Nos últimos anos a Philip Morris International (PMI) alterou por completo a sua estratégia, assumindo, em 2016, a sua contribuição para um mundo sem fumo - diga-se sem tabaco. Para o conseguir a empresa investiu, na última década, cerca de 9 mil milhões de euros em I&D na busca por produtos alternativos. Porque se é certo que se o ideal é conseguir que (muitas) pessoas deixem de fumar, também é verdade que haverá uma percentagem que não o conseguirá fazer..Numa entrevista exclusiva ao DN, Grégoire Verdeaux, vice-presidente da Philip Morris International para os Assuntos Institucionais, revelou a sua opinião sobre a possibilidade de um mundo totalmente livre de cigarros. Na opinião do executivo isso só ainda não aconteceu por falta de vontade política. E lembrou que o tabaco é uma das (boas) fontes de rendimentos dos Estados. Face a isto a empresa aposta em encontrar as melhores alternativas para quem, efetivamente, não consegue desistir de fumar. Produtos livres de fumo - que não precisam do processo de combustão, que é efetivamente o que faz mal à saúde..Por outro lado, há a questão da segurança. "Sempre que há muitas restrições o negócio vai imediatamente para o mercado negro", constata Grégoire Verdeaux, que acrescenta que se os governos assim o quisessem, tecnicamente, dependendo do nível de fumadores de cada país, com uma estratégia determinada, é possível acabar com os cigarros. Na maioria dos países num alcance temporal de 15 a 20 anos..Os números mostram que esta foi uma estratégia vencedora. Um segmento que, quando nasceu, em 2015, representava 0,2% do negócio da empresa, vale hoje mais de 30%. E o objetivo é que daqui a dois anos, em 2025, represente a maior fatia do negócio - diga-se mais de 50% da faturação. "O futuro da nossa indústria, sem qualquer dúvida, será fora dos cigarros", afirma Grégoire Verdeaux, referindo ser essa a mensagem que a empresa quer transmitir. A de que será melhor para a sociedade acabar com os cigarros no mercado..Mas a opção pelas alternativas sem combustão não é a única mudança verificada no negócio da PMI. No último ano, por exemplo, a empresa investiu centenas de milhões de euros na aquisição das farmacêuticas Vectura, Fertin Pharma e Otitopic, onde tem adquirido experiência na área da inalação e da aerossolização. O objetivo é o de, no futuro, conseguir colocar estas competências ao serviço de outras necessidades médicas. O propósito da empresa, revela o vice-presidente da Philip Morris International para os Assuntos Institucionais, é o de colocar no mercado produtos que contribuam para o bem-estar das pessoas, não necessariamente ligados à nicotina. O executivo acrescentou ainda que estão à procura de novas aplicações para a inalação. Perceber quais os benefícios da inalação em problemas como, por exemplo, as enxaquecas. E embora a empresa tenha colocado como objetivo para 2025 o conseguir mil milhões de dólares, o objetivo principal, atualmente, é o de acabar com os cigarros, em parceria com os governos. Algo que inclui programas de prevenção e a apresentação de melhores alternativas..Em 1997 a Tabaqueira foi privatizada, tendo sido adquirida pela PMI. Desde essa data a empresa já investiu cerca de 380 milhões de euros, em grande medida no aumento da competitividade e da eficiência da operação. E os resultados não se fizeram esperar. Se há 25 anos, a Tabaqueira apenas exportava 6% da sua produção, hoje o valor ascende a 86%, maioritariamente para Espanha e França. Feitas as contas a Tabaqueira passou de 685 milhões de euros de faturação em 2021 para 719 milhões no ano passado.."Não há qualquer dúvida sobre a solidez do nosso investimento em Portugal", aponta Grégoire Verdeaux, que acrescenta que o sucesso da Tabqueira reside na exportação de cigarros. Sendo que o futuro da empresa está num mundo sem tabaco. "Tecnicamente Portugal tem tudo para se tornar um país livre de fumo". Então o que vai acontecer ao negócio da Tabaqueira. Sobre isso a resposta de Grégoire Verdeaux é muita clara. A empresa está a contactar os países onde têm uma boa pegada de carbono - e Portugal é um deles - no sentido de perceber se é possível fazer uma parceria com os governos no sentido de avançar para a próxima fase. "Portugal já levou a cabo um conjunto de passos que o pode tornar um líder sem fumo", ou seja "um país que tem uma determinação firme em acabar com os cigarros, não através da proibição, mas através de iniciativas centradas no consumidor"..A par disso a PMI escolheu o mercado português para acolher alguns dos seus principais centros de excelência, que prestam serviços globais, aos mercados onde o grupo está presente. Com especial destaque para o LEAF (que suporta as boas práticas do grupo em mais de uma dezena de países, na Europa, Médio-Oriente e África, apoiando milhares de produtores de tabaco) e o IT Hub (que desenvolve aplicações de software que dão suporte a várias áreas do grupo - incluindo toda a cadeia de produto comercialização e criação de valor e que passam, por exemplo, por apps de agricultura de precisão a aplicações para a área e-commerce). Segundo a empresa os centros já empregam 180 pessoas, com tendência a aumentar. Um outro dado interessante e que mostra que apesar de, aparentemente, o negócio da Tabaqueira não se adequar à visão de futuro que tem a PMI, o certo é que, nos últimos quatro anos, já criou mais de três centenas de postos de trabalho, a maior parte deles direcionado para estes centros de excelência globais que operam a partir de Sintra..dnot@dn.pt