (17,64)..A maior parte das pessoas em situação de sem-abrigo são homens entre os 45 e os 64 anos (72%). Também foram identificados 1.540 casais, dos quais 1.198 sem-teto e 342 sem casa. .O desemprego ou precariedade no trabalho (3.290), a dependência de álcool ou de substâncias psicoativas (2.983) e a ausência de suporte familiar (2.926) são principais causas apontadas pelas pessoas nesta situação. .No ano passado foram sinalizadas 987 pessoas que deixaram a situação de sem-abrigo e obtiveram uma habitação permanente, das quais 347 da região Norte e 310 na Área Metropolitana de Lisboa..559 sem-teto.É num concelho alentejano que se regista maior número de pessoas a dormir na rua: Moura, mais do que em Lisboa (548)..64% de portugueses.Prevalece a naturalidade portuguesa entre os sem-abrigo. Em 12% dos casos registados a naturalidade é desconhecida.