Seis obstetras do Santa Maria pediram a demissão

Ex-diretora do serviço diz que o hospital "parece não querer" os médicos. Bloco de Esquerda pede audição parlamentar.
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Seis médicos do serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, apresentaram a demissão, incluindo a ex-diretora de obstetrícia, Luísa Pinto, que fala em condições de insegurança e acusa a administração de falta de respeito.

A notícia foi avançada pelo semanário Expresso e confirmada à Lusa por Luísa Pinto, que apresentou a sua demissão esta terça-feira de manhã, na sequência de um acumular de situações que, no seu entender, colocam em causa as condições de segurança do serviço de Obstetrícia e Ginecologia.

"Aquilo que me prendia, deixou de existir. O nosso hospital parece não nos querer aqui", afirmou Luísa Pinta, acrescentando que, apesar de se preocupar com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), "se não nos querem, é melhor sairmos com dignidade".

Segundo explicou à Lusa, a sua decisão e de outros cinco colegas está relacionada com o plano da Direção Executiva do SNS para a resposta de Obstetrícia e Ginecologia, que previa que, enquanto o bloco de partos do hospital de Santa Maria estivesse fechado para obras - entre os meses de agosto e março do próximo ano - os serviços ficassem concentrados no Hospital S. Francisco Xavier.

O plano foi questionado por vários profissionais, incluindo o diretor de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Diogo Ayres de Campos, e Luísa Pinto, na altura diretora do serviço de Obstetrícia, que acabaram por ser exonerados.

"Foi colocada outra pessoa à frente do departamento e, a partir daí, deixamos de ter a organização que tínhamos. Começamos a viver com escalas de urgência que saem com três ou quatro dias de antecedência e com equipas que, a nosso ver, não são seguras", explicou Luísa Pinto.

"A certa altura, já se tinham demitido cinco pessoas", acrescentou, sublinhando que, no seu caso, a "gota de água" foi um pormenor que entendeu como uma falta de respeito da administração: "Quando regressei de férias, o acesso ao parque (de estacionamento) tinha-me sido negado".

"O SNS está a afundar a pique e não sei como é que se pretende manter o SNS quando, existindo um serviço que trabalha a um nível de excelência, do ponto de vista clínico, académico, de investigação, se faz isto a uma equipa", lamentou.

Contactado pela agência Lusa, uma fonte do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), que integra o hospital de Santa Maria, confirmou que houve pedidos de rescisão, mas não confirmou o número de obstetras que tomaram esta decisão.

"Não confirmamos o número e não comentamos aquilo que são decisões individuais dos profissionais", disse a mesma fonte, sublinhando que o centro hospitalar mantém a confiança nas equipas que estão no terreno.

O BE quer esclarecimentos urgentes sobre a demissão de seis obstetras do Hospital de Santa Maria e, para isso, pediu esta terça-feira audições no Parlamento desses médicos, do ministro da Saúde e do conselho de administração da unidade hospitalar.

Segundo o requerimento do BE no qual são pedidas estas audições urgentes na comissão parlamentar de saúde, a "situação no serviço de obstetrícia do Hospital de Santa Maria (CHULN) estava a degradar-se há várias semanas".

"Para isso contribuiu o anúncio do encerramento da maternidade que não foi nem comunicado nem combinado com as equipas, a demissão de profissionais por parte do Conselho de Administração por divergência de opinião, as falsas acusações de baixa de 'produtividade' às equipas que tantas vezes faziam 500 ou 600 horas extraordinárias para garantir o pleno funcionamento dos serviços, a deslocação forçada destes profissionais para outro hospital ou a deterioração das condições assistenciais", referem os bloquistas.

O BE recordou ainda que, perante esta situação, o BE "requereu a audição de entidades, interpelou o Ministério, apelou a que o PS e o Governo tivessem bom senso e abandonassem o caminho de destruição em que estavam apostados".

"Tudo em vão. Pelos vistos as exonerações arbitrárias, a destruição da equipa, o encerramento da maternidade, a deterioração dos cuidados assistenciais, o achincalhamento dos profissionais de saúde, tudo isso não era um acaso. Era propositado. Um plano a executar, secundado pelo Governo, ao mesmo tempo que se abria o SNS às maternidades privadas e se transferiam para elas mais e mais partos", acusou o partido no requerimento assinado pela ainda deputada Catarina Martins.

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