Sarampo regressa em força à Europa, mas Portugal só tem um caso em 2025
Quando se fala em sarampo, os alarmes soam de imediato em todas as autoridades de saúde, já que por definição “é uma doença altamente contagiosa e grave, causada por um vírus que pode levar a complicações graves e à morte”. Aliás, foi a morte de uma criança na cidade de Lubbock, no Texas, Estados Unidos da América, na semana passada, que fez soar de novo os alarmes a nível mundial. Foi a primeira morte numa década e quando os EUA já tinham notificados 124 casos em 2025. Mas, nesta sexta-feira, o país anunciou a segunda morte e 130 casos.
Na Europa, os casos também estão a disparar nalguns países, nomeadamente na vizinha Espanha, em que as autoridades nacionais confirmaram na semana passada terem notificado 107 desde o início do ano, “um número preocupante”, segundo revelava o jornal El País. Em 2024, este país tinha registado 217.
Mas não é o único. De acordo com os dados do Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, sigla inglesa), até ao início de fevereiro de 2025, a Áustria já tinha relatado 47 casos, a Irlanda 29, a Alemanha e a Holanda 26, a República Checa 6, a Finlândia e a Lituânia 1.
Portugal é dos países que também só tem um caso. “Trata-se de um caso importado, com origem da infeção identificada noutro país europeu e até à presente data não foram identificados casos secundários ou novos confirmados de sarampo”, explicou a DGS na resposta envida ao DN, sublinhando que tal se deve “à elevada cobertura vacinal, o que diminui a probabilidade de surtos de grande dimensão”.
Em 2022 e 2023, o país não registou qualquer caso, mas em 2024 houve um novo surto, 35 casos. O mesmo aconteceu em 2017, mas este surto terminou com a morte de uma jovem de 17 anos que não estava vacinada.
Segundo a DGS, até agora, os casos notificados em Portugal têm tido origem importada, a contaminação acontece noutros países, ou em casos associados a estes, - ou seja, pessoas contaminadas por contacto com infetados noutros países.
O vírus do sarampo foi considerado eliminado em Portugal em 2015 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Até agora, têm existido surtos de pequena dimensão, mas a DGS salvaguarda que “a introdução de novos casos pode acontecer, e promover a disseminação em comunidades cuja cobertura vacinal não seja tão elevada”, no entanto, “não são esperados surtos de grande dimensão”.
Europa passou de 100 mil para mais de 300 mil casos
O regresso em força da doença à Europa multiplicou os alertas da Organização Mundial da Saúde e do ECDC nos últimos tempos. O último alerta da OMS foi em novembro de 2024, onde era referido que, na Europa, os casos de sarampo tinham aumentado em cerca de 200% relativamente ao ano anterior.
De cerca de 100 mil casos a região passou para mais de 300 mil. Mas, a nível mundial, foram registados 10,3 milhões de casos. Dados do ECDC revelam que 30 Estados da União Europeia e do Espaço Económico Europeu notificaram um total de mais de 18 000 casos de sarampo entre setembro de 2023 e agosto de 2024. A Roménia é o país com maior número de casos de sarampo na UE, com mais de 14 000 notificados durante este período.
Mesmo assim, a região europeia, que inclui partes da Ásia Central, perante outras regiões do mundo, é das que regista menor número de casos. África é o continente com o maior número de casos (4,8 milhões no período de 2023 a 2024) e aquele que registou quase metade de todos os "surtos grandes e perturbadores", diz a OMS.
O Sudeste Asiático registou o segundo maior número de casos de sarampo, com uma estimativa de 2,9 milhões de casos, depois seguem-se as Américas, sobretudo os países do Sul.
Vacinação insuficiente aumenta número de casos
No que toca à Europa, a OMS considera que este “aumento de casos alarmante" está associado “à estagnação da cobertura vacinal” pós pandemia covid-19, devido ao crescimento dos movimentos anti-vacinas. Uma situação que a Direção-Geral da Saúde diz não se verificar em Portugal. “Esses movimentos existem e têm ganhado mais expressão na Europa e nos EUA. No entanto, em Portugal a sua existência não tem reflexo nas coberturas vacinais de forma significativa”.
Neste momento, a DGS confirma que a vacinação contra o sarampo continua a ter “uma adesão elevada em Portugal, sendo um dos principais fatores para a eliminação da doença e para a prevenção de surtos”.
A prová-lo está o relatório síntese anual da vacinação de 2024, que revela que “a cobertura vacinal da 1ª dose da vacina contra o sarampo, a parotidite epidémica e a rubéola (VASPR), nas crianças que completaram os 2 anos de idade foi de 98% (coorte de 2021) e a 2ª dose desta vacina atingiu os 95% na coorte de 2017, e ultrapassou esta meta na coorte de 2016 (96%)”.
No entanto, reforça a DGS, “a proteção da população depende da manutenção das elevadas taxas de vacinação”. A autoridade de Saúde relembra ainda que o quadro inicial do sarampo apresenta “febre alta, tosse, rinite e/ ou conjuntivite, surgindo alguns dias depois uma erupção cutânea característica, que se espalha pelo corpo”. E embora a maioria dos casos “evolua sem complicações, a doença pode causar problemas graves, como pneumonia, encefalite e mesmo a morte, muito mais frequentes em pessoas não vacinadas”. Recordando que “perante qualquer suspeita de sarampo, a pessoa deve contactar a linha SNS24 (808 24 24 24)”.