Rui Valério: “O faminto, o nu, o estrangeiro podem contar comigo”
“Sempre que duas pessoas se encontram, há um enriquecimento. Esse encontro oferece riqueza cultural e espiritual. Vivido por um irmão brasileiro, o cristianismo - o mesmo Cristo, o mesmo Deus -, ganha um sentido de alegria e de festa. Um irmão da América Latina traz a aventura especifica no compromisso social. Um cristão da Índia aporta um sentido profundo na contemplação. Um cristão português oferece Nossa Senhora. E isto é maravilhoso”, diz ao DN Rui Valério, recordando a interpelação recente de Robert Prevost, ainda Prefeito do Dicastério para o Bispos, aos eclesiásticos portugueses - “que está a vossa Igreja a fazer pelos migrantes", preocupação central do agora papa Leão XIV.
“A realidade tem sido enriquecida com este multiculturalismo. Temos paróquias em que a maioria dos praticantes não são de origem portuguesa", refere o patriarca de Lisboa. Como responde a igreja portuguesa, em relação aos migrantes? Rui Valério Não hesita. “Com Mateus, 25: ao faminto, comida; ao que não tinha que vestir, roupa; ao estrangeiro, acolhimento”.
De resto, foi esta a “Palavra” transmitida pelo patriarca de Lisboa no convívio de Páscoa para as pessoas em situação de sem-abrigo, que decorreu na Praça do Martim Moniz ao final da tarde de sábado, dia 24 de maio, e reuniu diversos convidados. “Somos iguais quando fazemos o bem ao outro”, garantiu Rui Valério. “A Palavra fala-nos de quem está pobre, de quem não tem que comer, de quem está sozinho, de quem está doente, de quem é estrangeiro. No entanto, todas estas pessoas diferentes receberam algo importante: o que precisavam. O faminto, comida; o que não tinha que vestir, roupa; o estrangeiro, foi acolhido. Este nosso jantar serve para dizer isto: somos todos diferentes, mas como podemos estar juntos e ser iguais? Quando começo a fazer o bem ao outro. Isto é uma responsabilidade e missão de todos. Portanto, todos nós podemos trabalhar para sermos um só, para sermos iguais, para estarmos unidos. Todos diferentes, todos iguais”, disse o patriarca.
Olhar um a um no ano jubilar da Esperança
No lado sul da Praça do Martim Moniz, foram muitos os que apareceram para o convívio pascal, promovido pela Comunidade Vida e Paz, em conjunto com o GMASA (Grupo do Milharado de Apoio aos Sem Abrigo) e com o Grupo de Apoio aos Sem Abrigo da antiga paróquia de Rui Valério (Póvoa de Santo Adrião), com início pelas 19h00. Mesa a mesa, o Patriarca foi perguntando, um a um, nome, origem, dedicando a cada pessoa uma especial atenção.
“Foi muito belo”, refere ao DN Rui Valério, o encontro com os sem abrigo da cidade, muitos deles migrantes.
“Portugueses, marroquinos, guineenses, ganeses, uma família paquistanesa”, conta o patriarca ao DN, salientando três momentos: “primeiro, o acolhimento, traduzido em momentos de desabafo. Depois, a celebração da Palavra com a leitura de Mateus 25, mostrando que na diferença de cada um se constrói a unidade. O terceiro momento foi um jantar, servido à mesa. E foi à volta da mesa que encontrámos o que nos une”, referiu ao DN.
Por fim, Lisboa. “Lembrei a beleza da cidade. Mais bela ainda se nós, aos outros, fizermos por o outro ser igual, dando-lhe o que precisa”. Nesse sentido, lançou um repto, deu uma certeza: “Disse que conto com eles e que eles podem contar comigo”. Por fim, o convite. “Uma visita à Igreja de Nossa Senhora da Saúde, situada na praça. Essa capela tem uma Senhora que é Mãe”.